segunda-feira, 7 de abril de 2014

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAPITULO IV PARTE I)



“O SENHOR DAS ÁRVORES”

O tempo fora passando com a rapidez de uma ave voando sobre o oceano de memórias, emoções e sensações difusas para Alma. A moça ficara encantada com a sabedoria de Monsieur Dupont, o “Senhor das árvores”, que logo percebera o interesse da menina na biologia, zoologia e na botânica. Ele passou a lhe ensinar tudo o que sabia, e também o francês, língua que Alma começou a apreciar e a aprender com uma agilidade incrível.
Mas, o que ela mais gostava era folhar o álbum de fotografias e retratos de Paris, a cidade natal de Dupont. Com a curiosidade juvenil que a caracterizava, Alma observava atentamente e, gratamente surpresa, os grandes e elegantes edifícios parisienses; a Catedral de Notre Dame, a Torre Eiffel, os bosques de Boulogne, o arco do triunfo, a avenida Champs Eliseés e a sua charmosa coluna de árvores, as Tulleries, o Museu do Louvre, e o rio Sena. Dupont lhe explicava todos esses retratos com simplicidade e com orgulho francês de pertencer a uma nação que fez, dissera ele, tanto pela humanidade.
Depois veio o retrato da Universidade de Sourbonne, onde Dupont deu aulas e trabalhou a vida inteira. Alma perguntou-se como alguém poderia abandonar toda essa vida pelas florestas tropicais brasileiras. Dupont disse que o amor pela natureza era maior que toda a sua vida em Paris, incluindo os seus afetos pessoais. A moça ficou em silencio e disse em um francês incipiente:
- Monsieur Dupont, eu também trocaria toda a minha vida por uma nova vida!
Gerard Dupont a olhou surpreso. Não esperava essa resposta direta dela, mas o Jabú tinha lhe contado tudo sobre ela, sobre a tragédia que ela havia passado e isso explicava, em parte, a sua afirmação tão veemente.
- Entendo, Alma, entendo.
- Algum dia quero sair daqui. Acho que o meu tempo na tribo está se esgotando.
- Tudo virá com o tempo Alma. O tempo é o melhor conselheiro.
A moça sorriu e deu a mão ao professor francês, com uma graça que o deixou impressionado. Esta menina, pensou o biólogo, tem uma “finesse” própria que é incrível. Aprende rápido, é curiosa. Em fim uma mente extraordinária para as ciências. Estou satisfeito com a minha pupila.
Alma voltou para a escola. Era hora de dar aulas. As crianças da tribo adoravam a Ivoti e diziam que ela ensinava com paixão. Parecia que o presente era tranquilo e o futuro, bem, o futuro era simplesmente uma utopia. Não se sabia nada sobre ele.
Uma semana depois, Monsieur Dupont decidiu explorar mais o sertão de Pernambuco a procura de mais espécies da Caatinga. Desta vez, ele levaria alguns índios Tuxá com ele. Foram selecionados cinco homens e quando veio se despedir dela, Alma sentiu um aperto no coração. Pela primeira vez, tinha a certeza que sentiria saudades do seu Mestre.
- Alma, vim me despedir. Volto em um mês, mas tenho um presente para você, e quero que me prometa que vai ler muito durante a minha ausência.
A jovem assentiu. Ele entregou um livro grosso de francês, com muitas ilustrações.
- É uma edição de ouro da Enciclopédia Francesa. Você encontrará muita informação sobre a França. É uma edição bilíngue, em francês e em português, por isso é muito rara. Cuide muito bem dela e estude bastante.
- Sim, Monsieur Dupont. Prometo que vou aprender muito. Obrigada.
Ele a abraçou com ternura. Alma sentiu, após muito tempo, a emoção paternal. Monsieur Dupont tinha, lentamente, substituído o pai dela.
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