terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O ULTIMO BAILE


Ela sempre foi uma moça admirável em todos os sentidos. A única mulher entre cinco irmãos e de beleza clássica, Carolina Vitória, sempre chamada de Caro pela família, estava prestes a se casar com Alfonso de Tovar, filho do Duque de Tovar, e de uma família nobre e distinta da Espanha.
Carolina e Alfonso tinham se conhecido desde a infância. As duas famílias eram muito amigas e os dois foram, primeiro colegas de jogo, depois veio a adolescência. Era natural que ambos se apaixonassem pois alem de serem amigos, compartilhavam muitos gostos em comum.
Um desses gostos era a dança. Carolina adorava dançar. Era a época em que uma moça de família distinta era apresentada à sociedade quando fazia quinze anos com um baile de gala.
O evento era sempre esperado com ansiedade por todas as jovens que compartilhavam os mesmos sonhos e ilusões.
Quando Caro fez quinze anos, ela foi apresentada num baile de primavera e, claro, o seu par na dança foi Alfonso.
Carolina era alta, de olhos azuis profundos, cabelo loiro claro, a pele branca e o sorriso encantador. Naturalmente a sua beleza deixava os homens da época tontos.
Dona de uma elegância sem par, a jovem e bela moça se destacava no tênis e era uma eximia pianista. Falava varias línguas e era verdadeiramente culta e independente.
Os pais e os irmãos ficaram felizes quando Alfonso a pedira em casamento. Foi há dois anos atrás no aniversario do pai dela em pleno inverno madrilenho.
A partir do momento em que ficaram comprometidos, começaram os preparativos para o casamento. A festa seria inesquecível, disse o pai da Caro, enquanto planejavam o lugar, os convidados, a viagem de núpcias, etc.
Durante esses dois anos que ficara comprometida com Alfonso, Carolina desabrochou como uma flor na primavera. Ficara cada vez mais bonita e charmosa.
Alfonso também era um jovem elegante e bonito. Alto e magro, de um profundo olhar, os seus olhos eram de um verde escuro, os cabelos negros, e usava barba e bigode.
Amante dos esportes, especialmente a equitação, Alfonso adorava cavalos. Na fazenda da família nas escondidas planícies castelhanas, ele criava cavalos de raça e touros.
Os noivos costumavam viajar muito acompanhado da família. Os verões iam para San Sebastián, um famoso balneário no pais Vasco, no norte do país. O inverno geralmente passavam a temporada cultural de Madri.
Agora, ela se preparava para outro baile, o baile do final de ano.
Sentada frente ao espelho do seu “bodoir”, Carolina se maquiava suavemente. A mãe acabara de sair do seu quarto, já pronta para o baile, e logo mais, Alfonso viria buscá-la.
Enquanto se olhava ao espelho, olhou para o relógio. Ainda não eram as oito da noite. O baile começaria as nove. Se dirigiu até a janela do seu quarto e através dela pode perceber que deixara de nevar. Tinha nevado desde a noite de natal. A rua estava sumida num tapete branco de gelo e os faróis das esquinas iluminavam a fria noite silenciosa.
Voltou ao espelho e sentiu uma pequena dor no peito. Achou que fosse o seu vestido de tafetá vermelho que a estava apertando. Mas a dor passou como magia. Então bebeu o seu acostumado copo de água e se dirigiu à sala onde a família a esperava.

As luzes do salão principal de baile da Duquesa de Alba, brilhavam com tal intensidade que as jóias das ilustres convidadas ao baile de final de ano, refulgiam acompanhadas do som de uma orquestra instalada num canto da sala.
No outro salão se serviria o jantar após a meia noite. Inúmeros convidados da camada mais alta da sociedade se concentraram na casa da Duquesa, no Palácio de Liria, para receber com alegria e festa o novo ano de 1943.
La fora, os empregados e os motoristas dos carros que estacionavam frente ao palácio, sofriam com o frio rigoroso do inverno. La dentro, tudo era diferente. Tapetes e cortinas grossas e todas as lareiras acesas, aqueciam o ambiente. Vasos com flores de todo tipo trazidas de Sevilha davam um toque alegre e distinto à festa.
As mulheres elegantes com suas jóias caras e seus casacos de pele acompanhadas dos seus também elegantes maridos subiam as escadas de mármore da duquesa que levava ao primeiro andar onde se encontrava o salão de baile.
Carolina chegou a festa pontualmente as nove da noite do braço de Alfonso. Enquanto os pais dela cumprimentavam os anfitriões, Carolina olhou para os lustres imponentes do palácio. Tudo era harmonioso e refinado, tudo era incrivelmente luxuoso e chique.
A orquestra começara a tocar e os convidados começaram a dançar.
Assim que Caro entrou no salão, seu noivo a abraçou e a levou para dançar.
Dançaram sem parar durante quase duas horas. Só pararam para jantar. O jantar acabou pouco antes das onze da noite e a baile continuou.
Carolina dançava e dançava ao som da valsa. Sorria feliz e satisfeita nos braços do seu Alfonso que também se sentia muito feliz.
Quando deu a meia noite, após todos se cumprimentassem, Carolina e Alfonso iniciaram a valsa Danúbio Azul de Strauss. Alfonso levava a sua amada nos braços seguindo a melodia. Tudo parecia estar perfeito. O novo ano começara e em menos de um mês já estariam casados.
Na sua mente passavam as imagens do passado e do futuro. Carolina entrando na igreja cheia de flores brancas nos braços do pai, a lua de mel na Itália, o rosto de alegria dos amigos e parentes e a beleza da Caro, essa beleza extraordinária que encantava a todos a quem a conheciam.
Os seus pensamentos foram interrompidos quando percebeu que Caro apoiou a sua cabeça no seu peito e parecia dormir.
A valsa terminou nesse instante. Alfonso olhou para ela e tentou acordá-la. Ela não se mexeu. Quando Alfonso insistentemente chamava por ela e ela não respondia, ele se alarmou. Gritou o seu nome e todos os presentes se dirigiram até o casal. Trouxeram uma cadeira e a fizeram sentar. O corpo mole e leve da Caro, sentada numa cadeira ao lado de Alfonso parecia anunciar uma tragédia.
Um médico foi chamado. Ele verificou o pulso da moça e o coração. Nenhum sinal vital no corpo esbelto e belo de Carolina. O médico fez um gesto de negação com a cabeça e Alfonso compreendeu que sua amada tinha falecido.
Comoção geral no salão. O médico disse que Carolina morrera de um infarto fulminante do coração enquanto dançava nos braços do seu noivo.
O baile de Ano Novo, foi o ultimo baile da bela e radiante Carolina.

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