domingo, 5 de julho de 2015

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.VII PARTE X)

O Tratado de Botânica Francesa foi o melhor livro que Claire já tinha lido e apreciado. Durante a viagem de volta, Gerard percebia que sua filha não desgrudava um só instante do livro. Era evidente que os dias que passaram em Château Royat com os Clermont foram muito importantes para tira-la dessa atmosfera de tristeza e trabalho em que ela tinha se submetido. Mas, a amizade com Paul era mais importante ainda. Gerard sempre almejou, no fundo do seu subconsciente que ele se entendera com sua filha. Não existia nada mais adequado que Claire e Paul fizeram uma amizade, e se Deus permitisse, que essa amizade se transformasse em namoro. Isso era o sonho da vida de Gerard. Por outro lado, ele já percebera que sua filha era boa naquilo em que trabalhava, e que certamente seria um êxito na área de perfumaria, já que tinha um olfato excelente e um tino comercial oculto. Madame Brigny era uma influência muito apreciada nesse campo, e ele sentia-se tranquilo sobre o futuro da filha. Era evidente que tinha muito o que aprender, mas parecia que os traumas do passado estavam esquecidos e que, por fim, Claire estava preparada para enfrentar o seu destino.
O mês de fevereiro tinha sido uns dos mais frios do século. Muitos trens pararam e nas estradas do interior do país, a neve acumulada impedia o transporte de carros e ônibus. A energia teve que ser dobrada para o aquecimento, e os transeuntes nas cidades, corriam para se abrigar em cafés, restaurantes, ou nas casas. Muitos mendigos de Paris morreram congelados e a Prefeitura tinha trabalho dobrado colocando sal nas ruas para derreter a neve.
No meio de todo esse ambiente polar, uma mulher jovem, enfrascada em descobrir uma nova essência, passava as noites em claro na sala aquecida da casa, lendo e relendo o tradado de Botânica que lhe dera Paul du Clermont , e o seu caderno de receitas da tribu Tuxá.
“Porção de Canela, essência leve de Muguet com calêndula, levemente adocicado com alguma fruta tropical, como manga ou, talvez limão, para dar um frescor”
Assim, seguia anotando e imaginando uma nova essência, algo que lhe lembrasse os trópicos, a selva brasileira, a correnteza do rio, com a leveza dos bosques franceses. Desde que fora estimulada por Madame Brigny para dedicar-se a escrever uma formula e a experimenta-la, Claire Dupont não descansava até chegar na nova essência. A primeira, “L’Essence D’Assise”, tinha o frescor das arvores e da madeira francesa com um cheiro de rosas que ela tinha visto em Saint Assise. Esta devia ser diferente. Esta devia ter algo especial, algo que explicasse o que ela estava passando neste momento. O amargor e a tristeza pela morte do amado, a tranquilidade que a presença de Paul dava à sua vida, a companhia de Madame Brigny, tudo, tudo isso, conjugado em uma só essência.
Dia após dia, a moça trabalhava com afinco. A rotina era a de sempre. Aulas de manhã, a tarde trabalhava no laboratório da loja de Margarete Brigny, sempre acompanhada de Joan, e a noite, após as tarefas da escola, dedicava-se exclusivamente a criação.
Os meses foram passando, o inverno passou e chegou a primavera. Como se emergisse de um profundo pesadelo, Claire desabrochou como uma Muguet do campo. O convite de Paul para voltar a Royat estava em pé, e ela decidiu ir no finais de abril.
Mas, uma semana antes de viajar à Clermont-Ferrand, conseguira, por fim, descobrir a essência certa que procurava. Todos estavam eufóricos, especialmente Madame Brigny, pois a primeira essência de Saint Assise já era um sucesso e Margarete fora contratada pela Maison Dior para desenvolver outra para o próximo verão. Pois bem, numa morna noite de abril, na casa de Claire, todos se reuniram para celebrar o novo produto.
- Bem, entendo que hoje devo dar o nome para esta nova essência, pensei muito nele, porque é uma mistura de sentimentos encontrados e desencontrados, de memorias tristes, fortes e serenas ao mesmo tempo – disse Claire- e de tudo o que elas me provocam e evocam na mente e no coração, optei pelo nome “NOSTALGIE”, o que acham?
- C’est magnifique! – disse Margarete aplaudindo
- Muito bem minha filha, gostei – disse Gerard sorrindo satisfeito.
- Muito bem, muito bem – disse Madame Brigny – quero fazer um brinde à nossa Claire pela sua dedicação, sua inteligência, seu trabalho esforçado e seu talento. E quero aproveitar este momento para anunciar que, a partir de agora, a Loja de Perfumes Brigny, tem uma nova sócia: Claire Dupont.
Claire ficou surpresa e muda de assombro. Não podia imaginar que tão logo, seria uma das donas da perfumaria de Madame Brigny. Sorriu satisfeita e foi abraçar Margarete.
Todos brindaram felizes. Foi uma noite maravilhosa de primavera.

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