terça-feira, 9 de dezembro de 2014

ALMA, A FILHA DO DESTINO ( CAP.VI PARTE V)

A pequena luz solar penetrava por entre as cortinas nessa manhã  quando Claire acordou. O canto de alguns pássaros no jardim, chamaram a sua atenção. Pôde observar melhor o quarto, o teto do Château onde se encontrava, e chegou a conclusão que era um lugar muito bonito de se morar. Pensou no jantar da noite anterior, que fora maravilhoso, pratos deliciosos, vinhos, sobremesas, licores, conversas agradáveis, e tudo com a maior “finesse” que ela tinha participado jamais.
Ainda estava na cama pensando quando ouviu alguém tocar na porta.
- Sim?
- Mademoiselle, sou a governanta, posso entrar?
- Claro, entre
Gertrud entrou rapidamente e disse sorrindo:
- Bom dia Mademoiselle, o café da manhã já está servido. Prefere algo especial?
- Não, não, obrigada. Já estou descendo em alguns minutos. Meu pai já acordou.
- Bem cedo, mademoiselle, ele e o Senhor Jean acabaram de voltar de um passeio pela propriedade. O jovem Paul também acabou de descer. Estão no salão verde, ao lado da sala de jantar.
- Obrigada.
Minutos depois, Claire Dupont descia rapidamente as escadas e entrou no salão verde para tomar o café da manhã. Todos estavam conversando alegremente.
- Bom dia a todos!
- Bom dia mademoiselle – disse Jean.
- Bom dia minha filha, dormiu bem?
- Sim, obrigada. Bom dia Paul.
- Bom dia Claire, naquela mesa está o café e os pães.
- Obrigada.
Depois do café, Paul a acompanhou até o jardim e mostrou a ela a flor do lírio do campo.
No meio de canteiros e bordaduras sombreadas do jardim, Claire viu a beleza branca dos lírios. O cheiro de terra se misturava com um cheiro suave e delicioso desta flor de campo.
- É chamada de MUGUET – explicou Paul – ela desabrocha no primeiro de maio, e por isso também é conhecida como flor de maio. É típica do país e costuma ser dada de presente no dia do trabalho como símbolo de prosperidade e felicidade.
- Tem um perfume delicioso. “Muguet”. Gostei do nome. É o aroma mais agradável que já cheirei.
- É também usada nos buquês de noivas. Na primavera todo o jardim se enche de Muguets.
Paul pegou um lírio com as mãos e deu para ela.
- Não é primeiro de maio, mas aqui está o seu Muguet. Com os desejos de felicidade e prosperidade.
Claire pegou a flor branca e perfumada em forma de sino, e a cheirou com os olhos fechados.
- Obrigada
Os intensos olhos azuis de Paul de Clermont sorriram de satisfação.
Depois do passeio pelos jardins do Château Royat, Paul levou Claire até as cavalariças para mostrar os cavalos e éguas que eles criavam na propriedade.
- Quer montar Claire?
- Não sei montar, nunca montei na vida.
- Vou te ensinar, é muito fácil, e mais confortável conhecer a propriedade a cavalo.
Ele a ajudou a montar, uma égua muito calma e pouco depois já estavam passeando pela propriedade. Chegaram até uma pequena colina e Claire pôde ver a vasta região verde do vale de Clermont-Ferrand.
- É uma vista maravilhosa. Imagino que você não queira sair daqui. Tudo é tão lindo.
- Sim, confesso que prefiro Clermont à Paris. Quando estudava na capital sentia muitas saudades de casa. Aqui tudo é tranquilidade e paz. Não tem todo o bulício e a multidão de Paris. Mas confesso que, de vez em quando não gosto muito da solidão.
- Imagino. Mas solidão num paraíso como este, é melhor que a solidão na cidade grande.
- Sim, talvez...
Mas, apesar de gostar muito de estar no Château Royat com anfitriões tão agradáveis, Claire sentia saudades de Henri e de Paris.

Clermont-Ferrand, 7 de agosto de 1948.-

Querido Henri:
Me desculpe não ter escrito nos primeiros dias da minha chegada, mas tenho estado muito ocupada conhecendo o lugar que é maravilhoso. Estamos bem instalados Papai e eu, e o Château dos Clermont é simplesmente maravilhoso. Conheci o aroma do “Muguet”, o lírio do campo e de repente imaginei um perfume dessa flor, que deve ser magnifica. Temos feito muitos passeios e ontem conheci a cidade. Ela é pequena mas bonita. Tem uma praça muito charmosa, cheia de crianças brincando, monumentos antigos e uma catedral de tirar o fôlego. Tudo muito agradável e o tempo também tem ajudado. Não faz tanto calor quanto em Paris, e as noites tem uma brisa suave e confortante.
Como está você meu amado Henri? Estou morrendo de saudades e não vejo a hora de rever você. Espero que tudo esteja indo bem por ai.
Esperarei ansiosa a sua carta de resposta.
Lembranças à Madame Brigny.
Um beijo,
Claire.

As duas semanas passaram voando e os Dupont voltaram a Paris bem descansados. Claire passou muito bem e o seu pai também, pois Gerard parecia estar muito a vontade com os amigos Clermont.
- Gostou das férias, Claire?
- Adorei mom chère Papá. Merci!
- Bem, acho que seria apropriado escrever uma carta ao jovem Paul, agradecendo por tudo.
- É o que vou fazer, Papá. Paul foi um anfitrião excelente.
Voltar a Paris significava voltar aos braços de Henri.
Ainda faltavam duas semanas para terminar as férias de verão. Claire e Joan passavam a manhã trabalhando na loja da Madame Brigny e a tarde, junto com Henri, aproveitavam para passear pela cidade. Iam aos museus, cafés, praças. Conheciam bairros afastados, igrejas e muito mais. O verão era luminoso. Claire nunca tinha passado um verão assim, e definia como “o mais agradável de todos os meus verões”.
Muitas vezes passeava sozinha com Henri. Gostavam de ir tomar sorvete na Place Vendôme, ou subir até a Torre Eiffel e contemplar a cidade. Estavam mais apaixonados do que nunca.
Claire aprendia sobre essências e ervas com Madame Brigny. Ela levava o seu caderno de anotações e escrevia tudo o que podia. Pediu para Henri um ramo de lírio do campo e conseguiu fazer umas misturas interessantes. Madame Brigny estava extasiada com o seu trabalho e com sua criatividade.
- Você vai ser uma excelente perfumista!
- Mas também quero inventar um creme de beleza.
- Isso você também vai conseguir, confia em mim.
- Cheire isto Madame, gostei do cheiro.
- Hummmm, uma mistura de cheiro de campo e sofisticação parisiense
- Isso mesmo – disse Claire sorrindo.
Os dias foram passando, e o verão estava chegando ao fim. Era hora de voltar para a escola.
Quando chegou em casa, exausta após um dia intenso na loja, o pai lhe disse:
- Claire, tem uma carta para você.
Ela viu o envelope e percebeu imediatamente que era de Clermont-Ferrand. Era de Paul.
Foi até o seu quarto e abriu a carta.


Château Royat, Clermont-Ferrand, 28 de agosto.

Querida Claire:
Obrigado pela linda carta. Também adorei passar essas duas semanas com você aqui em casa. Depois da tua partida a casa ficou um pouco vazia. Mas hoje de manhã, ao sair para o jardim, vi esta linda flor de Muguet e lembrei de você. Então estou lhe enviando para que se lembre de mim e dos dias que passou por aqui.
Espero que você esteja preparada para a volta da escola. Este verão foi muito especial para mim e espero que também tenha sido para você.
A “Muguet” é para que você se lembre de mim.
Com carinho,
Paul

Junto a carta tinha uma caixa branca. Ela abriu e ali estava um buquêt de flor de Muguet, o lírio do campo. Claire cheirou-a e lembrou-se de Royat e das duas semanas que passou em Clermont- Ferrand.
A carta de Paul era intrigante: “adorei passar essas duas semanas com você aqui em casa”; “Estou lhe enviando para que lembre de mim”.

O Pai percebeu que ela ficou um pouco surpresa com a carta.

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