domingo, 5 de maio de 2013

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CONTO) PARTE I


CAPITULO I


As águas do rio Moxotó pareciam estrelas brilhando num espelho nessa tarde quente de abril. As chuvas tinham deixado a sua herança anual através de toda a sua costa. Os sedimentos aluvionares compostos de argila e silite distribuíam-se por toda a ribeira do rio, até a parte das rochas calcares que indicavam o começo de uma trilha – caminho que serpenteava- no meio da mata do sertão e que conduzia até a propriedade rural do seu Rubião Rocha.

O silencia era eloquente, e só era quebrado pelos passos de um par de pés pequeninos de uma menina de nove anos que parecia desfrutar de esta inocente brincadeira. A menina estava toda encharcada e suja, mas não só de água, como também de lama escura. Ela cumpria o ritual todos os dias. Quando o seu pai e irmãos , após o almoço, voltavam ao trabalho dos canaviais, ela ajudava a mãe com os afazeres da casa, lavava os pratos, limpava a cozinha e, depois ia para o rio para se lambuçar na lama.

Não adiantavam os protestos da mãe que via a filha chegar toda suja. Ela, em silencio, lavava a roupa de pano amarela, toda corroída e embolorada  pela sujeira e, voltava a repetir a sua rotina, dia após dia.

O universo dessa infantil figura centrava-se no rio, na lama, nas rochas, em toda a natureza.

- Alma! , é hora de voltar para casa – gritou dona Maria das Dores do alto da rocha por onde começava a trilha que levava à casa dos Rocha.

Alma virou a cabeça e acenou para a mãe. Entrou no rio e mergulhou suavemente. Lavou o corpo todo e apressou-se a ir junto da mãe que a olhava de forma intrigante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário