A primeira
Maratona nunca se esquece
Os que passaram pela
experiência de correr uma maratona dizem que é muito especial; um momento inesquecível
pela superação pessoal, pelo controle mental, pelo terrível esforço físico,
enfim, pela vitoria da mente sobre o corpo.
Tenho filosofado muito sobre
este momento, sobre como reagiria – tanto física como mentalmente- a este
esforço (para muitos, sobre humano) de correr 42.195m e termina-lo bem.
Pois bem, os treinos foram
feitos, tudo que deveria saber sobre a corrida já estudei e, agora chegou o
grande momento. O grande desafio.
Após uma noite
estranha, mas bem dormida, levantei-me
às 4.15. Fiz um rápido desjejum e sai do hotel (no centro do Rio) em direção à
Praia do Flamengo. De lá sairiam todos os ônibus que levariam os participantes
até o ponto de largada, ou seja, o Recreio dos Bandeirantes.
Dizem que a vida nos reserva
surpresas de todo tipo. É desta vez não foi diferente. Já na porta do hotel,
outro corredor procurava um taxi com o mesmo propósito que eu: ir para a Praia
do Flamengo.
Então, como estávamos na
mesma situação, decidimos dividir o mesmo taxi e, conseguimos pegar o ônibus às
5.15hs.
O tempo começou a ameaçar e,
primeiro veio uma suava garoa, depois uma fina chuva começou a cair sobre a
cidade. Durante o longo percurso do Flamengo ao Recreio (que demorou alem da
conta devido ao intenso trafego) o meu colega corredor e eu, começamos a bater
um papo amigável e interessante sobre a maratona.
A boa surpresa era que ele
já tinha corrido algumas maratonas e seus conselhos foram muito bem vindos e
recebidos. Não é todo dia que alguém muito gentil, troca ideias com você sobre
o assunto que é o mais importante nesse momento.
Assim, decidimos correr
juntos. Para mim, encontrar esse “RUNNER MATE” (Colega corredor) foi
providencial.
Às 7.30 de uma manhã
cinzenta e ameaçadora, começamos então o desafio da Maratona do Rio de Janeiro.
O RUNNER MATE
Ian é o nome do meu “Runner
mate”. Sua presença foi para mim muito mais importante do que ele possa
imaginar. Ele marcou o ritmo de 6m30s por quilômetro (para não forçar a
corrida) e assim, começamos a correr.
Posso dizer que manter o
ritmo quando se corre sozinho é muito mais tedioso. Acompanhado é mais
suportável.
Ian e Eu fomos conversando
sobre corrida, trabalho, família e sobre o desafio da Maratona. Então começamos
a filosofar (sempre mantendo o ritmo)
sobre o porquê corremos. Corremos porque a vida está cheia de desafios e
surpresas; corremos porque nem sempre podemos mudar as situações que a própria
vida nos mostra dia a dia; corremos porque correndo, podemos controlar um traço
de tempo e de humanidade, vencer as dificuldades e sair vitorioso, tão
vitorioso como o atleta que sobre ao primeiro lugar no pódio.
Os primeiros quilômetros foram superados ao longo da Praia do Recreio e
Barra da Tijuca. O tempo cinza revelava mil segredos, o bramido do mar
ameaçador anunciava que era inverno e uma cortina nebulosa no horizonte parecia
augurar uma jornada longa e cansativa. Mas, apesar de tudo isso, a paisagem
tinha uma beleza visceral.
13, 14, 15,.....21km.
Chegamos a metade da jornada praticamente encharcados pela garoa fria e pelos
ventos que pareciam invadir a praia.
Muitas subidas vieram. As
dificuldades pareciam ser muitas: subimos a Av.Niemayer e chegamos ao
quilômetro 29.
Ao descer à Praia do Leblon
(km.30) meu Runner mate despediu-se de mim com um aperto de mão. Ele precisava
dar uma parada e eu continuei a correr sozinho e acelerar a corrida. Espero ter
a oportunidade de vê-lo novamente e agradecê-lo com a minha sincera alegria
porque ele foi uma peça fundamental nesta minha historia pessoal de superação.
Há pessoas que aparecem na sua vida sem procura-las. Elas parecer ser
escolhidas pelo destino para te ensinar, guiar e iluminar a sua estrada escura.
Aproveito este espaço para desejar ao meu runner mate toda a sorte do mundo e
também para toda a sua família.
A partir dos
30Km: O desafio final
Desde o Leblon (km.30) até o
Aterro do Flamengo (Km42) comecei a etapa decisiva da Maratona. Então, comecei
a acelerar cada vez mais passando por meio de outros corredores, alguns da
minha própria equipe. Ipanema, Copacabana....Km.36
A chuva aumentou, mas o meu
animo continuou intacto. Quando cruzei o Km.38, soube que já faltava muito
pouco e que conseguiria finalizar.
Depois, já na Praia de
Botafogo, tendo como paisagem o Pão de Açúcar, alcancei o tão famoso quilômetro
40. Agora faltava pouco. Não lembro o que pensei nesse momento. Minha alegria
era imensa e também grande a minha satisfação do dever cumprido.
Então pensei que, a minha
primeira experiência da maratona chegaria ao final. Pouco, muito pouco depois
cruzava a linha de chegada. Acho que, nesse momento, lembrei-me de um poema de
Drummond (meu poeta favorito) que dizia “tinha uma pedra no meio do meu
caminho”, e pensei que “tinha 42km no meio do meu caminho, no meio do meu
caminho tinha 42km.”
E esse caminho foi
percorrido com sacrifício, com esforço e com muita Fe. Como dizia São Paulo
“Entrei com afinco na corrida, dediquei-me a ela e mantive a Fé”.
FE. Eis o elemento essencial
para vencer todos os obstáculos da vida. A maratona é somente um obstáculo a
mais neste longo caminho que é a vida. Os 42.195m foram traduzidos em 4 horas e
26 minutos de superação. Mais um obstáculo vencido. Os próximos certamente
virão, mas deste, em particular, vou lembrar enquanto viver.