Nos cálidos dias de setembro, o Seu
Damião Malta adoeceu. Sentira uma dor no peito e Dadá o levou para o hospital.
Foi então que os médicos do pequeno hospital de Inajá aconselharam à família
levar o doente para Recife. O medico local suspeitava de problemas cardíacos e
era necessário a sua remoção urgente para a capital.
Lá ele foi tratado e lá sentiu-se
muito melhor, pois a presença – ao menos uma vez por semana – do neto
preferido, Damião, era um conforto. Após os testes de rotina, descobriram um
problema na válvula mitral e o Seu Damião tinha tido um pré-infarto. Dadá
deixou o pai aos cuidados do irmão Genésio e de sua mulher, Genoveva. O outro
irmão, Teodoro também viera visitar o pai doente. Dadá ficou encarregada de
administrar a venda durante o período em que o pai estivesse em Recife.
Dadá percebera que o filho mais
velho, Damião estava muito mais maduro e centrado. Os meses no serviço militar
– e que estava prestes a terminar – o transformaram num verdadeiro homem. Ela
ficara orgulhosa do filho e assim que chegou à Inajá, contou para o marido que
o filho mais velho era todo um orgulho para a família.
Já o mais novo era todo o contrario.
Zé Rubião era incontrolável. O pai tinha muito trabalho em controlá-lo mas, ao
voltar, a mãe tomou as rédeas do caso. Zé Rubião tinha que entrar na linha.
Aconteceu então uma noite chuvosa,
Damião voltava para o quartel quando se deparou com um carro estacionado no
meio da rua. As luzes estavam acesas e o motorista desmaiado. Ele se aproximou,
viu que o carro estava amassado na frente, abriu o carro e pegou o motorista
pelo braço tentando reanimá-lo.
- Você está bem? Eii, acorda
companheiro!
O Motorista não respondia. Foi então
que ele conseguiu tira-lo do veiculo e o colocou na calçada escura e chuvosa.
Então conseguiu reanimá-lo e o motorista com o rosto assustado olhou para ele:
- Quem e você? Onde estou? – disse
quase gritando.
- Não se preocupe, você desmaiou e eu
te tirei do carro...O que aconteceu?
O Motorista olhou ao redor e disse
que batera o carro num poste por ali perto e que conseguiu dirigir um pouco
mais. Sentira uma forte dor de cabeça e desmaiou.
- Sim, - disse Damião – eu vi que o
carro estava batido na frente. Mas, vamos, vou te levar ao hospital, a sua
cabeça está sangrando..
Como estavam perto do hospital,
Damião ajudou o rapaz a caminhar até o local. Assim que entraram, o rapaz foi
acudido pelos médicos. Ele se virou para o Damião e disse quase sorrindo:
- Obrigado por me ajudar...Qual é o
seu nome?
- Damião – respondeu o rapaz
sorrindo.
- Obrigado Damião, meu nome é Gerônimo.
Damião Rocha acenou com a cabeça e
disse :
- Sem problemas Gerônimo. Quer que
avise a alguém que você está aqui?
- Não, obrigado. Estarei bem...
- O meu avó está aqui internado, eu
virei visitá-lo amanhã e aproveitarei para te visitar também...Precisa de algo?
- Obrigado, estarei bem...obrigado.
*******
A família Bezerra estava inquieta. A
noticia do acidente do único filho de Seu Damásio e de dona Arminda, deixaram a
todos em estado de nervos. Eles se transferiram imediatamente para Recife,
assim que receberam a noticia.
Era a primeira vez que os Bezerra
recebiam uma noticia desse tipo, especialmente vindo do Gerô. Eles sabiam que
os jovens eram inquietos e que, a muito contragosto Damásio dera um carro de
presente para o filho. Afinal, ele conseguira entrar na faculdade de medicina e
isso era mais do que um orgulho para o patriarca dos Bezerra.
Após saber do acidente do filho e de
como tudo acontecera, Seu Damásio quis
conhecer o jovem que havia ajudado o Gerô. Damião tinha ido varias vezes visita-lo
e a amizade entre os dois jovens havia florescido.
Seu Damásio Bezerra ficou
profundamente surpreso ao saber que o jovem em questão era nada mais nada menos
que o filho de Dadá Rocha.
- Obrigado meu jovem, por ajudar e
salvar o meu filho. Serei eternamente grato a você.
- Não precisa agradecer, Seu Bezerra.
Fiz isso com o maior prazer.
- Foi uma grande surpresa saber que
você é o filho de Rubião Rocha, da nossa cidade. Está fazendo o serviço militar
em Recife?
- Sim, e já estou terminando no
próximo mês. Voltarei para Inajá assim que o meu avô se recuperar.
- Como está o Seu Malta?
- Está reagindo muito bem. Os médicos
acreditam que receberá alta em uma semana e, voltaremos todos para Inajá.
- Fico feliz em saber isso.
A partir desse dia, Damião Rocha e
Gerônimo Bezerra haviam ficado amigos. Todos os dias, ao visitar o avô, o jovem
Rocha ia visitar o novo amigo. Dias depois, quando Gerônimo voltou para casa, a
amizade ficou mais estreita.
A recuperação do seu Damião Malta
ocorreu graças aos médicos de Recife que o trataram muito bem, mas
especialmente a um jovem médico que estava terminando a sua residência nesse
ano, o Doutor Augusto, de apenas 29 anos. O velho Malta tinha se afeiçoado muito
a esse jovem médico que o tratava com muito cuidado e profissionalismo.
Quando o paciente recebeu alta,
apareceu o jovem médico na porta com o seu sorriso característico que fez o
velho sorrir com alegria.
- Bem, seu Malta – disse o jovem
Galeno – espero que agora o senhor se cuide e siga estritamente as instruções
nossas.
- Pode deixar, doutor Augusto, vou me
cuidar e prometo que logo,logo, estarei trabalhando.
- Vamos com calma, primeiro é preciso
de muito repouso, depois virá o resto.
O seu Malta olhou o jovem médico com
atenção. Era alto, como os seus dois netos, tinha cabelos encaracolados, não
muito longos, e olhos cor de mel. Era moreno claro, de boa presença e também
era muito gentil. O tipo de médico que ele gostaria de ter em Inajá.
- Obrigado, doutor, prometo me cuidar
muito. E quando o senhor tiver alguns dias livres, por favor, vá me visitar em Inajá, vou recebê-lo com
muita satisfação.
- Obrigado pelo convite, irei
visitá-lo sim...
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