segunda-feira, 18 de agosto de 2014

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.IV PARTE VI)



O último dia de Alma em Recife era também o ultimo dia na sua terra natal. Um sentimento confuso apoderou-se dela. Não conseguiu dormir bem, e ela sabia que nessa noite, embarcaria para Europa sem saber se voltaria algum dia. Uma súbita emoção tomou conta do seu coração. Pensou em Guto e ficou congelada por uns minutos. Depois, vestiu-se rapidamente e decidiu ir passear na praia. Todos estavam dormindo quando a moça desceu e, já na sala, encontrou-se com a dona da pensão, dona Marta, que com olhar desconfiado, perguntou:
- Aonde está indo mocinha?
- Bom dia, vou dar uma pequena saída e volto logo, só por uma hora. Quero ir à praia. Voltarei para tomar o café da manhã.
- Mas...- dona Marta viu a moça desaparecer pela porta principal.
Alma atravessou a rua e virou a direita até chegar na rua principal que conduzia à praia. Pelo caminho ia observando os edifícios novos e antigos, as casas de cor clara, os postes de luz e o trafego dos primeiros bondes da manhã. Gostou de tudo aquilo. A cidade ainda acordava já que era muito cedo. Não tinha medo de se perder na cidade que não conhecia muito bem, porém, sentiu-se poderosa, com a certeza de que sempre pertencera à cidade. Os primeiros vendedores de pão e leite gritavam pelas ruas e ofereciam seus produtos. A vida parecia acordar junto com a cidade e ela se considerava parte de tudo isso. Será que ela iria sentir falta de tudo isso? Digo, do seu país, do seu idioma, da sua cultura? Não saberia dizer. Algo, dentro dela parecia lhe dizer que não, ela estava indo para um novo mundo e lá poderia ser feliz.
Ao chegar à avenida que bordeava a praia, sentiu uma dor de saudades de Guto. Ele amara tanto Recife, ele contou para ela tantas histórias de Recife que agora, por ironia do destino, se encontrava nela e ele não estava mais ao seu lado. Sentiu que estava a ponto de chorar, mas conteve ás lágrimas. Atravessou a avenida e chegou à praia. Sentiu a brisa do mar que acariciou o seu rosto. Sentiu-se livre, sem magoas nem sofrimentos. Sentiu-se renovada com uma força interior que a ajudaria a suportar tudo o que a vida lhe ofereceria. Sentiu que tinha uma vida para viver, que já sofrera demais e que, de agora em diante, viveria só para ela e por ela. Tirou as sandálias e caminhou pela areia humedecida do mar. O sol a iluminava e ela sentiu a força salina da água marinha molhar a sua alma. Alma estava em paz consigo mesma. Respirou fundo e decidiu voltar. Agora já nada mais poderia detê-la. Estava pronta para enfrentar o seu destino.
Seguiu o mesmo caminho de volta à pensão. Pensou que a esta hora Dupont já deveria estar acordado e preocupado por ela. Olhou para o relógio da velha praça e percebeu que já passava das oito da manhã. Pois bem, disse ela. Era hora de se apressar.

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