É comum escutar que São Paulo é uma cidade grande, fria e
individualista. Ninguém fala com ninguém, ninguém é amigo de ninguém, cada um
se vira como pode, e no final, a cidade é um lugar carente de sentimentos, de
humanidade, em fim.
Pois bem, nunca acreditei nesses clichês vindos de pessoas,
possivelmente traumatizadas com a cidade, pela violência, e talvez por não se
acostumar à grandeza de São Paulo.
Neste último sábado de verão escaldante. Fui andar de
bicicleta na ciclovia do Rio Pinheiros. O dia já tinha começado muito quente. O
rio estava quase morto de sede, os edifícios elegantes da marginal Pinheiros
exibiam o seu melhor modernismo arquitetônico. A cidade enfrentava mais um dia
de intenso calor.
Após o treino de 20km, ao sair da estação Vila Olímpia da
CPTM, eis que o pneu da minha bike, simplesmente murchou. Ou seja, furou.
Comecei então uma via sacra a procura de uma borracharia de bike e me disseram
que tinha uma na Rua Alvorada, umas dez quadras do lugar onde me encontrava.
Não tive outra opção. Tive que carregar a minha bike a mão e, graças a Deus,
tinha encontrado a borracharia em questão.
O dono do lugar me disse que o pneu estava totalmente
destruído e que tinha que trocar por um novo. Quando disse que sim, lembrei que
não tinha levado carteira comigo. Só alguns trocados para comprar água ou
outras necessidades. Então falei para ele que não tinha dinheiro e que levaria
a bike comigo e tentaria chegar em casa a pé (minha casa distava uns cinco
quilômetros do lugar).
Ele falou que não tinha problema. Trocou o meu pneu e me
disse que poderia pagar quando pudesse. Então, veio à mente uma palavra:
HUMANIDADE. Alguém nesta grande cidade ainda confia no seu semelhante. Alguém
ainda pratica a chamada humanidade, tão rara nos nossos dias. Pensei, com
alegria interior, que não importava o que diziam da minha cidade. Podem dizer
que é fria, distante, desumana. Mas, ela também tem cidadãos bons, decentes,
simples, em fim, humanos. A humanidade não é mais do que bondade, sentimento de
amor para com o próximo. Algo que deveríamos praticar todos os dias porque ela
nos faz seres especiais e elevados perante Deus.
Dias depois, voltei ao lugar e paguei a minha conta. E, a partir
de agora, já tenho um lugar onde levar a minha bike, em qualquer momento. Foi
um simples, singelo, e para muitos, insignificante; mas para mim, um momento
mágico e eterno.
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