Juju era pequena, peluda e suave. Qualquer um diria que ela
era feita toda de algodão e que não tinha ossos. Seus olhos negros de
Jabuticaba eram expressivos e pareciam olhar o universo.
Juju tinha uma personalidade forte, um caráter de espoleta,
uma pequena tempestade tropical apesar de ter origem nas terras altas
escocesas. Uma pequena West Highlander Terrier de cor de perola, orelhas altas,
como se estivesse sempre alerta. Companheira fiel e afável, ela viera a este
mundo para ser leal companhia do seu dono e onde ele estivesse, a pequena Juju
ia atrás. Dona de um carinho especial e muito independente, no entanto, Juju
era uma pequena estrela que não deixava de dar amor e alegria por onde passasse.
Adorava gente, adorava crianças, quando passeava pelas ruas do bairro, ela
sempre se aproximava dos transeuntes e abanava o rabinho com alegria.
Alegre era o adjetivo que significava sua existência.
Companheirismo e lealdade eram outros. Juju olhos de Jabuticaba gostava de
tomar banho de sol e gostava de dormir sobre chinelos e sapatos, uma
característica que era só dela. O olhar expressivo parecia gritar sua
emotividade, seus sentimentos. Dizem que os animais são puros de alma, Juju era
a pureza personificada num pequeno bicho peludo de apenas 7 quilos. Mas quando
brincava, podia deixar exaustos todos aqueles que a rodeavam.
Muitas vezes, gostava de aprontar. Ela era sempre a companhia
absoluta e necessária para ir à feira de rua. Adorava se misturar na multidão e
encontrar outros bichinhos nessas andanças. Certa vez, escapou da guia do seu
dono e correu quase um quarteirão com todas suas forças. Graças ao Bom Deus, seu
dono conseguiu pegar pelo rabo e evitar que cruzasse uma avenida movimentada.
Um susto, um suor de gota grossa e muitas queixas, mas Juju continuava incólume
nos seus estranhos costumes de aprontar quando menos se esperava.
Adorava deitar no sofá e assistir TV, mas também adorava
ficar sentada no colo do dono enquanto este assistia algum filme ou
simplesmente lia algum livro nas noites frias de inverno. Muitas vezes, ficava
em pé na cama pedindo para subir e dormir com o dono. Ficava dormindo até de
madrugada quando pulava da cama e continuava o seu sono de dona do mundo na sua
caminha de edredom macio.
Juju era, sem dúvidas, uma cachorrinha especial. Bebia muita
agua e fazia xixi por onde ela quisesse. Nunca deixou de fazer suas vontades,
nunca se queixava de algum desconforto, mesmo quando começou a adoecer.
Devido à idade, começou a ficar doente, mas nunca perdeu o
frescor, o dinamismo, a atividade de correr, passear, comer, tomar sol, tomar
banho, ou simplesmente observar tudo ao seu redor com esses olhos de jabuticaba
que expressavam encanto e mistério.
Mistério de vida, mistério de amor eram os elementos que
definiam sua vida. Ela preenchia os espaços da casa com seu caminhar rápido que
nunca sossegava, mesmo que seja nas altas horas da noite.
Mas, esse ambiente de alegria e encanto com que preenchia sua
presença na vida do seu dono teria, inevitavelmente um desenlace fatal. A
doença avançava no pequeno corpinho dela, e a respiração foi ficando cada vez
mais difícil. Os médicos foram acionados e teriam que opera-la de qualquer
jeito. A cirurgia foi marcada, e enquanto esperava a data marcada, numa noite,
noite estranha e inesquecível para aqueles que viveram esse funesto momento, a
pequena Juju teve dificuldades para respirar e começou a se debater em
desespero. Tudo aconteceu como num raio. Ela deixou de se debater e fechou os
olhinhos, aqueles pretos de Jabuticaba que tanta expressividade produziu e a
tantos seduziu, e passou para a eternidade do amor e da memória daqueles que
tanto a amaram.
O dono fechou os olhos e com lágrimas nos olhos percebeu que
tinha perdido sua companheira fiel e sincera de tantos e tantos anos.
Como se adentrássemos noutra dimensão, a pequena Juju pulou
do colo do dono e ajudado por anjinhos protetores dos animais, passou deste
mundo para o outro. De repente ela se viu correndo cada vez mais, até chegar
num prado verde rodeado de um lago de águas cristalinas. Alguém chamou o seu
nome, ela correu cada vez mais ao encontro daquele que a tinha criado, e ela
viu uma luz brilhante que emanava muito amor, e ali se deteve. Alguém a tomou
nos braços e a beijou na cabecinha, como tantas vezes fizeram na terra. Juju
encontrou a paz e a alegria que sempre teve.
Na terra, a tristeza e a desolação tomaria conta do coração e
da vida de muita gente. Mas Juju sabia que isso não demoraria, porque muito em
breve, ela estaria de volta aos braços dos que a amavam.
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