Os cientistas estrangeiros chegaram a
Recife ao anoitecer. A cidade estava iluminada e mostrava um tanto de esplendor
quando no Hotel BeiraMar, os três acomodaram-se num cansaço incrível. Aquela
noite, após um breve jantar, foram dormir cedo. O dia tinha sido muito
interessante, especialmente para Dupont.
O ventilador de teto girava
lentamente quando o biólogo francês anotava alguns dados no seu caderninho de
notas. Depois foi até a janela do quarto que tinha uma pequena varanda que dava
para uma praça pequena, mas cheia de arvores. A praça estava cheia de jovens
que conversavam alegremente.
Dupont voltou às anotações. Pensou
muito antes de escrever:
“INAJÁ - FAMILIA
ROCHA
OS MALTA
BEZERRA
ALMA ROCHA – 16
ANOS MAIS OU MENOS – INCENDIO.
Dr.AUGUSTO TRISTÃO –
RECIFE”
Não conseguia dormir. A insônia tinha
tomado conta dele. Só pensava em Alma e em tudo o que tinha acontecido. Sentia
pela menina um sentimento paterno como fazia tempo não sentia.
Sim, pensou, era a primeira vez que o
amor paterno voltava a fluir no seu coração. Após tantos anos, após essas duas
perdas irreparáveis na sua vida, em que pensava que nunca mais sentiria algo
assim, agora, sem querer, a menina Alma fez com o seu coração amolecesse.
Queria protege-la, queria leva-la consigo para Paris, queria ensina-la tudo o
que ele deveria ter ensinado à pequena Claire, a bebê que ele tinha perdido ao
nascer junto com a sua mulher Martine.
“Martine”, “Claire”, mon chere, mon
chere, pensou e duas lagrimas brotaram dos seus olhos azuis como o mar. Fazia
muito tempo, ele nem lembrava mais quanto, em que esses dois nomes não
apareciam na sua mente. Ele até pensava que tudo fora uma ilusão, que esses
dois anjos não existiram nunca na sua vida. Mas existiram, sim, e fora, reais,
e a dor da perda delas também foi muito real. Mas agora, anos depois, ele
encontrava-se de fronte com o mesmo sentimento paterno que rejeitara tantas vezes.
O milagre tinha um nome: Alma.
Agora, pensou Dupont, o que me resta
é fazer o que tenho que fazer. Alma é a filha que eu tinha perdido, é a minha
Claire que voltou do mundo do esquecimento e das trevas para iluminar a minha
vida.
Assim, muito cansado, conseguiu pegar
no sono.
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