A JANELA VAZIA (I)
Todos os dias e a qualquer hora, a multidão desvairada e apressada invadia a avenida. Das estações de metrô, das esquinas, dos pontos de ônibus podia ver-se uma coluna humana atravessando a Paulista, esperando os carros passarem ou simplesmente entrando nos grandes edifícios comerciais da região. A cada dia, a rotina repetia-se num fluxo incessante do tempo. Era a vida urbana de São Paulo que corria pelas calçadas, pelas faixas de pedestres, pelos carros que rodavam por esta que é conhecida como a artéria mais importante da capital.
Os edifícios de cor cinza, vermelho, branco ou de vidro fumê, exibiam um panorama de efervescente progresso A Avenida Paulista deixara de ser, há alguns anos, o centro comercial da cidade, mas conservara sem esforços, a sua marca cosmopolita, sua exuberância, acolhendo todo tipo de cidadãos do mundo, com suas estranhas crenças, suas tribos, suas exóticas vestimentas, em fim, sua heterogeneidade.
O mundo passava pela Paulista, dia após dia. A cacofonia incessante do seu tráfego, do seu colorido e das suas esquinas, era o pão nosso de cada dia.
Mas para um homem de meia idade, que ficava horas a fio observando, da sua janela esse mundo que passava, a Paulista era mais do que uma simples avenida: era a referencia da sua própria vida.
O arquiteto Germano Constantini morava no 12 andar de um prédio de esquina, no começo da avenida. Da sua janela via-se a Paulista em toda a sua extensão, em todo o seu esplendor.
Ele era escritor. Havia escrito livros de suspense e todos os cenários de suas historias concentravam-se na Avenida Paulista.
Visto da rua, a janela verde do prédio parecia vazia. Mas, para um observador sagaz, podia perceber a ponta de um aparelho escuro, num dos cantos dela: um binóculo. Era o instrumento de trabalho de Germano.
Com uma meticulosidade surpreendente, o escritor passava o dia todo observando detalhes e anotando-os num velho caderno. Dessa paisagem, Constantini tirava as loucas historias de suspense, transformados em obra literária.
O vai e vem da multidão se repetia, mas certa manhã, ele viu uma mulher loira, alta e muito bonita. Parecia esperar alguém na esquina da Paulista com a rua Augusta, em frente à estação de metrô. A mulher parecia uma estátua, e Germano concentrou-se nela.
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