sábado, 23 de julho de 2016

CONFISSÃO

Era uma sexta feira de julho de uma noite de inverno, daquelas noites em que o silencio se faz necessário e o mistério parece estar no ar. Era uma sexta feira qualquer de inverno, mas ao mesmo tempo era uma noite de sexta feira magica.
Estive hoje na casa de uma amiga muito querida e ela, como sempre, me ofereceu uns livros que já tinha lido e que achava imprescindível “passar adiante”. Minha amiga é daquelas que amam os livros,  mas que tem um desejo pleno de compartilha-lo com as pessoas que gosta e que se deixam levar pelos vastos mundos da sabedoria de uma boa literatura.
Entre os vários livros que ganhei, estavam dois que já tinha lido, mas que por nada do mundo deixaria de leva-los: A Hora da Estrela, e um livro de crônicas para jovens de Clarice Lispector.
Já havia escrito antes, sobre a influência de Clarice na minha vida literária. A minha visão da língua Portuguesa atingiu um patamar de assombro e surpreendente prazer ao entender a literatura da Clarice Lispector. Sua escrita nos leva a um poder magico que ela encontrou nas palavras. Seus pensamentos mais nítidos e profundos servem como fontes de inspiração para qualquer poema, qualquer crônica ou narrativa, pois sua escrita é simples e vibrante, atemporal, límpida, regeneradora e redentora.
Com Clarice Lispector comecei a entender os meandros e mistérios da Língua Portuguesa, não só de sua difícil estrutura gramatical, mas também de sua permeabilidade de sentimentos e sutilezas. Tantas vezes me vi assustado e impressionado, ao mesmo tempo, com o complexo mundo de suas sintaxes, de suas construções mais ínfimas, de sua profunda busca em direção ao cerne de sua própria essência.
Eis que, ao folhar as páginas das crônicas sob o título de “DE ESCRITA E VIDA”, deparei-me com a chamada  DECLARAÇÃO DE AMOR: “ Amo a língua Portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes como um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transforma-la numa linguagem de sentimento e de alerteza.  E de amor. A língua Portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo”

Melhor declaração de amor não poderia ser escrita.

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