quinta-feira, 1 de maio de 2014

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.IV PARTE III)



Os cientistas estrangeiros chegaram a Recife ao anoitecer. A cidade estava iluminada e mostrava um tanto de esplendor quando no Hotel BeiraMar, os três acomodaram-se num cansaço incrível. Aquela noite, após um breve jantar, foram dormir cedo. O dia tinha sido muito interessante, especialmente para Dupont.
O ventilador de teto girava lentamente quando o biólogo francês anotava alguns dados no seu caderninho de notas. Depois foi até a janela do quarto que tinha uma pequena varanda que dava para uma praça pequena, mas cheia de arvores. A praça estava cheia de jovens que conversavam alegremente.
Dupont voltou às anotações. Pensou muito antes de escrever:

“INAJÁ - FAMILIA ROCHA
OS MALTA
BEZERRA
ALMA ROCHA – 16 ANOS MAIS OU MENOS – INCENDIO.
Dr.AUGUSTO TRISTÃO – RECIFE”

Não conseguia dormir. A insônia tinha tomado conta dele. Só pensava em Alma e em tudo o que tinha acontecido. Sentia pela menina um sentimento paterno como fazia tempo não sentia.
Sim, pensou, era a primeira vez que o amor paterno voltava a fluir no seu coração. Após tantos anos, após essas duas perdas irreparáveis na sua vida, em que pensava que nunca mais sentiria algo assim, agora, sem querer, a menina Alma fez com o seu coração amolecesse. Queria protege-la, queria leva-la consigo para Paris, queria ensina-la tudo o que ele deveria ter ensinado à pequena Claire, a bebê que ele tinha perdido ao nascer junto com a sua mulher Martine.
“Martine”, “Claire”, mon chere, mon chere, pensou e duas lagrimas brotaram dos seus olhos azuis como o mar. Fazia muito tempo, ele nem lembrava mais quanto, em que esses dois nomes não apareciam na sua mente. Ele até pensava que tudo fora uma ilusão, que esses dois anjos não existiram nunca na sua vida. Mas existiram, sim, e fora, reais, e a dor da perda delas também foi muito real. Mas agora, anos depois, ele encontrava-se de fronte com o mesmo sentimento paterno que rejeitara tantas vezes. O milagre tinha um nome: Alma.
Agora, pensou Dupont, o que me resta é fazer o que tenho que fazer. Alma é a filha que eu tinha perdido, é a minha Claire que voltou do mundo do esquecimento e das trevas para iluminar a minha vida.
Assim, muito cansado, conseguiu pegar no sono.

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