quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

ALMA, A FILHA DO DESTINO CAPÍTULO VIII (PARTE II)

Luiz Eduardo Rêgo tinha trinta anos quando conheceu Tita no hospital havia três anos atrás. Agora, com trinta e três tinha já uma carreira promissora na polícia militar. Como já não tinha pais, só um irmão mais novo que morava no Ceará, Dudu Rêgo, como era conhecido por todos, estava muito apaixonado por Clemencia Tristão. O pedido de casamento, um mês antes de sua exposição, deixou a moça muito feliz, assim como o seu velho pai. Inclusive seu irmão José mandou uma carta parabenizando o casal. O pedido de casamento veio com uma promoção como Diretor Acadêmico da Policia Militar de Pernambuco onde Luiz Eduardo também era professor. A data do casamento foi marcado para o mês de setembro desse ano, e os preparativos iam de vento em popa.
De quase um metro e noventa de estatura, Luiz Eduardo era um jovem policial brilhante. Estudou na Academia Militar, fez a faculdade de Direito de Recife e fez uma post graduação para ser também detetive. Com todo esse currículo, sua ascensão não foi difícil. Cabelos pretos e olhos escuros, sobrancelhas grossas e um sorriso inebriante, Dudu era um candidato perfeito para qualquer donzela pernambucana.
Uma coisa sempre o intrigou. A morte do irmão de Clemencia. Na família Tristão o assunto era tabu, não era comentado para nada. No começo do namoro, quando ela levemente falou sobre o tema, ela quis insistir, mas ela se mostrou reticente. As feridas ainda não tinham fechado. De qualquer forma, um mês atrás, um detalhe fez com que ele decidisse casar com Tita. Teve acesso aos arquivos da polícia da década passada, década de 1940, e encontrou todo o processo sobre a morte do doutor Augusto Tristão e José Rubião Rocha em março de 1946. Iniciou assim um processo de investigação solitário e silencioso. Quanto mais estudava o processo, mais tinha certeza que os assassinos foram a mando dos Bezerra, especialmente de Gerônimo Bezerra. Soube pela Polícia Federal que o filho dos Bezerra tinha estado na Europa, onde foi continuar seus estudos de medicina e que no ano passado tinha voltado ao Brasil, estabelecendo sua residência na capital do país, Rio de Janeiro.
- Isso aqui é mais interessante do que imaginava! – disse para si e percebeu que tinha que proteger Clemencia. A amava muito e não imaginava sua vida sem ela, mas também a ajudaria, um dia, a desvendar este mistério horroroso que sobrevoava sobre a vida dos Tristão.
- Vou pedi-la em casamento! Vou me casar com Clemencia Tristão – disse em voz alta e assim decidiu escrever mais uma página do seu destino.


- Assim que chegar ao Rio, vou comprar um vestido lindo para o seu casamento – disse alegremente Mariana Albuquerque ao subir no navio “Esperança” que a levava de férias ao Rio de Janeiro com os pais.
- Divirta-se querida, e depois me escreva contando tudo!
- Claro que sim, estou tão feliz por você prima. O seu casamento está chegando e logo, logo eu te seguirei. Tenho certeza que no Rio encontrarei o homem dos meus sonhos.
- Você deve se preocupar mais em se divertir, aproveito. O homem dos seus sonhos aparecerá quando você menos imaginar.
- Amém, amém...Até mais querida, até mais.
- Boa viagem!
Clemencia e o pai estavam no cais e ficaram até o navio desaparecer no horizonte. Augusto Tristão, de braços dados com a filha, deu um suspiro.
- Espero que eles se divirtam e que Marianinha tenha juízo
- Eles vão se divertir, Papai, vamos embora que já vai escurecer. Luiz Eduardo vai jantar em casa hoje. Vamos falar sobre a festa e a lista dos convidados.
- Meu Deus, o grande dia está se aproximando. Só faltam dois meses. Tudo vai sair bem minha querida, porque sua mãe e seu irmão estarão presentes em espirito.
- Sim Papai.
Nessa noite, após o jantar eles conversaram sobre os convidados.
- Quem é o Comendador Magalhães Rosa? – perguntou Tita ao noivo.
- É o meu padrinho, amigo do meu pai, ele foi durante muito tempo Chefe do departamento de Investigação Criminal da Polícia. Já é aposentado.
- Interessante!
- Tita, queria te perguntar uma coisa, mas, por favor se você não estiver de acordo é só me dizer que eu paro com tudo.
A moça olhou para o noivo surpresa.
- O que foi querido?
- Eu estive verificando alguns arquivos dos processos criminais do Estado e, claro, procurei saber mais o que tinha acontecido com Guto.
- Mas, por que você fez isso?
- Porque acho que o crime não foi resolvido totalmente, acho que ainda há uma linha de investigação a ser feita e acho que os verdadeiros assassinos, tem que pagar pelo que fizeram.
- Amor, por que você está remoendo isso. Você sabe que papai nem quer ouvir falar nisso.
- Mas, isso me estranha muito. Como é que seu pai, sendo tabelião, um homem de justiça não quereria saber realmente o que aconteceu com a morte do filho
- Ele quis sim – suspirou Tita – no começo ele quis e muito, até contratou um advogado para investigar o caso. O advogado foi até Inajá e procurou o pai de Alma, o Seu Rocha, mas, com a morte da família Rocha e depois com a morte da mamãe, ele simplesmente desistiu.
- A morte da família Rocha? Como assim?
- Alma, a namorada do Guto e toda sua família morreu num incêndio na casa e não sobrou nada, foi horrível, isso aconteceu sete meses depois da morte de Guto.
- Incêndio? E você não acha que esse incêndio tem a ver com a morte do Guto?
- Chegamos a cogitar, mas o inquérito disse que foi acidente. Todos ficamos chocados, pobre moça, não merecia um destino assim.
- Me desculpa, mas essa história tem que voltar a ser investigada. O que quero te perguntar Tita, é uma coisa só. Quero saber se você me autoriza a seguir uma investigação discreta do assunto, e se achar alguma coisa relevante, eu mesmo pedirei autorização ao seu pai para seguir adiante. Você aceita?
- Mas, por que você está fazendo isto?
- Por você meu amor, pelo seu pai, pelo seu irmão e por essa pobre moça que morreu, e tenho certeza, injustamente. Alguém está livre e deve pagar pelos seus crimes.
- Você está se referindo a família Bezerra?
- Sim, acho que ai tem coisa e se eu encontrar, eles terão que pagar por tudo.
Clemencia Tristão olhou fixamente nos olhos do Dudu e sentiu que ia chorar, mas se conteve. Pegou as mãos dele e disse:
- Vá em frente, você tem razão, Guto e Alma merecem que a verdade apareça, só assim poderemos ser felizes e seguir com as nossas vidas


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