Maria das Dores Malta, era uma mulher baixinha, de olhos
escuros, cabelos curtos começando a ficar grisalhos, e uma coragem de dar
inveja a qualquer mulher do universo.
Havia nascido no próprio Sertão de Moxotó quando Irajá era
conhecida pelo nome de Fazenda do Espírito Santo. Filha de Damião Mata e de dona Rosa da Purificação, eram os
primeiros habitantes da região. Inclusive a primeira casa construída pertencia
aos Malta.
Damião Malta chegou a ser um comerciante próspero. Na sua
venda, conhecida como Posto Malta, vendia-se de tudo : carne seca, azeite,
grãos, cachaça, queijo, cigarro e outros produtos que vinham de Recife.
Maria das Dores, conhecida como Dadá, era a única filha
mulher. Seu Damião e dona Rosa tinham mais três filhos, todos mais novos que
Dadá, que era a mais velha.
Quando Dadá completou vinte anos, os pais pretenderam
arranjar um marido para ela. Dadá opôs-se
terminantemente. Ela se casaria só por amor e não aceitaria ninguém que
não fosse do seu gosto.
Um dos candidatos apreciado pelos Malta era Damásio Bezerra,
o filho do coronel Bezerra, uma espécie de cacique da região. Era proprietário
da maior fazenda do Sertão de Moxotó e, décadas atrás eram proprietários de
escravos quando este sistema imperava no país.
Damásio estava apaixonado pela Dadá, mas ela não quis saber
nada e o jovem, decepcionado, foi para Recife terminar os estudos.
Foi então quando Dadá conheceu Rubião Rocha, de quem ficaria
apaixonada.
O moço era originário de Arcoverde, uma cidade não tão
distante de Inajá. Filho único de um modesto fazendeiro que ganhava a vida com
a produção de cana de açúcar, Rubião Rocha ficara prendado pela Dadá assim que
a conheceu.
O pai acabara de falecer e Rubião comprou um terreno a beira do
rio Moxotó com o intuito de dedicar-se à plantação de tabaco e cana de açúcar.
Vendera a fazendinha de Arcoverde e mudara-se para Inajá.
Costumava comprar no Posto Malta todas as provisões que
necessitava e, numa dessas incursões, conheceu a filha do comerciante.
No começo a família Malta foi contra o namoro, mas a moça
fora firme e conseguiu convencer os preocupados pais de que Rubião era o melhor
homem para ela.
Um ano depois, em maio de 1922, casaram-se na Igreja do
Divino Espírito Santo, com a presença de todos os habitantes de Inajá. Na festa
uma ausência: a família Bezerra.
As capitanias hereditárias do Nordeste brasileiro
estabeleceram um sistema de autoridade única que pertencia a determinadas
famílias. Os mais poderosos denominavam toda a região, outros eram como
senhores feudais de cidades, vilarejos e províncias. Geralmente os donos de
grandes fazendas e plantações eram os “senhores” , quase absolutos, de suas
regiões. A família Bezerra era uma delas.