Durante a ausência de Dupont, Alma
estudou o francês com afinco e dedicação incríveis. Ensinava com eficiência às
crianças da tribo e ajudava Jabú nos afazeres da mistura de ervas e outros
aromas. Jabú a observava em silencio e percebeu, com grande alivio, que Alma
parecia emergir das profundezas amargas que a vida tinha lhe confinado. Sorria
com facilidade, ajudava a todos que a cercavam, era prestativa e observava em
silencio todos os rituais dos Tuxá e respeitava o seu culto e tradições. Tanto
o cacique quanto o Pajé estavam satisfeitos com ela. Sua missão de ensinar
tinha dado bons frutos, sua aprendizagem nos costumes e na cultura Tuxá eram
simplesmente perfeitos. Também crescera em altura. Todos na aldeia perceberam
que a “protegida” do Pajé era a mulher mais bela das redondezas. Já completara
dezessete anos e seu corpo adquiriu toda a formosura de uma mulher dos
trópicos. Mas o que mais chamava a atenção era a sua pele suave e brilhante,
parecia um pêssego, diziam, e todos se perguntavam porque os insetos não a
picavam, porque nada a feria, porque ela, quando se machucava, cicatrizava
depressa. Sua pele era extraordinária. Era uma morena de olhos profundos e
grandes, boca sensual, longos cabelos lisos, magra e esbelta, e apreciava muito
a natureza. Nadava quase todos os dias, caminhava pela mata acompanhando as
outras mulheres, colhia frutas, ervas aromáticas e em pouco tempo conhecia de
cor todas elas.
Apesar de ter se tornado uma mulher
bonita e atraente, os índios a respeitavam pois era considerada quase como
sagrada. Era como se fosse a filha do Pajé, uma sacerdotisa, uma bruxa, uma
mulher misteriosa. E apesar de ser amável e agradável com todos que vinham a
ela, Alma mantinha distancia quando se tratava de intimidade. Só o Jabú
conhecia a alma da moça, e ele sabia que Alma tinha desejos ocultos, desejos
perigosos e misteriosos, algo que só o tempo conseguiria desvendar.
Mas a vida continuava. O passado
parecia esquecido.
Mas para Monsieur Dupont, a história
de Alma era mais do que interessante. Desde que a conheceu sentiu que era sua
própria filha vinda do passado para resgata-lo das lembranças amargas da sua
vida.
Um pensamento veio à sua mente:
“Martine”, sua esposa, seu coração perdido, sua ilusão destroçada, feita
pedaços ao morrer há tantos anos antes de dar à luz uma menina tão bonita
quanto Alma. A menina morreu poucas horas depois da mãe e nem sequer ele tivera
tempo de pensar num nome para ela. Tentou afastar essas memorias tristes de sua
mente quando percebeu que estava muito cansado. Disse para sua equipe que
procurara no mapa uma cidade mais próxima para descansar.
“Inajá” – disse Jacques Bresson, o
antropólogo belga que o acompanhava.
- Muito bem, Inajá, é pra lá que
vamos.
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