Numa manhã quente de segunda feira,
um carro com placa de Recife parou frente ao Posto Malta. Dois homens de meia
idade desceram dele e entraram na venda. Damião estava atendendo quando viu os
dois homens de terno branco e gravata se derretendo com o calor.
- Bom dia, gostaríamos de falar com o
Seu Rubião Rocha. Ele mora aqui?
- Bom dia. Eu sou filho dele. Ele
esta trabalhando nos canaviais, fora da cidade. Quem gostaria?
- Sou o doutor Ricardo Alvim,
advogado da família Tristão. Vim falar com o Senhor Rocha. Meu cliente, o
doutor Augusto Tristão, tem um recado para ele.
Após atravessar toda a cidade, os
dois homens chegaram até a casa de Rubião Rocha. Ele tinha acabado de chegar do
trabalho e estava tomando banho quando Alma foi atender as visitas.
- Pois não?
- Bom dia, moça. Esta é a casa de Seu
Rubião Rocha?
A moça assentiu com a cabeça.
- Somos os advogados Alvim e Mattos,
viemos de Recife para falar com o Seu Rocha.
Nesse momento Dadá apareceu. Alma
estava assustada.
- Meu marido já vem. Bom dia. Sou Das
Dores Malta. Mas o que vocês querem com ele?
- Viemos trazer um recado do meu
cliente, o tabelião Tristão, de Recife.
- Que tipo de recado? – Dadá estava
nervosa – Espero que o seu cliente saiba que tanto ele como nos, sofremos muito
com a tragédia. Todos perdemos muito.
- Desculpe minha Senhora. Entendemos
muito bem. Mas é um recado muito importante. Não se preocupe. O meu cliente nos
mandou em paz.
Nesse momento, Rubião Rocha saiu para
atende-los.
Como estava muito quente, sentaram
sob uma mangueira, perto da casa. Dadá e Alma entraram e deixaram Rubião com os
advogados.
- Em primeiro lugar – disse o
advogado Alvim – o doutor Tristão sente muito tudo o que aconteceu com vocês e
manda condolências. A confusão era tanta no começo que não teve tempo nem de
escrever. Ele esta muito absorvido na investigação policial.
- Investigação? Que investigação? –
disse Rocha nervoso- não está tudo resolvido? Os assassinos apareceram mortos,
o grande canalha conseguiu fugir longe, e nos tempos que engolir a injustiça a
cada dia!
- Sim, senhor Rocha, eu entendo, mas
o meu cliente manda dizer que a investigação foi mandada para o Rio de Janeiro.
Ele conseguiu reabrir o inquérito policial. Esta vez com investigação federal.
- O que? Mas isso vai resolver algo?
- O doutor Augusto crê que sim. Ele
vai mover céus e terra para achar o filho do prefeito foragido.
- Infelizmente não é um foragido. Não
acusaram o canalha de nada. E, no entanto aqui estamos nos. O doutor Tristão e
eu, injustiçados, perdidos e abalados com tudo.
- Sim senhor Rocha. Mas o doutor
Tristão manda dizer que ele esta indo para o Rio de Janeiro e que teremos
alguma novidade. Também manda os seus cumprimentos.
Rubião Rocha pareceu se acalmar um
pouco. Olhou para os advogados e disse seriamente:
- Tudo bem. Obrigado doutor Alvim.
Diga ao seu cliente que aguardo novidades. Que espero que ele tenha muita sorte.
Para o bem de todos nos. Sei o que é perder um filho. Só quem passou por isso
pode saber. Também mando os meus cumprimentos.
- Obrigado Seu Rocha. Até logo.
Saberá noticias em breve. Tudo vai se resolver, acredite.
- Passar bem!.
Rubião viu os dois homens entrarem no
carro e desaparecerem pela estrada de terra que levava à cidade. Enquanto via o
carro desaparecer na curva da mata, olhou para a esposa e a filha que
aguardavam na porta.
- Muito bom – disse quase com um
suspiro.
Alma percebeu que não tinha nenhum
recado para ela. Era como se não existisse. Guto tinha morrido e ela também,
aos olhos da família Tristão. Às vezes sentia saudades de Clemencia. Ela
poderia ter sido de grande ajuda durante os terríveis momentos de luto e
desespero. Mas Clemencia não tinha mandado nenhuma noticia, nenhum bilhete, nem
sequer um cumprimento. Alma sabia, no fundo do seu coração que a família de
Guto estava contra ela, a culpava de tudo o que tinha acontecido e isso doía
muito para a pobre moça. Mas, o que ele poderia fazer? Só sofrer. Sofrer em
silencia.
Na solidão da noite escura, as
lagrimas corriam pelo seu rosto. O desespero era terrível porque deixava a
mente cega, cega de pensamentos inúteis e nada positivos. A vida adquiria um
viés de escuridão e desesperança que fazia com que o seu sofrimento fosse ainda
pior. Mas no dia seguinte, ela se recompunha, ela voltava a ser aquela moça
dócil que ajudava a mãe e que não tinha absolutamente nenhum interesse no
futuro. Assim passava os dias. Parecia que nada novo aconteceria na sua vida.
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