Claire acordou com o barulho dos músicos que estavam
ensaiando muito cedo no pátio do castelo. Tinha dormido muito bem e se
recuperou logo após três dias de intensos preparativos e celebrações que
antecederam o casamento. Ainda estava na cama quando lembrou de todas as coisas
que aconteceram durante esses longos meses de noivado. O ingresso na
Universidade, sem dúvidas foi um sonho feiro realidade. Na Sorbonne, Claire
Dupont era tida como uma aluna exemplar e isso deixava o pai, Gerard, muito
orgulhoso. A estudante aprendia com muita facilidade. Já podia se dizer que
dominava o francês apesar de ainda ter um sotaque suave e brasileiro, algo que
aumentava ainda mais o seu charme. Na perfumaria, agora chamada de Brigny & Dupont, as vendas e os
pedidos tinham aumentado e ela trabalhou muito durante todo o outono e
especialmente no natal. O natal tinha sido muito especial porque todos passaram
no apartamento de Claire, inclusive o pai de Paul, o doutor Jean du Clermont,
os Maintreaux e Margarete. O ano novo, pela segunda vez, Claire e o pai foram
passar no Château Royat, em Clermont-Ferrand.
A primavera tinha chegado muito depressa, o inverno passou e
o mês de maio, especialmente escolhido por Claire para o casamento chegou sem
que ela percebesse. Paul e Jean recebeu Claire, Gerard, Joan e o pai e
Margarete na pequena estação três dias antes do grande dia. Assim que chegaram
ao ChÂteau, começaram as celebrações. Um jantar à luz de velas para cem
convidados sentados no salão principal foi o primeiro evento pré-nupcial. Durante
o brinde, Gerard Dupont, muito feliz, tinha desejado felicidades e sucesso ao
casal.
No dia seguinte, Margarete ofereceu seu presente de bodas a
Claire. Um colar de rubi que pertenceu a sua bisavó e que datava de 1840.
Claire quase perdeu o fôlego quando abriu o estojo de veludo vermelho com a
inicial “B” em letra dourada. A
noiva não resistiu às lagrimas e ao abraço maternal de Margarete. Se havia uma
pessoa que estava tão feliz quanto a noiva esse dia, era Margarete Brigny.
Claire era a menina dos seus olhos e uma grande parceira nos negócios que iam
de vento em popa. Os pedidos da perfumaria cresciam a passos gigantes e Paul
chegou a dar a ideia de que elas tinham que ter um local maior para cobrir a
demanda.
E nesse dia teve lugar o desdejum de bodas para um reduzido
grupo de trinta pessoas entre eles algumas autoridades da cidade como o próprio
prefeito de Clermont-Ferrand. Na noite anterior, outro jantar para os amigos
íntimos encerraram as celebrações previas ao casamento.
Naquela manhã de primavera, Claire lavou o rosto e mirou-se
no espelho. Ainda não completara vinte anos, uma idade ideal para se casar
quando se encontra um homem ideal. Paul era, sem dúvidas, esse homem. Ele
decidira, meses antes do casamento se mudar a Paris porque acreditava no
trabalho e no estudo de sua futura esposa.
Margarete e Joan entraram no quarto para ajudá-la com o
vestido. A casa DIOR tinha dado o vestido de presente. No meio de tanto tecido,
cetim e renda francesa, Claire olhou no espelho e viu que estava radiante. Sem
dúvidas, a menina de Moxotó tinha chegado muito longe.
Um futuro membro da aristocracia rural francesa tinha que ir
até a Catedral em carruagem com cavalos, como nos contos de fadas. A noiva
cumprimentava os transeuntes que paravam para saudar a futura esposa de um
Clermont.
Claire, mais bela que nunca, entrou na Catedral com o pai ao
som do órgão de tubo. Tinha nas mãos um buquê de Muguet, dado pelo Paul de
presente no dia anterior. O noivo a esperava ao pé do altar ao lado do pai e
numa cerimônia solene e muito emotiva, uma hora depois, Claire transformou-se
na nova Madame Paul du Clermont.
Logo depois, o almoço de bodas no Château Royat e a tarde os
novos esposos foram para a estação para uma viagem de lua de mel de três
semanas na Itália.
Em Roma, em Florença e em Veneza, Paul mostrou a Claire toda
a beleza da arte renascentista. Claire ficou fascinada pelo que viu e apreciou
toda a beleza da arte universal. De mãos dadas pelas ruelas de Roma, ou num
restaurante bem charmoso a beira do rio Arno em Florença, ou numa gôndola em
Veneza, Claire e Paul passaram uma romântica e maravilhosa viagem de lua de
mel. Claire nunca se sentiu tão feliz ao lado do seu novo marido e Paul que
prometera fazer de tudo para que ela seja feliz, tinha conseguido, ao parecer.
O passado tinha ficado para trás, o presente era maravilhoso
e o futuro era promissor. Depois de voltar a Paris, o casal instalou-se na sua
nova residência, um charmoso e amplo palacete na Avenida Foch, perto dos Campos
Elíseos. Ali, Claire não era só a “Madame” da casa, era também uma Clermont, e
então, um nome influente na alta sociedade que a recebeu com muito respeito e
apreço. Logo, a jovem Madame Du Clermont não só foi reconhecida pela sua
posição social, mas também pela sua inteligência e seu empreendedorismo no ramo
da perfumaria.
Num final de semana de verão em Royat, Claire achou o velho
caderno de receitas de ervas tropicais que escrevera durante sua estada na
tribo, sob os conselhos do Pajé Jabu, e folhando a quantidade incrível de
espécies tropicais, teve uma ideia que compartilhou com Paul.
- Olha querido, achei este caderno de receitas que trouxe do
Brasil, nela tem uma quantidade incrível de ervas tropicais, de repente, posso
fazer o mesmo com as ervas europeias e produzir cremes de beleza, o que acha?
- Uma ideia fantástica “cherrie”,
acho que é brilhante.
- Na faculdade vou pesquisar mais e ver o que posso fazer.
E assim, ao começar o ano letivo, Claire passou horas pesquisando
na Universidade todo tipo de ervas. O fato de ser estudante de Botânica lhe deu
acesso a muitos materiais didáticos e pedagógicos e também contou com
orientações de alguns professores que achavam a ideia genial.