sábado, 4 de junho de 2016

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.IX PARTE VII)

No final desse verão, por fim, a pequena perfumaria de Montmartre mudou-se para um local muito maior e mais confortável na Rue Cambom, na Place Vendôme, e na região onde Claire morava e onde Paul estabeleceu o escritório onde trabalhava, na Rue Saint Honoré esquina com a Rue D’Algert, do outro lado da Place Vendôme, e mais pertos dos Jardins das Tulherias.
No novo edifício, o escritório e a loja de Perfumaria era muito mais confortável para as duas que trabalhavam sem parar, enquanto o projeto de produção de creme de beleza ia se desenvolvendo rapidamente
Foi então que numa manhã chuvosa de finais de agosto, chegou uma carta de Recife. Claire ao ver o envelope com as bordas da bandeira brasileira, percebeu que era do Pajé Jabu.
A carta, escrita com boa letra pelo índio Arandu, dava os parabéns a ela pelo seu casamento. Jabú desejava toda a felicidade do mundo para sua “Ivoti” e que sempre pensava nela. Mas tinha um parágrafo que fez Claire gelar o sangue nas veias: “ Tome muito cuidado, minha querida Ivoti, para não se confrontar com o seu passado. Tive um sonho, em que o seu passado e o seu presente estão prestes a se juntar, não sei como, mas o que sei é que é muito perigoso esse encontro neste momento da sua vida. Você está reconstruindo a sua felicidade e precisa de um pouco mais de tempo para ter a fortaleza e a dureza para enfrentar tudo o que a vida lhe aguarda, mas agora, evite qualquer contato com o Brasil, com Pernambuco ou com sua origem”
Claire ficou preocupada. O passado está em rotação com o presente. Mascomo?, perguntava-se e não encontrava a resposta. Mas percebeu que tinha que prestar atenção aos conselhos do Pajé.
Imediatamente escreveu a resposta. Agradecendo os bons desejos e dizendo que ficaria atenta aos seus conselhos. Se dependesse dela, o passado não chegaria até ela, pelo menos não por enquanto.
Além de sua nova vida de casada e de trabalhar na sua empresa, Claire começou a faculdade de Botânica no começo do outono na Sorbonne. É claro que a referência e recomendação do pai contaram, mas a nova Madame du Clermont fora muito bem nas provas de admissão, sendo ajudada em grande parte pelo próprio pai e pelo marido. O começo do ano letivo foi para Claire uma experiência desafiadora e nova, e ela gostou muito de se ver no ambiente universitário como uma estudante. Teve a sorte de ter como tutor, Monsieur Clany, um professor muito importante nos quadros docentes da universidade e muito amigo de Gerard Dupont. Clany era doutor em botânica e especialista em plantas tropicais, e também era um dos professores de Claire. Era um homem gordo, de estatura baixa com grande bigode e calvo. A calvície lhe dava um ar de intelectual, mas também era muito engraçado quando queria. Claire reunia-se com ele pelo menos três vezes por semana e Clany notou rapidamente que sua aluna era brilhante e os conhecimentos que tinha das plantas tropicais brasileiras era impressionante. Em pouco tempo, Edouard Cliny influenciou sua pupila no solitário, mas prazeroso trabalho de pesquisa cientifica que ela abraçou com empenho e afinco.
Era comum que o novo casal seja apresentado a alta sociedade parisiense após a viagem de lua de mel. Os Clermont pertenciam à aristocracia rural francesa e tinham muitos laços de amizade e contatos de negócios com membros da sociedade cujos tentáculos além do social e cultural, abrangia também econômicos e comerciais.
Após terminar o verão, era necessário receber e ser recebido. Um jantar na casa dos Condes de Luen, dos Marqueses de Coigny, dos embaixadores da Grã Bretanha, almoços com os membros do Instituto de Economia e Industria, do Clube Militar, e de várias associações culturais como o Instituto de Belas Artes.
Além de receber vários convites para participar de festas e eventos sociais como reuniões de Damas da Caridade, Corrida de Cavalos, Torneios esportivos e muito mais, também deviam, de vez em quando, ir a inaugurações e exposições de arte.

Exposições no Palácio das Artes deviam ser aceitas porque as Industrias Clermont eram patrocinadores e apoiadores da Instituição por muito tempo. Nem sempre Claire, que agora estudava e trabalhava muito, podia acompanhar o marido, mas neste caso em particular a insistência dele foi premiada pelo sorriso da mulher.

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