terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP. III PARTE V)


Numa manhã quente de segunda feira, um carro com placa de Recife parou frente ao Posto Malta. Dois homens de meia idade desceram dele e entraram na venda. Damião estava atendendo quando viu os dois homens de terno branco e gravata se derretendo com o calor.

- Bom dia, gostaríamos de falar com o Seu Rubião Rocha. Ele mora aqui?

- Bom dia. Eu sou filho dele. Ele esta trabalhando nos canaviais, fora da cidade. Quem gostaria?

- Sou o doutor Ricardo Alvim, advogado da família Tristão. Vim falar com o Senhor Rocha. Meu cliente, o doutor Augusto Tristão, tem um recado para ele.

Após atravessar toda a cidade, os dois homens chegaram até a casa de Rubião Rocha. Ele tinha acabado de chegar do trabalho e estava tomando banho quando Alma foi atender as visitas.

- Pois não?

- Bom dia, moça. Esta é a casa de Seu Rubião Rocha?

A moça assentiu com a cabeça.

- Somos os advogados Alvim e Mattos, viemos de Recife para falar com o Seu Rocha.

Nesse momento Dadá apareceu. Alma estava assustada.

- Meu marido já vem. Bom dia. Sou Das Dores Malta. Mas o que vocês querem com ele?

- Viemos trazer um recado do meu cliente, o tabelião Tristão, de Recife.

- Que tipo de recado? – Dadá estava nervosa – Espero que o seu cliente saiba que tanto ele como nos, sofremos muito com a tragédia. Todos perdemos muito.

- Desculpe minha Senhora. Entendemos muito bem. Mas é um recado muito importante. Não se preocupe. O meu cliente nos mandou em paz.

Nesse momento, Rubião Rocha saiu para atende-los.

Como estava muito quente, sentaram sob uma mangueira, perto da casa. Dadá e Alma entraram e deixaram Rubião com os advogados.

- Em primeiro lugar – disse o advogado Alvim – o doutor Tristão sente muito tudo o que aconteceu com vocês e manda condolências. A confusão era tanta no começo que não teve tempo nem de escrever. Ele esta muito absorvido na investigação policial.

- Investigação? Que investigação? – disse Rocha nervoso- não está tudo resolvido? Os assassinos apareceram mortos, o grande canalha conseguiu fugir longe, e nos tempos que engolir a injustiça a cada dia!

- Sim, senhor Rocha, eu entendo, mas o meu cliente manda dizer que a investigação foi mandada para o Rio de Janeiro. Ele conseguiu reabrir o inquérito policial. Esta vez com investigação federal.

- O que? Mas isso vai resolver algo?

- O doutor Augusto crê que sim. Ele vai mover céus e terra para achar o filho do prefeito foragido.

- Infelizmente não é um foragido. Não acusaram o canalha de nada. E, no entanto aqui estamos nos. O doutor Tristão e eu, injustiçados, perdidos e abalados com tudo.

- Sim senhor Rocha. Mas o doutor Tristão manda dizer que ele esta indo para o Rio de Janeiro e que teremos alguma novidade. Também manda os seus cumprimentos.

Rubião Rocha pareceu se acalmar um pouco. Olhou para os advogados e disse seriamente:

- Tudo bem. Obrigado doutor Alvim. Diga ao seu cliente que aguardo novidades. Que espero que ele tenha muita sorte. Para o bem de todos nos. Sei o que é perder um filho. Só quem passou por isso pode saber. Também mando os meus cumprimentos.

- Obrigado Seu Rocha. Até logo. Saberá noticias em breve. Tudo vai se resolver, acredite.

- Passar bem!.

Rubião viu os dois homens entrarem no carro e desaparecerem pela estrada de terra que levava à cidade. Enquanto via o carro desaparecer na curva da mata, olhou para a esposa e a filha que aguardavam na porta.

- Muito bom – disse quase com um suspiro.

Alma percebeu que não tinha nenhum recado para ela. Era como se não existisse. Guto tinha morrido e ela também, aos olhos da família Tristão. Às vezes sentia saudades de Clemencia. Ela poderia ter sido de grande ajuda durante os terríveis momentos de luto e desespero. Mas Clemencia não tinha mandado nenhuma noticia, nenhum bilhete, nem sequer um cumprimento. Alma sabia, no fundo do seu coração que a família de Guto estava contra ela, a culpava de tudo o que tinha acontecido e isso doía muito para a pobre moça. Mas, o que ele poderia fazer? Só sofrer. Sofrer em silencia.

Na solidão da noite escura, as lagrimas corriam pelo seu rosto. O desespero era terrível porque deixava a mente cega, cega de pensamentos inúteis e nada positivos. A vida adquiria um viés de escuridão e desesperança que fazia com que o seu sofrimento fosse ainda pior. Mas no dia seguinte, ela se recompunha, ela voltava a ser aquela moça dócil que ajudava a mãe e que não tinha absolutamente nenhum interesse no futuro. Assim passava os dias. Parecia que nada novo aconteceria na sua vida.


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