terça-feira, 20 de outubro de 2015

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.VII PARTE XI

Clermont-Ferrand em primavera era o lugar mais incrível que Claire tinha visto, tirando Saint Assise, mas esse lugar agora era passado e ela não queria nem lembrar daqueles dias felizes em que ela e Henri tinham passado juntos no verão passado.
Agora ela estava em primavera no campo, e desde a sacada do Château Royat ela contemplava o campo cheio de flores, os vales verdes, as montanhas verdes, o cheiro das flores, especialmente dos MUGUET que estavam por todas partes.
Era véspera de 1 de maio, dia em que os MUGUETS eram dados de presentes as familiares e amigos e pessoas que se amavam. A tradição vinha do século XVI quando o Rei Charles X, em 1561, deu de presente uma flor de Muguet a cada dama da corte. Desde então, todos os primeiros de maio, na chegada da primavera, era costume dar de presente uma flor ou um buquê de Muguet como desejo de sorte e felicidade.
No dia seguinte, Paul levou Claire até a praça da cidade onde a festa do Muguet se desenrolava numa mistura de excitação e alegria. A cidade estava toda enfeitada de branco, todos os homens de todas as idades corriam pelas ruas ou andavam depressa com a flor na mão. Isso deixou Claire muito impressionada.
Paul e Claire foram até o Jardim de Primavera, perto da Catedral, e lá o rapaz pegou um buquê de uma vendedora e a ofereceu a Claire. A moça cheirou a flor e fechou os olhos. De repente, já estava pensando numa nova fragrância.
Por onde andava, todos, homens e mulheres observavam com interesse a essa moça tão exoticamente bela. Os olhos escuros, a pele escura e brilhante davam um ar de elegância e beleza nunca vistas.
Os dias da primavera, podiam ser luminosos e beiravam a felicidade. Existia uma beleza no ambiente e nas pessoas. Claire começou a se sentir livre e solta. Na praça, havia um grupo de pintores amadores que exibiam suas obras, e os dois foram observando uma a uma. De repente, Claire viu um quadro de uma paisagem de canaviais e um rio no meio. Aproximou-se do artista e perguntou de onde ele era e onde ele pintara o quadro.
- Sou do Brasil, Mademoiselle, este quadro é do nordeste brasileiro, da região de Pernambuco. É o sertão pernambucano.
Claire observou o quadro, sentiu-se invadida por uma sensação de nostalgia que logo foi substituída por raiva e ódio. Um tremor tomou conta do seu corpo. Sentiu que as pernas enfraqueciam e que a visão tornava-se difusa nessa manhã luminosa.
Paul percebeu que ela não se sentia bem e a segurou pelo braço.
- Claire, você está bem?
- Eu, Eu....Paul, por favor, me tira daqui. – De repente sentiu força nas pernas novamente e num instinto desenfreado e inesperado, começou a correr pela praça. Paul foi correndo atrás dela, gritando:
- Claire...Claire!!! Espera!!
Mas a moça nem olhava pra atrás. Por um momento parou e olhou para o céu azul primaveril. Começou soluçar. O passado tinha vindo à tona com toda a sua carga emocional e de lembranças tristes e nefastas. Ela não tinha esquecido, aquilo ainda estava dentro dela. O sentimento de ódio e de vingança que estava adormecida dentro dela, aflorou com toda sua potência, e ela sabia disso. A partir desse momento, ela não esqueceria mais, e trabalharia por resolver aquilo que tinha ficado no passado.
Quando o passado volta e traz consigo emoções e lembranças tristes e fortes, a memória apresenta os quadros terríveis de inconformidade, de desconfianças, de sentimentos desencontrados, de arrependimentos, de medo e de desamor. Tudo isso, se não for analisado detalhadamente e com cuidado, pode transformar-se numa bomba de tempo que traria como consequência atitudes e comportamentos perigosos no ser humano. Claire sabia disso, ela queria esquecer, mas percebeu, tristemente, que ainda não estava preparada para isso.
Quando chegou no seu quarto no castelo e descansou, o pai perguntou a Paul o que havia acontecido.
- Nós estávamos simplesmente observando uns quadros numa exposição de artista amadores na praça. Quando ela viu um quadro do Brasil, era um rio no meio de umas arvores, arbustos, não lembro bem, e ela perguntou ao pintor de onde era, e quando ele disse que era do Brasil, Claire sentiu-se mal. Primeiro, quase desmaiou, depois se recuperou se correu sem parar por toda a praça. Quando cheguei perto dela, percebi que estava chorando muito. Pobre Claire!
Gerard olhou para o Paul consternado. Tudo o que ele temia aconteceu. Sua filha voltou a ser, mesmo que por um instante, Alma Rocha, e isso com certeza não era bom para o equilíbrio da vida dela.
Correu para o quarto. Claire estava pensativa, mas muito mais calma. O pai aproximou-se dela e a abraçou. Nesse instante, Claire sentiu-se protegida, e deu graças a Deus por ter encontrado um pai como Gerard.
Nos dias seguintes, Claire pareceu esquecer o que tinha acontecido. Rapidamente recuperou o seu jeito de sempre. Aquilo fora só um pesadelo que veio à tona no momento que ela não esperava.
Jean organizou um picnic nos arredores do Castelo de Royat e convidou alguns amigos da cidade. Era um sábado ensolarado de primavera e todos foram de carro até um pequeno lago, a uns dois quilômetros do Château. A paisagem verde do campo chamou a atenção de Claire. Ela e Paul passeavam ao redor do lago. Claire estava tonta com tantas flores e fragrâncias que encontrava ao seu redor. Paul a ajudava com o nome das flores.
- Este é um Cactos florido, aquela é uma gérbera, perto daquelas árvores estão os lírios. Isto é um girassol da França, e aqui o meu favorito, olha que bonito, é um ”Narciso de Clermont.”
Claire pegou a flor branca e amarela e cheirou profundamente. Concluiu que essa flor seria a base para sua nova fragrância.
- Obrigada, Paul.
Os dias maravilhosos de primavera, renderam seus frutos. Claire e Paul continuaram passeando pelo campo enquanto os demais sentavam-se a beira do lago, bebendo vinho e rindo com prazer.
- Quer dar um passeio de bote pelo lago, Claire?
- Não, obrigada. Prefiro caminhar.


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