As ondas batiam suavemente a embarcação que parecia
adormecida num suave balanço das águas, ancorada numa pequena baia perto de uma
praia deserta. Sempre que podiam, eles vinham até este lugar paradisíaco onde
podiam encontrar-se a sós e poder desfrutar de umas horas, uns dias cheios de
paixão.
Às vezes navegavam mar dentro e faziam uma peregrinação pelos
arrecifes, pelas ilhas desertas do arquipélago, ou simplesmente passeavam pelo
mar azul sem nenhum horizonte à vista. O sol intenso resplandecia em manhãs de
primavera ou de verão, os corpos bronzeados dos dois pareciam emanar energia, e
o sorriso, ah, esses sorrisos de grande alegria era o melhor que tinham, pois
era a celebração pura de um amor puro, um amor que já durava tanto, pois era
tão frágil e tão forte, tão efêmero e tão real, tão humano, talvez, demasiado
humano.
Ela lembrava aquela manhã de outubro quando, passeando pela
orla da praia teve vontade de entrar no mar, de se molhar, de sentir o gosto de
sal na pele. Não percebera que o mar estava bravo e que as ondas eram
ameaçadoras. Entrou na água, como quem se joga ao abismo de uma paixão, como
quem deixou o medo de lado só para sair de órbita e, aproveitar ao máximo
aquilo que a própria vontade lhe ditava. Entrou no mar e se molhou por inteira.
E ali permaneceu.
Ela nadou nas águas do mar como uma sereia a procura do seu
destino eterno. O ambiente azul e cristalino das águas espumosas lhe davam um
prazer inenarrável.
A moça loira, alta, esguia de olhos azuis intensos e de
sorriso maroto, nadava prazerosa e tranquila nas águas atlânticas. Foi então
que, no meio do devaneio e da sensação de liberdade não percebeu que as ondas
tinham lhe arrastado para longe da praia. Começou o desespero.
A cada braçada, as ondas a levavam para o mar adentro. Então
começou a gritar, pedindo socorro.
Enquanto lutava, às forças iam decaindo até que as ondas a
venceram. Ela pensou “Já estou morta. Vou morrer no mar”, e entregou-se a ele
com resignação e tranquilidade.
De repente, sentiu duas mãos fortes que a seguravam; mãos de marinheiro,
mãos salvadoras.
O alivio misturou-se ao desespero. Então ela apagara. Então
ela não pensara mais em nada.
A tarde estava quente, mas como era dia de semana, não tinha
muita gente na praia.
Celeste, esse era o nome dela, foi colocada na areia, mas
nada sentia. Tinha desmaiado. Então, como de um profundo sonho, ela foi chamada
de volta e cuspiu água enquanto abria os olhos com surpresa.
Então ela viu, com esses olhos azuis, angustiados e aliviados
– ao mesmo tempo- outro par de olhos azuis que lhe sorriam.
- Como está se sentindo? – disse o jovem que a salvara e que
não tinha nada de marinheiro, mas bem, tinha um quê de surfista.
- Eu, eu estou bem, obrigada – disse um pouco tonta –
obrigada novamente.
- Graças a Deus eu estava na praia. Ia pegar uma onda com a
prancha quando a vi pedindo socorro. Que bom que está bem! – disse com certo
alivio e alegria.
Ele sorriu. Era alto, loiro, pele bronzeada pelo sol. Uma
figura imponente e uns olhos azuis como o mar.
- Meu nome é Marco. Prazer.
- Celeste – disse a meia voz – obrigada Marco.
O que parecia ser simplesmente um encontro entre dois jovens
na praia do Leblon, na realidade foi um encontro de almas. A partir desse
momento, Celeste e Marco encontraram seu destino comum: o céu se unira ao mar
em um encontro eterno.
O veleiro “Liberdade” navegava lentamente pela baia de Angra
dos Reis nessa tarde de verão.
O mar estava calmo, o sol resplandecia. Ao timão do veleiro,
Marco observava a paisagem de uma da ilhas verdes. No pequeno convés, Celeste,
leve como uma pluma, tomava banho de sol e seus pensamentos voavam sobre a
superfície azul do oceano.
Céu e Mar, um encontro, uma eternidade.
- Mar?...Podemos ir até essa praia deserta?
- Vou tentar Céu, acho que tem pedras perto da praia, mas vou
tentar.
Céu e mar estavam juntos há muito tempo. O encontro na praia
fora uma experiência fascinante e a vida reservava-lhes surpresas incríveis.
Mar era independente e, às vezes, um pouco soberbo. Céu era
tímida e tranquila. Amava Mar de forma segura e se apoiava nele como uma rocha.
As tempestades iriam e viriam sempre, mas ela se sentia segura na sua
companhia.
Mar era, não só um companheiro, era um verdadeiro amigo, era
o seu “totem”, o seu porto seguro, a sua ilha solitária e o seu futuro certo.
Para ele, Céu era o seu refugio indiscutível. Nisso se
completavam e, juntos encontraram a verdadeira felicidade, aquela que é
sustentada na confiança, no afeto e na pareceria, no calor e na solidão. A
felicidade é uma questão de ser; ser Feliz é ser afável, ser confiável, ser
amado e amar com todo o sangue do corpo; ser companhia perene, em cuja só
presença o objeto do amor encontra a paz e a calma, a harmonia e a beleza.
Sobretudo amar é ter planos e objetivos em comum, ter gostos
em comum que favorecem o espaço individual do prazer em comunhão com o outro.
Céu e Mar adoravam o mar. Adoravam velejar; tinham o maior
prazer em acordar num veleiro nas manhãs
ensolaradas de verão. Ver o imenso azul do mar e sentir a brisa marinha no rosto.
E a noite, quando se entregavam ao supremo prazer do amor e
da paixão, sentir o balanço manso das águas, que convidavam a ter mais prazer.
Isso era o supremo deleite.
Céu e Mar, Celeste e Marco, unidos pelo infindável projeto de
abraçar o mundo através do infinito oceano de paixão e mistério.
Eles não precisavam de mais nada nesta vida.