“O SENHOR DAS ÁRVORES”
O tempo fora passando com a rapidez
de uma ave voando sobre o oceano de memórias, emoções e sensações difusas para
Alma. A moça ficara encantada com a sabedoria de Monsieur Dupont, o “Senhor das
árvores”, que logo percebera o interesse da menina na biologia, zoologia e na
botânica. Ele passou a lhe ensinar tudo o que sabia, e também o francês, língua
que Alma começou a apreciar e a aprender com uma agilidade incrível.
Mas, o que ela mais gostava era
folhar o álbum de fotografias e retratos de Paris, a cidade natal de Dupont.
Com a curiosidade juvenil que a caracterizava, Alma observava atentamente e,
gratamente surpresa, os grandes e elegantes edifícios parisienses; a Catedral
de Notre Dame, a Torre Eiffel, os bosques de Boulogne, o arco do triunfo, a
avenida Champs Eliseés e a sua charmosa coluna de árvores, as Tulleries, o
Museu do Louvre, e o rio Sena. Dupont lhe explicava todos esses retratos com
simplicidade e com orgulho francês de pertencer a uma nação que fez, dissera
ele, tanto pela humanidade.
Depois veio o retrato da Universidade
de Sourbonne, onde Dupont deu aulas e trabalhou a vida inteira. Alma
perguntou-se como alguém poderia abandonar toda essa vida pelas florestas
tropicais brasileiras. Dupont disse que o amor pela natureza era maior que toda
a sua vida em Paris, incluindo os seus afetos pessoais. A moça ficou em
silencio e disse em um francês incipiente:
- Monsieur Dupont, eu também trocaria
toda a minha vida por uma nova vida!
Gerard Dupont a olhou surpreso. Não esperava
essa resposta direta dela, mas o Jabú tinha lhe contado tudo sobre ela, sobre a
tragédia que ela havia passado e isso explicava, em parte, a sua afirmação tão
veemente.
- Entendo, Alma, entendo.
- Algum dia quero sair daqui. Acho
que o meu tempo na tribo está se esgotando.
- Tudo virá com o tempo Alma. O tempo
é o melhor conselheiro.
A moça sorriu e deu a mão ao
professor francês, com uma graça que o deixou impressionado. Esta menina,
pensou o biólogo, tem uma “finesse” própria que é incrível. Aprende rápido, é
curiosa. Em fim uma mente extraordinária para as ciências. Estou satisfeito com
a minha pupila.
Alma voltou para a escola. Era hora
de dar aulas. As crianças da tribo adoravam a Ivoti e diziam que ela ensinava
com paixão. Parecia que o presente era tranquilo e o futuro, bem, o futuro era
simplesmente uma utopia. Não se sabia nada sobre ele.
Uma semana depois, Monsieur Dupont
decidiu explorar mais o sertão de Pernambuco a procura de mais espécies da Caatinga.
Desta vez, ele levaria alguns índios Tuxá com ele. Foram selecionados cinco
homens e quando veio se despedir dela, Alma sentiu um aperto no coração. Pela
primeira vez, tinha a certeza que sentiria saudades do seu Mestre.
- Alma, vim me despedir. Volto em um mês,
mas tenho um presente para você, e quero que me prometa que vai ler muito
durante a minha ausência.
A jovem assentiu. Ele entregou um
livro grosso de francês, com muitas ilustrações.
- É uma edição de ouro da
Enciclopédia Francesa. Você encontrará muita informação sobre a França. É uma
edição bilíngue, em francês e em português, por isso é muito rara. Cuide muito
bem dela e estude bastante.
- Sim, Monsieur Dupont. Prometo que
vou aprender muito. Obrigada.
Ele a abraçou com ternura. Alma
sentiu, após muito tempo, a emoção paternal. Monsieur Dupont tinha, lentamente,
substituído o pai dela.
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