sábado, 22 de novembro de 2014

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAPITULO VI PARTE III)



O mês de julho fora muito quente. O verão estava em pleno apogeu e os parisienses gostavam de se deitar a beira do Sena para se refrescar do intenso calor. Muita gente levava cestas de piquenique e passavam as horas às margens suaves do rio. Henri e Claire faziam o mesmo. Desde que voltaram de Saint Assise, passavam muito tempo juntos. A rotina era a mesma. De manhã trabalhavam na loja e a tarde costumavam passear e descansar nas praias urbanas do rio. Às vezes Joan se juntava a eles, mas geralmente eles estavam sozinhos.
Gerard Dupont confiava na filha. Nunca se preocupou de deixa-la sozinha. Afinal, ela estava quase com dezoito anos e demostrava ser muito madura para a sua idade. A presença constante do jovem Henry Brigny a deixava feliz e radiante, e o pai percebera disso. Depois de conhecer os Brigny muito bem e ter convivido um pouco com eles, Gerard não achou nada demais que a amizade entre os jovens prosperasse, apesar de que, as vezes, temia que o contentamento da filha fosse longe demais.
Claire desabrochou como uma rosa em pleno verão. A presença de Henri a reconfortava e protegia. O rapaz a levava para conhecer os recantos mais exóticos da cidade, além de museus, lojas, parques, bairros, colinas, igrejas e muito mais. No Paris da pos guerra era comum os concertos de música ao ar livre em parques e jardins, e os dois sempre estava por ali. Aproveitavam a vida com muita alegria e, como era natural, descobriam que tinham um afeto muito especial um pelo outro.
O primeiro beijo deles aconteceu justamente às margens do rio, perto da Ponte Alexandre. Era num entardecer mágico. O rio e os prédios na margem adquiriram uma cor alaranjada. A visão era magnifica. A cidade se recuperava de mais um dia de intenso calor, quando, intempestivamente, Henri lhe roubou um beijo. Foi um beijo rápido mas apaixonado e Claire percebeu imediatamente que estava se apaixonando por Henri Brigny.
Depois, os dias seguiram luminosos e felizes. Os jovens se apaixonaram e isso era muito natural já que gostavam muito de estar um com o outro. Madame Brigny percebera que o filho mudara e que a jovem Dupont estava cada vez mais feliz.
Faltava só mais uma semana para que começasse o mês de agosto em que Claire devia acompanhar o pai até Clermont-Ferrand. Nesses dias aconteceu algo inesperado e incrível na vida de Alma. Havia experimentado o primeiro beijo de Henri Brigny. Numa tarde calorosa de verão, os dois jovens estavam passeando em barco pelo rio Sena, contemplando a paisagem de Paris, as torres, as igrejas, os prédios, a Torre Eiffel ao longe, tudo num ambiente de maravilhoso silencio, e quando o barco passou frente À Catedral de Notre Dame, na “Ile de la Cité”, Henri aproximou-se dela e aproveitando a sua distração, roubara-lhe um beijo. Não fora um beijo qualquer, era um beijo apaixonado. Claire ficou surpresa ao principio, depois entregou-se a esse beijo tão especial e amoroso. Então, a cortina do destino abrira-se em dois, e ela pôde perceber sensações e sentimentos que estavam adormecidos depois da morte de Augusto Tristão. Desde o descobrimento do seu primeiro amor, anos atrás, ela nunca mais deixara que o seu coração abrisse por nada e por ninguém. Agora, estava novamente diante do amor: Henri, o terno e carinhoso Henri, o jovem cheio de vida e de planos para o futuro, o homem que lhe ensinara as essências fundamentais de aromas e cheiros, aquele que sempre estava atento a tudo que ele queria e desejara, o interlocutor maravilhoso e um amigo sincero nas horas em que ele queria contar, mesmo que em parcelas misteriosas, o segredo de sua vida.
Depois daquele beijo, tudo mudou entre eles, e para melhor. Ficaram abraçados por um bom tempo, sem palavras, num silencio maravilhoso de contentamento, algo que ela só tinha sentido com Guto Tristão.
Mas com Henri, ela percebera que era diferente. O jovem era muito compreensivo e a tratava com uma deferência e um carinho que a deixava quase sem folego. Ele mostrou Paris para ela, todos os recantos mais exóticos e românticos, e era natural que no meio desse passeio especial, o amor nasceria.
Quanto voltou para casa, lembrou que tinha que viajar em um par de dias e um sentimento de decepção tomou conta dela. Não queria viajar nesse momento, deixar Henri, deixar Joan, Paris, sua vida, seu trabalho com Henri na loja ao qual ela se apegara tanto e passava horas tão agradáveis e instrutivas. Não, pensou, devo pensar em algo para evitar esta viagem. Meu Deus, ficar duas semanas longe de Henri será uma tortura. Por outro lado, ela prometera ao pai que iriam à Clermont- Ferrand, pois para Gerard essa viagem significava, além de descansar, cumprir com os seus amigos, os Clermont. Mas, como convencer o pai de que ela não queria abandonar a cidade neste momento?
Foi impossível convencer o pai do contrário. Gerard estava preparadíssimo para a viagem. Recebera uma carta do amigo que lhe informara que já estava tudo preparado para recebe-los, e que Paul estava preparando uma série de eventos em homenagem, especialmente, a Claire. Como evitar a viagem? Impossível, pensou Claire com sabor amargo de tristeza.
De qualquer forma, aproveitou o resto da semana na cidade para trabalhar na loja. Joan também se juntou a eles, e Claire confessou à amiga que estava apaixonada por Henri.
- Meu Deus, Claire – disse Joan sorrindo – que notícia boa. Já era hora!
- Sim, mas o que me doí é que teremos que nos separar.
- Não dá para adiar a viagem?
- Papai está irredutível. Não consegui convence-lo.
- Bem, pense que a separação será até melhor. Quando você voltar, será muito melhor, pode crer. Você já contou para o seu pai?
- Não, ainda não. Vou aproveitar a viagem para conta-lo.- disse Claire com um suspiro.

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