Assistindo à peça O REI LEAR de
Shakespeare, no teatro EVA HERZ da Livraria Cultura, justamente na véspera do
dia dos pais, não era só mera coincidência. O fato é que, há algumas semanas
atrás já vinha meditando sobre o complexo, profundo, confuso e tragicômico
caráter humano. Vendo a nossa realidade nua e crua conformada por ameaças do
vírus “ebola” tornar-se uma epidemia, os conflitos na Ucrânia, a guerra civil
da Siria, o bombardeio americano ao Iraque novamente, e o recente conflito
palestino-Israelense, só posso chegar a conclusão que, se o bardo escreveu o
Rei Lear no século XVII, imaginem só como pode ser tão atual em pleno século
XXI
A coincidência com o dia dos pais
é quase um milagre. Não tinha encontrado
ingresso para o final de semana passada, só para este, e fui assistir a genial
interpretação de um dos nossos maiores atores da atualidade, Juca de Oliveira,
que com quase 80 anos de vida, espremera em forma magistral o monólogo de
Geraldo Carneiro, para interpretar, ao mesmo tempo, seis personagens da tragédia
shakespeariana. É algo inédito no teatro e no mundo. Nenhum ator interpretou o
REI LEAR como monólogo. O velho Rei Lear, cansado dos meandros do poder e da
fortuna, dos privilégios e da majestade, entrega o seu reino para as duas
filhas, as megeras Goneril e Regan em detrimento à terceira filha, a caçula
Cordélia. Pois a injustiça que ele cometeu com a filha que realmente o amava,
move a tragédia de Lear, que sendo expulso pelas duas filhas mais velhas,
encontra o perdão e a redenção como pai, nos braços da doce Cordélia.
O ator Juca de Oliveira disse
numa entrevista televisionada pela TV Cultura, que os pais idosos “jamais
deveriam entregar seus bens aos seus filhos enquanto viverem, pois correm o
risco de serem enviados a asilos ou casa de repouso”. Portanto nada mais atual
no drama do Rei Lear. A ingratidão dos filhos para com os pais, a falta de paciência,
a falta de respeito, de reverencia são a tônica desta obra colossal.
O teatro dá aos homens a ternura humana,
como uma grande família, e através de uma boa obra de teatro, os espectadores
podem sentir e viver uma elevação tal que os liberta. O teatro não é só uma expressão
do um povo, de uma nação, mas a afirmação mais verdadeira e mais viva de uma
civilização. O teatro nos faz sentir vivos, esquecer nossos problemas
cotidianos, nos faz sentir mais humanos.
Shakespeare, certamente ficaria
orgulhoso com mais uma maravilhosa encenação de sua obra.
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