quarta-feira, 28 de outubro de 2015

JUJU, JABUTICABA


Juju era pequena, peluda e suave. Qualquer um diria que ela era feita toda de algodão e que não tinha ossos. Seus olhos negros de Jabuticaba eram expressivos e pareciam olhar o universo.
Juju tinha uma personalidade forte, um caráter de espoleta, uma pequena tempestade tropical apesar de ter origem nas terras altas escocesas. Uma pequena West Highlander Terrier de cor de perola, orelhas altas, como se estivesse sempre alerta. Companheira fiel e afável, ela viera a este mundo para ser leal companhia do seu dono e onde ele estivesse, a pequena Juju ia atrás. Dona de um carinho especial e muito independente, no entanto, Juju era uma pequena estrela que não deixava de dar amor e alegria por onde passasse. Adorava gente, adorava crianças, quando passeava pelas ruas do bairro, ela sempre se aproximava dos transeuntes e abanava o rabinho com alegria.

Alegre era o adjetivo que significava sua existência. Companheirismo e lealdade eram outros. Juju olhos de Jabuticaba gostava de tomar banho de sol e gostava de dormir sobre chinelos e sapatos, uma característica que era só dela. O olhar expressivo parecia gritar sua emotividade, seus sentimentos. Dizem que os animais são puros de alma, Juju era a pureza personificada num pequeno bicho peludo de apenas 7 quilos. Mas quando brincava, podia deixar exaustos todos aqueles que a rodeavam.

Muitas vezes, gostava de aprontar. Ela era sempre a companhia absoluta e necessária para ir à feira de rua. Adorava se misturar na multidão e encontrar outros bichinhos nessas andanças. Certa vez, escapou da guia do seu dono e correu quase um quarteirão com todas suas forças. Graças ao Bom Deus, seu dono conseguiu pegar pelo rabo e evitar que cruzasse uma avenida movimentada. Um susto, um suor de gota grossa e muitas queixas, mas Juju continuava incólume nos seus estranhos costumes de aprontar quando menos se esperava.

Adorava deitar no sofá e assistir TV, mas também adorava ficar sentada no colo do dono enquanto este assistia algum filme ou simplesmente lia algum livro nas noites frias de inverno. Muitas vezes, ficava em pé na cama pedindo para subir e dormir com o dono. Ficava dormindo até de madrugada quando pulava da cama e continuava o seu sono de dona do mundo na sua caminha de edredom macio.
Juju era, sem dúvidas, uma cachorrinha especial. Bebia muita agua e fazia xixi por onde ela quisesse. Nunca deixou de fazer suas vontades, nunca se queixava de algum desconforto, mesmo quando começou a adoecer.

Devido à idade, começou a ficar doente, mas nunca perdeu o frescor, o dinamismo, a atividade de correr, passear, comer, tomar sol, tomar banho, ou simplesmente observar tudo ao seu redor com esses olhos de jabuticaba que expressavam encanto e mistério.
Mistério de vida, mistério de amor eram os elementos que definiam sua vida. Ela preenchia os espaços da casa com seu caminhar rápido que nunca sossegava, mesmo que seja nas altas horas da noite.
Mas, esse ambiente de alegria e encanto com que preenchia sua presença na vida do seu dono teria, inevitavelmente um desenlace fatal. A doença avançava no pequeno corpinho dela, e a respiração foi ficando cada vez mais difícil. Os médicos foram acionados e teriam que opera-la de qualquer jeito. A cirurgia foi marcada, e enquanto esperava a data marcada, numa noite, noite estranha e inesquecível para aqueles que viveram esse funesto momento, a pequena Juju teve dificuldades para respirar e começou a se debater em desespero. Tudo aconteceu como num raio. Ela deixou de se debater e fechou os olhinhos, aqueles pretos de Jabuticaba que tanta expressividade produziu e a tantos seduziu, e passou para a eternidade do amor e da memória daqueles que tanto a amaram.

O dono fechou os olhos e com lágrimas nos olhos percebeu que tinha perdido sua companheira fiel e sincera de tantos e tantos anos.
Como se adentrássemos noutra dimensão, a pequena Juju pulou do colo do dono e ajudado por anjinhos protetores dos animais, passou deste mundo para o outro. De repente ela se viu correndo cada vez mais, até chegar num prado verde rodeado de um lago de águas cristalinas. Alguém chamou o seu nome, ela correu cada vez mais ao encontro daquele que a tinha criado, e ela viu uma luz brilhante que emanava muito amor, e ali se deteve. Alguém a tomou nos braços e a beijou na cabecinha, como tantas vezes fizeram na terra. Juju encontrou a paz e a alegria que sempre teve.

Na terra, a tristeza e a desolação tomaria conta do coração e da vida de muita gente. Mas Juju sabia que isso não demoraria, porque muito em breve, ela estaria de volta aos braços dos que a amavam.



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