domingo, 10 de agosto de 2014

O REI LEAR OU O COMPLEXO CARÁTER HUMANO






Assistindo à peça O REI LEAR de Shakespeare, no teatro EVA HERZ da Livraria Cultura, justamente na véspera do dia dos pais, não era só mera coincidência. O fato é que, há algumas semanas atrás já vinha meditando sobre o complexo, profundo, confuso e tragicômico caráter humano. Vendo a nossa realidade nua e crua conformada por ameaças do vírus “ebola” tornar-se uma epidemia, os conflitos na Ucrânia, a guerra civil da Siria, o bombardeio americano ao Iraque novamente, e o recente conflito palestino-Israelense, só posso chegar a conclusão que, se o bardo escreveu o Rei Lear no século XVII, imaginem só como pode ser tão atual em pleno século XXI
A coincidência com o dia dos pais é quase um milagre.  Não tinha encontrado ingresso para o final de semana passada, só para este, e fui assistir a genial interpretação de um dos nossos maiores atores da atualidade, Juca de Oliveira, que com quase 80 anos de vida, espremera em forma magistral o monólogo de Geraldo Carneiro, para interpretar, ao mesmo tempo, seis personagens da tragédia shakespeariana. É algo inédito no teatro e no mundo. Nenhum ator interpretou o REI LEAR como monólogo. O velho Rei Lear, cansado dos meandros do poder e da fortuna, dos privilégios e da majestade, entrega o seu reino para as duas filhas, as megeras Goneril e Regan em detrimento à terceira filha, a caçula Cordélia. Pois a injustiça que ele cometeu com a filha que realmente o amava, move a tragédia de Lear, que sendo expulso pelas duas filhas mais velhas, encontra o perdão e a redenção como pai, nos braços da doce Cordélia.
O ator Juca de Oliveira disse numa entrevista televisionada pela TV Cultura, que os pais idosos “jamais deveriam entregar seus bens aos seus filhos enquanto viverem, pois correm o risco de serem enviados a asilos ou casa de repouso”. Portanto nada mais atual no drama do Rei Lear. A ingratidão dos filhos para com os pais, a falta de paciência, a falta de respeito, de reverencia são a tônica desta obra colossal.
O teatro dá aos homens a ternura humana, como uma grande família, e através de uma boa obra de teatro, os espectadores podem sentir e viver uma elevação tal que os liberta. O teatro não é só uma expressão do um povo, de uma nação, mas a afirmação mais verdadeira e mais viva de uma civilização. O teatro nos faz sentir vivos, esquecer nossos problemas cotidianos, nos faz sentir mais humanos.
Shakespeare, certamente ficaria orgulhoso com mais uma maravilhosa encenação de sua obra.

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