segunda-feira, 30 de novembro de 2015

ALMA, A FILHA DO DESTINO CAP. VIII (PARTE I)

CAPÍTULO VIII

“TITA PERNAMBUCO”

O salão principal de exposições estava quente demais e ela teve que correr até o banheiro para lavar o rosto e retocar a maquiagem.
Estava suada e não suportava se sentir assim. Fevereiro era um mês muito quente. O carnaval tinha passado há alguns dias e, por fim, sua exposição de pintura era um sucesso. O salão estava lotado de gente. O prêmio que ganhou o ano passado, oferecido pela Prefeitura de Recife tinha alavancado sua carreira de pintora e obteve críticas muito favoráveis no jornal mais importante da cidade: O Diário de Pernambucano.
De frente ao espelho, ela relembrou o rosto radiante do pai, ao ler em voz alta, a resenha da filha:
“Clemência Tristão, jovem artista pernambucana conhecida no âmbito artístico como Tita Pernambuco, é uma pintora extraordinária. Sua obra é simplesmente magnífica. Seus quadros retratam como ninguém a arte pernambucana. Suas pinturas em óleo de pessoas simples do povo pernambucano são impressionantes. Sendo mulher, ela irrompe com sua arte no universo masculino, ousando configurar nos traços do povo de Pernambuco, o sofrimento e a esperança no futuro.
Surge então, uma artista mulher em Pernambuco e, com condições de ter sucesso nacional e internacional. Um produto feliz e sublime da Escola de Belas Artes de Recife”.
E sua exposição estava sendo um sucesso. Deu um sorriso leve e depois pensou no irmão falecido, Guto.
Muita coisa acontecera nesses cinco últimos quatro anos. Guto iria adorar os meus quadros, pensou. Ele sempre fora um incentivador da minha carreira artística. Pobre Guto e pobre Alma. Duas almas apaixonadas que desapareceram tão tragicamente. Pouco depois da morte de Guto, chegou a vez da pobre Alma e toda sua família. As desavenças do passado tinham dado lugar a uma profunda compaixão.
Depois da morte da mãe, dona Mercedes Tristão, dois anos após a morte de Guto, ela teve que ter toda a força do mundo para ajudar e consolar o velho pai. Dona Mercedes nunca conseguiu superar a morte do filho médico e seu coração destruído não suportou tamanha tristeza. Sempre fora uma mulher dócil, meiga e muito maternal. As perdas tinham sido muito difíceis para Tita, mas com sua arte ela deu a volta por cima. E depois conheceu Luiz Eduardo, um oficial de carreira da Policia Militar de Pernambuco que, nos corredores do hospital onde a mãe estava internada, os dois compartilharam a mesma preocupação e a dor der um ser querido enfermo. O pai de Luiz Eduardo, morreu uma semana antes de dona Mercedes, e a tristeza e o luto de ambos os uniu, há pouco mais de três anos.
Voltou rapidamente ao salão e viu o seu pai, com Dudu e sua prima Mariana.
- Então querida, está satisfeita?
- Sim Mariana, onde estão o tio Zé e tia Gertrudes?
- Ah, lá naquele grupo do prefeito. Prima, sua exposição é um sucesso. Depois é só conquistar o país todo e o mundo
- Não exagera Mariana.
Mariana Albuquerque era uma das primas mais novas que ela, apesar da diferença de três anos, elas eram muito amigas e unidas por uma amizade forte. Durante a infância praticamente cresceram juntas, brincavam e sonhavam juntas. Como Tita não tinha irmã, Marianinha sempre fora uma irmã para ela. Estudaram no mesmo colégio, e ao chegar o período universitário, as primas se separaram. Marianinha estudou Letras e Tita optou pela Escola de Belas Artes.
Alta e elegante, branca e de olhos verdes, Mariana Albuquerque era vista como a beleza da família. Filha única da única irmã do seu pai, Tita achava que a prima tinha ficado um tanto esnobe e arrogante. Sempre selecionando os namorados pela situação financeira que tinham ou pela influência social, o único desejo de Mariana era ser uma expoente da alta sociedade pernambucana. Nesse momento, estava sem namorado e aproveitava qualquer evento para tentar pescar um marido rico.
- Tita, quem é aquele homem alto que não para de olhar para mim? Aquele que está do lado do Luiz Eduardo.
- É o primo dele Marianinha, mas já tem namorada, é aquela loira que está no outro grupo.
- Ah, que desânimo. Aqui todos são casados ou comprometidos.
- Marianinha, para de procurar, você vai achar quando menos procurar.
- Pra você é fácil falar, você está muito bem acompanhada. Dudu é um partidão. Papai falou que em breve ele será superintendente da Polícia Militar do Estado. Como vão os preparativos para o casamento? Setembro está chegando!
- Marianinha, estou fazendo o que posso, primeiro só penso na carreira, mas já estou vendo algumas coisas, tipo os convites, a festa e o vestido. Não se esqueça de ver o seu vestido querida, afinal de contas, você é minha madrinha.
- Nas minhas férias, em julho vou providenciar um lindo vestido, e quem sabe até lá eu não consigo um noivo também – disse Mariana rindo.
Clemência só olhou para a prima e sorriu.
Após ser entrevistada pela rádio local e pelos jornais, Tita deu-se por satisfeita. Sua exposição foi um êxito,

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