A cidade de Clermont-Ferrand, 400km de Paris, estendia-se
através da colina mais alta da região Auvérnia, no sul da França. É também a
capital da região e do departamento de Puy-de-Dôme. A cidade de setenta mil
habitantes, tinha 2000 anos de história, mas só progrediu como polo econômico
francês no século XIX. Durante a guerra foi ocupada pelos alemães que
estabeleceram seu quartel general no sul do país. Quando se chega até ela desde
a vizinha cidade de Vichy, a paisagem é monumental. Ela fica encravada num
vale, rodeada de colinas verdes. No centro da cidade, está a majestosa
Cathédrale Notre-Dame de l’Assomption, com suas torres de estilo gótico e seus
vitrais incríveis. La place de Jaude é a principal praça da cidade.
Encontram-se nela monumentos, prédios administrativos e mansões senhoriais.
Mas, a cidade exibia o seus mais belas paisagens através das áreas verdes de
sua zona rural.
Apenas há 3km do centro da cidade, na colina de Royat,
estendia-se a propriedade dos Clermont, família descendente dos antigos
senhores feudais da região de Auvérnia. O Château du Royat, era uma construção
de pedra, datada do século XVI. Era um conjunto imenso de torres, galerias
pátios internos, salões com vistas à cidade, sacadas e terraços bem
distribuídos e construídos com elegância e magnificência.
Os Dupont chegaram ao anoitecer depois de viajar em trem por
horas. Foram recebidos pelo jovem Paul e seu motorista. Com um sorriso de
satisfação, o jovem Clermont ajudou com as malas e ao entrar no carro, disse
que o pai os estava esperando na casa.
A estação ficava perto da praça principal. Claire viu algumas
pessoas apressadas na rua, muitos jovens na praça em grupos bebendo e
conversando alegremente. Ainda estava claro apesar de passar das sete da noite.
O verão era luminoso.
Quando subiram a colina do Chateau, Claire viu que a casa
estava iluminada com tochas. A impressão era magnifica. A moça nunca vira uma
mansão assim. Era evidente que os anfitriões, além de serem ricos proprietários
da região, tinham bom gosto.
Alto e elegante, o anfitrião o recebeu com mostras de alegria
na porta principal.
- Meu caro Gerard, mademoiselle Claire, sejam bem
vindos a Royat!
- Obrigado meu querido amigo – disse Gerard abraçando
Jean – foi uma viagem incrível. A pequena Claire pôde observar toda a paisagem
do interior do país.
- Olá pequena Claire, espero que tenha gostado da
viagem.
- Olá Monsieur Clermont, foi agradável sim, obrigada.
- Vamos entrar. Esta é Gertrude, minha governanta, ela
vai lhes mostrar seus quartos, vamos, entrem.
Uma senhora alta e elegante, de uns sessenta anos mais
ou menos, muito educada, os cumprimentou.
- Monsieur Dupont, mademoiselle, sejam bem vindos, por
favor, sigam-me.
- Obrigado – disse Gerard.
Gerard e Claire acompanharam a governanta pelo salão
principal. Claire viu uma fileira de estatuas e esculturas, quadros, moveis
antiquíssimos e um lustre de tirar o folego. Uma grande escadaria de pedra os
levou ao piso superior. Claire acreditava estar num conto de fadas e em
qualquer momento apareceriam bruxas ou fadas voando sobre ela. O quarto era
imenso. A janela dava para o pátio interno onde ela viu várias pessoas, que
deviam ser empregados do Castelo, limpando e preparando uma mesa a luz de
velas. Ela não sabia dizer ao certo se a casa era assombrada ou romântica, mas
gostou do lugar. Tinha uma hora para descansar e se vestir para o jantar.
Pouco depois, quando desceu, encontrou os homens na
sala de estar, junto à sala de jantar. O recinto era espaçoso, cheio de
fotografias de familia e quadros. Tanto seu pai como Jean du Clermont usavam
jaquetas claras e Paul estava trajada de jaqueta azul e calças brancas que
parecia um marinheiro recém chegado do mar. Todos estavam elegantes e parecian
alegres. A conversa era ruidosa e misturada de risos saudosistas.
Paul foi o primeiro a avista-la. Viu Claire descende
as escadas de vestido branco, com os braços expostos, sua cor morena brilhante
que tanto chamava a atenção, e um sorriso no rosto.
- Boa noite a todos! – disse timidamente.
- Boa noite Claire – disse Paul, quer beber alguma
coisa?
- Está elegante Claire! – disse Jean com um sorriso.
Gerard Dupont não disse nada. Observou a beleza da filha com orgulho. Claire
estava transformando-se numa linda e atraente mulher.
Após o jantar, Paul a acompanhou até o terraço
superior. A vista da cidade, iluminada por uma linda lua minguante, era
simplesmente fascinante.
- Que lindo lugar Paul – disse a moça com um suspiro.
- Sim, nossa casa tem uma vista privilegiada da
cidade, justamente por estar na colina mais alta.
De repente um cheiro especial tomou conta da brisa de
verão.
- Meu Deus, que cheiro delicioso de flores....que
cheiro é esse?
- É o cheiro de Muguet, o lírio do campo. Nosso jardim
está logo ali.
- É simplesmente maravilhoso.
- Amanha te mostro. É uma flor típica da França.
Claire fechou os olhos e sentiu aquele cheiro
suave e rustico que a remeteu, de
repente, ao Sertão do Moxotó.