sábado, 8 de fevereiro de 2014

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.III PARTE IV)


Em Recife, a noticia da morte de Augusto chegou como uma tempestade na família Tristão. Na noite anterior, Dona Mercedes não tinha dormido nada bem. Acordou varias vezes e perdeu o sono. O dia amanheceu aparentemente normal para a família. O Doutor Augusto Tristão pai aproveitara o sábado para visitar um velho amigo que estava doentae no hospital, Clemencia tinha ido estudar com uma colega e, Dona Mercedes decidiu limpar o jardim posterior da casa. Passou a manhã toda trabalhando eliminando a sujeira, adubando a terra e plantando algumas flores. Após o relógio marcar as onze da manhã, foi preparar o almoço. O marido e a filha chegaram perto do meio dia e logo após se levantarem da mesa, decidiram todos descansar.

Clemencia ouvir a porta bater e foi rapidamente atender. Eram quase cinco da tarde quando ela recebeu  dois homens da policia.Pediram para falar com seu pai. O doutor Augusto estava lendo um livro na sala quando recebeu os homens.

Clemencia, ao escutar a noticia por boca dos policias quase teve um desmaio. Mas decidiu ser forte porque se preocupava com a saúde dos pais. Ela ajudou o pai a se sentar e trouxe um copo de água. Nesse instante entrara na sala a mãe, que tinha ouvido tudo da outra sala. Dona Mercedes caiu desmaiada, e Clemencia, ajudada pelos policias a levou para o quarto. O médico foi chamado. O caos reinou na casa.

Após os tristes funerais, Augusto Tristão começou uma jornada de investigação. Insistiu com o delegado em mandar efetivos para Inajá para apurar o crime, e assim foi. Clemencia teve que cuidar dos pais, especialmente da mãe que ficara doente após os funestos acontecimentos. Ninguém entendia nada.

Após algumas semanas, durante a investigação, soube-se que o motivo do crime tinha sido passional, pelo menos pelo lado de Gerônimo Bezerra. Aquilo motivou uma transformação nos sentimentos da família Tristão pela pobre noiva do médico. Alma foi motivo da morte de Guto. A culpada de tudo. A causa dessa horrível tragédia. Os Tristão não foram misericordiosos. Mas, quem sofria muito com tudo isso era a Clemencia, porque ela gostava de Alma e sabia que a historia estava mal contada. Um dia ela tentaria esclarecer. O que pensava Alma de tudo isso? Até onde ela sabia, era apaixonada pelo seu irmão, então, as coisas não deveriam ter sido dessa forma.

O Coronel Bezerra tinha contatos poderosos com as altas esferas da política e do judiciário pernambucano. O inquérito não prosperou por falta de provas. Ninguém conseguiu provar que o filho do prefeito estava envolvido no assassinato. Os assassinos apareceram mortos na cadeia de Inajá e assim, a história terminou. Mas não para a família Tristão. Eles estavam dispostos a continuar com o processo e o velho tabelião insistia perante as autoridades para que o caso não se encerrasse. Os principais jornais de Recife aderiram à causa dos Tristão e os ataques da imprensa incomodavam  terrivelmente o Coronel Bezerra.

Gerônimo Bezerra tinha fugido para Europa. Pelo menos isso é o que dizia nas bocas das comadres fofoqueiras do sertão do Moxotó.

Após o encontro com o velho Pajé nas margens do rio, Alma nunca mais tinha sido vista nadando no rio. Perdeu todo o desejo pelos banhos de lama, pelas águas mornas do Moxotó. Parecia uma moça perdida. Algumas vezes a mãe notava que ela estava ausente, assim como o pai. Dadá a via definhar todos os dias e começou a se preocupar com ela.

- Minha filha. Quero conversar com você- disse a mãe da moça. – Senta aqui ao meu lado.

A filha obedeceu, silenciosa.

- Quero que você saia de Inajá. Quero que vá morar com meu irmão em Recife. Quero que continue os seus estudos por lá, e esqueça esta cidade horrorosa. Nos estaremos sempre aqui, mas você precisa seguir a sua vida.

Alma não responde. Somente olhou para a mãe e tentou sorrir.

- Entende minha filha? – Disse Dadá preocupada – Quero que você siga a sua vida adiante. É muito menina para sofrer e aqui só há sofrimento. Vou escrever para o seu tio e ele te receberá. Devia ter aproveitado o enterro do seu avô para falar com ele, mas naquela vez estava sem cabeça.

A moça sorriu para a mãe e olhou para o quintal. Imaginou o Guto chegando na casa para vê-la. Duas lágrimas correram pelo seu rosto. Alma tinha a alma quebrada.

 

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