quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

É PERMITIDO PENSAR EM PRIMAVERA



Sábado de manhã, dia de intenso calor primaveril. Fazia tempo que não cumpria essa velha rotina de ir ao parque do Ibirapuera de bicicleta e, após umas andadas pela ciclovia entre árvores e sonhos, deitar na grama do meu canto favorito, aquele que fica bem frente a ladeira da solidão, na beira do lago e meditar sobre a vida e sobre tantos outros temas afins à minha personalidade.
Pois bem, o meu “recanto solitário” estava vazio nessa manhã quente de inícios de dezembro. Lá fora tudo era cacofonia, mas no meu espaço de sonhos e ilusões, tudo era tranquilidade e se respirava paz. O lago de aguas tranquilas recebia alguns patos que faziam o barulho característico ao nadar, as árvores pareciam sonolentas, e a frequência de transeuntes era até bem discreta. Pronto. Tudo estava preparado para que eu pudesse fechar os olhos e esvaziar a mente.
No meio desse momento mágico e prazeroso, a magia foi interrompida por um casal jovem de apaixonados que sentou-se na grama a poucos passos de onde eu me encontrava. Ao princípio, nada conseguia tirar minha atenção. Mas lentamente fui levado a escutar com atenção o que eles conversavam.
De olhos fechados, fui escutando a moça, com voz macia de jovem apaixonada dizendo ao namorado:
- Que lugar fantástico! Escolhemos bem. Posso respirar e sentir a paz da minha alma.
- Eu também. É um lugar delicioso – respondeu o jovem – para meditar e sonhar.
“Meditar e sonhar”? Pensei. Dois jovens falando de meditar e sonhar é algo tão estranho e raro quanto um cisne aparecer na minha frente no lago, não tão cristalino, do parque. Continuei prestando atenção.
- O que você acha que é a vida? Digo, não de forma retórica, senão de forma prática. O que a vida significa pra você? – disse a moça.
- Bem, para mim, a vida é uma sucessão de momentos e de energia que aparecem na sua frente e com sua inteligência você decide como enfrenta-los.
- Muito bem, para mim é a mera existência do meu EU, unido a este corpo que ocupa um espaço no vasto universo. Essa existência faz com que eu respire, observe, medite, raciocine e atue a cada momento, a cada dia.
- Bem, não estou muito longe da sua definição. É o que é o amor para você?
- É a vontade, a atitude e o sentimento que faz com que a vida seja diferente, não seja tão racional nem tão chata.
- Boa explicação. Gostei. Pra mim, é o motor que impulsa a minha vida. Sem ele, sou um motor que trabalha na metade, é como um combustível que faz com que eu acelere a minha existência num mar cheio de esperanças;
- Gostei, amor....Você é o máximo. – Nesse momento, abri os olhos surpreso com o que tinha escutado e observei o casal se beijando.
- É o que é o beijo? – perguntou a jovem.
- É o exemplo mais notável da nossa humanidade – respondeu o jovem.
- Gostei da resposta. Te amo.
- E eu a você, você sabe disso, mas sempre vou dizer, Te amo!

Atônito, com tudo o que ouvi e mais ainda por se tratar de um casal jovem, muito jovem, levantei-me e peguei a bike para voltar a andar pelo parque. Minha meditação fora interrompida, mas valeu a pena.
Tudo o que tinha ouvido, me inspirou para escrever um singelo poema chamado FRISSON, que dizia em um dos seus estrofes:

“Som da natureza
Silencio e mistério
Verde mata, verdes sonhos
Imagens que flutuam
Sobre o universo da minha vida.
Conversas fiadas, conversas de amantes
Ao redor, a vida se desliza
Caos calmo, cega fantasia
Ilusões e lamentos
Esperanças e euforia.
É um sonho esquecido,
É uma música conhecida
É a “Felicidade” de Jeneci
É a doce melancolia,  esquecida
É a alegria renovada
É a vida!”

Quando encontro pessoas que pensam minha fé na humanidade se renova, e mais ainda numa manhã linda de primavera. Graças a Deus.

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