CAPITULO I
As águas do rio Moxotó pareciam estrelas brilhando num
espelho nessa tarde quente de abril. As chuvas tinham deixado a sua herança
anual através de toda a sua costa. Os sedimentos aluvionares compostos de
argila e silite distribuíam-se por toda a ribeira do rio, até a parte das
rochas calcares que indicavam o começo de uma trilha – caminho que serpenteava-
no meio da mata do sertão e que conduzia até a propriedade rural do seu Rubião
Rocha.
O silencia era eloquente, e só era quebrado pelos passos de
um par de pés pequeninos de uma menina de nove anos que parecia desfrutar de
esta inocente brincadeira. A menina estava toda encharcada e suja, mas não só
de água, como também de lama escura. Ela cumpria o ritual todos os dias. Quando
o seu pai e irmãos , após o almoço, voltavam ao trabalho dos canaviais, ela
ajudava a mãe com os afazeres da casa, lavava os pratos, limpava a cozinha e,
depois ia para o rio para se lambuçar na lama.
Não adiantavam os protestos da mãe que via a filha chegar
toda suja. Ela, em silencio, lavava a roupa de pano amarela, toda corroída e
embolorada pela sujeira e, voltava a
repetir a sua rotina, dia após dia.
O universo dessa infantil figura centrava-se no rio, na lama,
nas rochas, em toda a natureza.
- Alma! , é hora de voltar para casa – gritou dona Maria das
Dores do alto da rocha por onde começava a trilha que levava à casa dos Rocha.
Alma virou a cabeça e acenou para a mãe. Entrou no rio e
mergulhou suavemente. Lavou o corpo todo e apressou-se a ir junto da mãe que a
olhava de forma intrigante.
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