sábado, 12 de abril de 2014

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.IV PARTE II)



Durante a ausência de Dupont, Alma estudou o francês com afinco e dedicação incríveis. Ensinava com eficiência às crianças da tribo e ajudava Jabú nos afazeres da mistura de ervas e outros aromas. Jabú a observava em silencio e percebeu, com grande alivio, que Alma parecia emergir das profundezas amargas que a vida tinha lhe confinado. Sorria com facilidade, ajudava a todos que a cercavam, era prestativa e observava em silencio todos os rituais dos Tuxá e respeitava o seu culto e tradições. Tanto o cacique quanto o Pajé estavam satisfeitos com ela. Sua missão de ensinar tinha dado bons frutos, sua aprendizagem nos costumes e na cultura Tuxá eram simplesmente perfeitos. Também crescera em altura. Todos na aldeia perceberam que a “protegida” do Pajé era a mulher mais bela das redondezas. Já completara dezessete anos e seu corpo adquiriu toda a formosura de uma mulher dos trópicos. Mas o que mais chamava a atenção era a sua pele suave e brilhante, parecia um pêssego, diziam, e todos se perguntavam porque os insetos não a picavam, porque nada a feria, porque ela, quando se machucava, cicatrizava depressa. Sua pele era extraordinária. Era uma morena de olhos profundos e grandes, boca sensual, longos cabelos lisos, magra e esbelta, e apreciava muito a natureza. Nadava quase todos os dias, caminhava pela mata acompanhando as outras mulheres, colhia frutas, ervas aromáticas e em pouco tempo conhecia de cor todas elas.
Apesar de ter se tornado uma mulher bonita e atraente, os índios a respeitavam pois era considerada quase como sagrada. Era como se fosse a filha do Pajé, uma sacerdotisa, uma bruxa, uma mulher misteriosa. E apesar de ser amável e agradável com todos que vinham a ela, Alma mantinha distancia quando se tratava de intimidade. Só o Jabú conhecia a alma da moça, e ele sabia que Alma tinha desejos ocultos, desejos perigosos e misteriosos, algo que só o tempo conseguiria desvendar.
Mas a vida continuava. O passado parecia esquecido.
Mas para Monsieur Dupont, a história de Alma era mais do que interessante. Desde que a conheceu sentiu que era sua própria filha vinda do passado para resgata-lo das lembranças amargas da sua vida.
Um pensamento veio à sua mente: “Martine”, sua esposa, seu coração perdido, sua ilusão destroçada, feita pedaços ao morrer há tantos anos antes de dar à luz uma menina tão bonita quanto Alma. A menina morreu poucas horas depois da mãe e nem sequer ele tivera tempo de pensar num nome para ela. Tentou afastar essas memorias tristes de sua mente quando percebeu que estava muito cansado. Disse para sua equipe que procurara no mapa uma cidade mais próxima para descansar.
“Inajá” – disse Jacques Bresson, o antropólogo belga que o acompanhava.
- Muito bem, Inajá, é pra lá que vamos.

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