domingo, 6 de outubro de 2013

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP. II PARTE1)

CAPITULO II “O DOUTOR” Quando o escrivão de Recife, Augusto Tristão casou-se com a mais bela das filhas do Comendador Alburquerque, Mercedes , de dezoito anos, não imaginou a benção que receberia com os dois filhos que nasceram – em pequeno intervalo – após o casamento. O filho mais velho, Augusto (levava o mesmo nome do pai), sempre foi modelo de menino. Brilhante estudante da escola, excelente companheiro, era considerado, desde a mais terna infância como um ser gregário por natureza. Franzino na adolescência, os anos no colegial transformaram-no num rapaz forte e eloquente. Amante dos esportes e do atletismo, Guto (como era chamado pelos colegas e íntimos) era um excelente nadador, jogador de futebol e formava parte do time de remo do colégio. As atividades esportivas desenvolveram o corpo antes magro, em robusto e forte. Ao terminar o colégio, Guto era considerado um rapaz bonito, alto, de olhos cor de mel, abundantes cabelos escuros e uma inteligência fora do comum. Os pais sempre pensaram que Guto estudaria direito, mas para surpresa geral, ele escolheu a medicina. Logo viram que o rapaz tinha talento de doutor. Os anos universitários foram duros. Guto estudava dia e noite e passou quase todo o período da faculdade sem ter tempo para si mesmo. Não pensava em nada mais do que os estudos e o afinco que punha nos estudos lhe renderam a admiração dos professores. A formatura veio após a residência e aos vinte e oito anos, Guto começara a trabalhar permanentemente no Hospital Central de Recife onde o velho Malta se internara. A decisão de ser clinico geral devia-se, sobretudo, ao seu projeto pessoal de ser medico rural. O pai almejara que ele tivesse um consultório na cidade, mas o doutor Augusto Tristão Filho queria atender às pessoas carentes do interior do estado. Foi assim que, após dois anos de trabalho árduo no Hospital Central, Guto recebera a incumbência de ser o médico da localidade longínqua de Inajá, no Sertão de Moxotó. Antes de partir para o sua nova missão, Guto despediu-se dos seus colegas, familiares e amigos e, com toda a esperança na mala, tomou o caminho para o Sertão. Acreditava que nesse lugar poderia desenvolver todo o seu profissionalismo e vocação de ajudar aos mais pobres e necessitados de Pernambuco. Clemencia Tristão era a única Irmã de Augusto. Era seis anos mais nova, por tanto, na época em que Guto transferiu-se para Inajá, Clemencia tinha vinte e dois anos. Era uma moça alta como o irmão, de uma beleza exótica e estonteante, longos cabelos escuros, pele branca muito branca herdada dos ancestrais holandeses, um par de olhos esverdeados e um sorriso simplesmente atraente. Magra, alta e elegante eram os atributos que todos os que a conheciam definiam a filha do escrivão Tristão. Muito apegada ao irmão, Clemencia ou Tita como era chamada na família, entrara na faculdade de Belas Artes e estudava pintura e escultura. Os primeiros trabalhos feitos nos anos universitários chamaram a atenção dos seus professores que viram nela um talento excepcional. Se Clemencia Tristão quisesse, poderia se tornar uma grande artista. Mas, no último ano da faculdade, a mais nova da família ainda não sabia o que fazer com o seu futuro, e para ser sincera, nem se importava muito com isso. Gostava só de dedicar-se por inteiro a sua arte e isso bastava para que a sua vida fosse maravilhosa. No entanto, a ausência do irmão, a deixara preocupada e muito solitária. De fato, ela já vivia um pouco isolada no meio dos seus devaneios artísticos, mas contava sempre com a forte presença do irmão que era como se fosse seu anjo da guarda. Mas não tinha jeito, Guto partira para a sua missão que ele considerava o mais importante na vida e Tita viu o irmão partir com um que de tristeza e apreensão. No começo achava que a sua angustia se devia à ausência do irmão mais velho, que sempre fora o seu querido camarada, mas depois percebeu que era mais do que simples saudades de irmãos. Ela achava que o lugar que Guto escolhera ficava um pouco distante da cidade, que no meio do Sertão as regras eram outras, que os habitantes desses lugares eram muito diferentes e, que sempre se metiam em problemas, quando não em casos de violência e agressividade. Era gente descontrolada, sofrida, acostumada com a dor, a violência e o medo, e tudo isso deixava Clemencia preocupada e muito angustiada. Seus pais tentavam acalma-la, mas Tita Tristão não conseguia tirar da cabeça que o seu irmão querido estava no meio de selvagens e gente perigosa. Foi assim que, tentou afastar os maus pensamentos dedicando-se por inteiro às artes. E Clemencia brilhou muito no último ano da faculdade. Ganhou um concurso universitário de pintura em tela e Augusto a escreveu dizendo que estava orgulhoso da irmã mais nova. No natal eles estariam juntos novamente. *******

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