sexta-feira, 5 de agosto de 2016

LIVROS (Crônica)

O cheiro é inesquecível. Cheiro de livros novos, cheiro de livros à espreita, prontos para me atacar. Na livraria, uma música suave, muita gente nas gôndolas, olhando, folhando, vivendo.
Os livros estão ali, me olhando. Passo os dedos sobre as capas luminosas de mistério e de vida. Fecho os olhos. Vivo o momento. Abro um livro de poesia. Ali esta o verdadeiro amago da alma de um escritor, seu próprio pensamento, seu verbo, sua visão de mundo.
Passo meu olhar sobre o estante de literatura estrangeira. Apareceram Borges, García Márquez,  Julio Cortázar, Neruda, Vargas Llosa. Todos me convidam para ler suas obras magnificas da minha língua materna, num profundo frenesi de paixão e ansiedade. Seguem meus dedos tocando a prosa brasileira. Clarice Lispector!
Não posso me esconder da Clarice. Ela sempre me encontra, e nos momentos de grande ebulição mental. Eis que abro “Agua Viva”, onde a vida é viva, onde  a mente divaga por fantasias etéreas. Clarice me devolve a vida, depois de empurra-la para  o fundo misterioso da minha alma. Sou preso de uma vontade indizível de continuar, prestes a explodir. Clarice é um prazeroso perigo para minha mente, precursor dos meus pensamentos.
Seria muito mais simples, passar pela vida sentindo que um livro é apenas um livro. Mas não, a agonia dos meus pensamentos fincou seus pés inertes nas letras e nas folhas dos livros. É um sacrifício, um sofrimento, mas também um prazeroso renascer da minha própria vida.

Demorei um pouco para perceber que hoje é o primeiro dia de agosto e é segunda-feira. Muitos odeiam as segundas-feiras. Eu não sei. É um d que ainda preciso decifra-lo.


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