As colinas e os vales que circundavam Clermot-Ferrand estavam
cobertos de gelo na última semana de dezembro. As temperaturas estavam
realmente muito baixas e chegavam até cinco graus abaixo de zero. Na pequena
estação, muita gente esperava familiares que chegavam e partiam. No dia 28 de
dezembro, Jean e Paul estavam na plataforma esperando por Gerard e sua filha
que chegariam no trem das três da tarde.
Pai e filho estavam no meio da plataforma quando viram o trem
procedente de Paris aproximar-se da estação. Gerard e Claire, vestidos com
sobretudos e casacos de inverno, desceram do trem e foram recebidos com muita
hospitalidade.
- Que bom que chegaram, Gerard, meu amigo – disse Jean
sorrindo.
- Oi Claire, fez uma boa viagem? – Paul tirou o chapéu para
cumprimenta-la
- Sim, obrigada. Como vai Monsieur Du Clermont?
- Muito bem, Claire, fez uma boa viagem?
- Sim, sim, obrigada.
- Vou cuidar das suas malas – disse Paul dirigindo-se ao
maleiro que vinha atrás do grupo.
Quando chegaram ao Château Royat, já tinha escurecido por
completo, e como no verão passado, Claire viu o castelo no alto da colina,
iluminado por tochas. A noite estava estrelada e uma brilhante lua (como também
ela tinha visto no verão) iluminava suave a paisagem gélida de dezembro.
Para os Clermont, assim como para a maioria dos franceses, a
noite de Ano Novo era celebrado na intimidade da família e amigos, com um
jantar bem preparado e com música. No Château Royat não foi diferente, mas o
jantar era muito requintado. Jean e Paul, além de Gerard e Claire, tinham
convidado mais dois casais de amigos, médicos, colegas de Jean, e sua filha
Claudine de 14 anos, e um amigo de Paul, colega da Universidade e que morava na
Normandia, Julian, advogado da mesma idade de Paul.
Portanto eram oito convidados para o jantar.
Enquanto se preparava para descer, Claire escrevia uma carta
para Margarete contando como tinha sido a viagem em trem, e como ela estava
nesse momento. Relembrou o jantar de Natal em sua casa, em que também
participaram Joan e o pai e que fora uma noite muito tranquila e em paz. Madame
Brigny tinha preparado o jantar com ela e Joan, e a bebida ficara a cargo de
Gerard e Monsieur Mantriex.
“A viagem foi
tranquila. A paisagem era inquietante, muita neve nos campos e arredores das
pequenas cidades. Nas estações de trem, as pessoas estavam vestidas com casacos
grossos e gorros de lã. Ah, Margarete, quanto sinto falta da primavera!.
Enquanto estou me vestindo para descer para o jantar de final de ano, penso na
nossa noite de Natal que foi um sucesso. A vida parece estar voltando aos eixos novamente. Obrigada, querida Margarete, por estar na minha vida e
obrigada por ser tão doce, como uma segunda mãe para mim. Feliz ano novo!”
Colocou a carta no envelope e desceu para o salão principal.
Paul estava conversando com Julian, quando viu Claire,
vestida de azul claro, com um lindo colar no pescoço e uma pulseira de ouro,
presente do seu pai, descendo pela escada principal do salão. Os homens se
levantaram para cumprimenta-la. Ela, por primeira vez sentiu-se olhada,
admirada e experimentou uma maravilhosa sensação de ser o centro das atenções.
- Claire, você está muito bonita – disse Paul sorrindo – o
que quer beber?
- Um vinho, por enquanto. Obrigada.
Gerard Dupont sentiu-se orgulhoso da beleza e elegância da
filha. Era evidente que a moça tinha provocado suspiros nos jovens presentes e
ele percebeu isso. Mas sua satisfação era muito maior porque via como Paul a
seguia com admiração e estava ao seu lado o tempo todo. Sem dúvida, faziam um
casal perfeito, pensou.”
O jantar foi maravilhoso. Claire sentou-se ao lado de Paul e
enfrente de Julian que a olhava admirado. Nunca vira uma jovem tão bela e
exótica. Sua pele era brilhante e perfeita, seu olhar penetrante.
Paul Du Clermont percebeu o interesse de Julian por Claire e
não gostou.
Após o jantar, todos se concentraram no salão com taças de
champagne e quando chegou a meia noite, todos se cumprimentavam. Paul
aproximou-se de Claire e lhe beijou na face. Ela retribuiu com um leve sorriso.
- Feliz Ano Novo Claire
- Feliz Ano Novo.
- Vamos ao terraço assistir os fogos de artificio.
Todos saíram para o grande terraço que dava para a cidade. E
viram, extasiados, o festival de fogos de artificio, multicores, que dominava o
céu de Clermont-Ferrand. Claire nunca tinha visto algo tão fantástico. Ficou
satisfeita com o espetáculo.
- Quer mais um café, Claire? – perguntou Paul.
- Obrigada, vou me deitar logo. – disse ela e despediu-se de
todos para subir até o seu quarto.
Já na cama, ouvia de longe o barulho do salão onde os
convidados ainda bebiam. Podia ouvir o riso de alguns convidados. Pela janela,
a luz prateada da lua do novo ano a transportou para muito longe. Era uma
jornada ao passado remoto e longínquo. De repente as imagens de sua infância, dos
irmãos, dos pais, dos avôs e de Augusto, invadiam a sua consciência, a imagem
de Henri, do seu último e grande amor, também apareceu na sua mente. Sentiu o
corpo todo estremecer e não aguentou. Não conseguiu evitar duas grossas
lágrimas no seu rosto, depois tudo se transformara em escuridão e pranto.
Chorou muito, muito e depois, secou as lágrimas e viu um enorme espelho num
canto do quarto. Levantou-se e se olhou nele.
- Nunca, nunca mais vou chorar pelo passado. Vou me
aproveitar dele para seguir o meu futuro, mas não vou mais chorar. Eu prometo.
Voltou para a cama e dormiu tranquila.
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