CAPÍTULO VI
“SAINT ASSISE”
Cinquenta quilômetros ao sul de Paris, ao sul dos bosques de
Forêt de Rougeau, na região de Melun-Sur-Seine, estava localizada a pequena
cidade de SEINE PORT, de apenas três mil habitantes. A cidade foi um pequeno e
importante porto durante a guerra que abastecia as tropas que estavam no front
ocidental. Pequeno porto pesqueiro do sul da França, Seine-Port era também uma
região agrícola. Ruas estreias, com velhas mansões estilo regência. Pela
entrada litorânea da estrada D50, importante Rue de Croix Fontaine era o local
mais pujante da cidade. Comercio de lojas, padarias, um cinema, sorveterias e
cafés estavam apinhadas numa pequena área de apenas cinco quarteirões. A Rue de
Melun levava até a ribeira do rio, perto de um pequeno bosque urbano que era o
lugar mais prazeroso para os moradores da cidade.
Mas Seine-Port era mais conhecida pela produção agrícola de
suas propriedades rurais. Velhos proprietários das terras viveram ali por séculos
e passaram todo tipo de adversidades, guerras, revoluções, doenças, mas
continuavam firmes. A simplicidade dos habitantes era a marca registrada desse
povo sofrido e discreto.
As propriedades rurais estendiam-se através de Bois
Saint-Assise, uma reserva ecológica a beira do rio Sena, onde a natureza
oferecia o seus mais belos frutos e flores durante a estação primaveril. E no
meio desse encravado de bosques e rio, de propriedades e paisagem agrícola,
estava SAINT ASSISE, a propriedade rural da família Brigny.
Os Brigny eram camponeses que se dedicaram sempre a cultivar
a terra, as flores aromáticas. E com Louis Brigny, avô de Margarete, entraram
no negócio da elaboração de essências de flores e forneciam para as melhores
marcas de cosméticos e perfumes do país. Foi o pai de Margarete, Jean Louis
Brigny que abriu a loja de essências em Montmartre e toda a produção das
essências era feita em Saint Assise.
Quando Louis Brigny faleceu em consequências de ferimentos da
Primeira Guerra, sua filha, Margarete, tomou conta dos negócios da família.
Margarete era uma jovem loira, de estatura baixa e quando
menina foi um pouco rechonchuda. Não era uma beleza estonteante, era uma jovem
simpática e até atraente pelo sorriso contagiante e uma alegria sem igual, mas
não era bela. Única filha de Louis
e Isabelle, Margarete sempre
gostou de flores aromáticas e sempre ajudou o pai nos negócios da família Sendo
muito jovem perdera o pai, e já morando em Paris nos meados dos anos vinte,
apaixonou-se por um jovem advogado de Montmartre, Henri Valèré. O que a pobre
Margarete não sabia era que o jovem era bem casado em Marselha e que a enganara
deixando-a grávida e com o coração partido.
A partir desse momento, Margarete vivera só para o filho e
suas essências.
Uma história triste, de fato, mas nada incomum. A maioria das
jovens passavam pela mesma situação após a guerra, quando os soldados voltavam
da guerra, feridos, psicologicamente extenuados e sendo abandonados pelas
esposas. Não era o caso de Henri e Margarete, mas a história de separações e
gravidez inesperada eram muito comuns nessa época.
Com o abandono do namorado, Margarete teve que enfrentar a
sua situação sozinha. Os pais já tinham falecido, e ela teve que contar com
ajuda de alguns parentes para cuidar do menino e continuar com a loja.
Certamente a vida não fora fácil para a jovem, mas ter um
filho trouxe-lhe um animo a mais e a ajudou a trabalhar muito mais e com mais
energia. Cuidar de um filho sozinha, sendo mãe solteira era muito
desconfortável, mas Margarete era desses seres humanos que consegue dar a volta
por cima e que não se importa com a opinião dos outros. Ela sofrera
preconceito, ela teve que suportar os olhares de reprovação de muitos, mas
continuou firme e não só sobreviveu, como também conseguiu um certo renome nos
negócios da família.
“Saint Assise” sempre fora um paraíso para os Brigny. A
propriedade se estendia desde as margens do Sena até os bosques de Saint
Assisse, nos limites entre as cidades de Seine-Port e Saint Leu. Não era uma
propriedade pequena, a maior parte era de plantação de flores de diversos
tipos, do outro uma pequena granja onde um par de vacas, galinhas, patos e
porcos proporcionavam alimentos à família.
Desde o portão de ferro que permitia a entrada, uma pequena
avenida de arbustos levava até a casa antiga pintada de rosa. De dois andares,
todas as janelas tinham uma pequena sacada de ferro cheia de flores. Uma sala
estilo rústico interiorano, moveis pesados de madeira e peroba, alguns quadros
familiares, uma grande cozinha e os quartos superiores, todos eles davam para
um pequeno jardim ao redor da casa, faziam parte desta moradia um tanto
simples, mas charmosa.
Claire Dupont fora passar um final de semana de julho com os
Brigny. Ela foi de carro acompanhada do pai que decidiu que, se a filha gostava
tanto deles, era hora de conhece-los melhor. Joan Maintreux também estava com
eles para aproveitar um final de semana de verão onde as altas temperaturas em
Paris especialmente, se abatia sobre todos.
Ao chegar à propriedade, Gerard, Claire e Joan tiveram uma
surpresa agradável. Não imaginavam, nem de longe, que o lugar seria tão bonito.
O Jardim florido com arvores altas davam ao ambiente uma sensação de
tranquilidade. Claire se apaixonou pelo lugar imediatamente. Margarete e Henri
os esperavam na porta da casa. O calor era intenso.
- Que bom que chegaram! – disse Madame Brigny – espero que
não tenham sofrido com o calor durante a viagem
- Como vai Madame? – disse Gerard – o calor não incomodou
- Meu Deus Henri, a sua casa é linda! – disse Joan – Como vai
Madame?
- Muito bem. Como vai Claire?, gostou do lugar?
- Adorei Madame Brigny, adorei, não pensei que fosse tudo tão
lindo!
Eles entraram e os anfitriões mostraram os quartos de
hóspedes no andar superior. Antes de subir a escada, Henri disse a Claire:
- Que bom que gostou de Saint Assise, vamos explorar o lugar
mais tarde, após o almoço, você deve ver o rio.
- O rio? – Claire, de repente olhou para longe. O rio.
Lembrou-se do seu querido Moxotó e sentiu uma punçada de saudades.
Os quartos do andar superior estavam situados pelo lado do
jardim traseiro da casa de dois andares, pintado de rosa suave e rodeado de
árvores. As janelas eram amplas, os quartos espaçosos e o cheiro de flores
perfumadas. Gerard Dupont estava fascinado pela propriedade pelas
características da paisagem e pela flora do lugar. Desde o seu quarto olhou
para as acácias, os arbustos, e alguns pinheiros que dispostos por uma trilha
suave que conduzia ao rio. Tudo era bucólico e romântico. Gerard estava
acostumado a vegetação de todas as regiões do país, mas este lugar era
simplesmente maravilhoso. Deixou a mala encima da cama e desceu para explorar o
terreno.
Joan e Claire ficavam no quarto ao lado do Gerard. Elas
também desceram depressa. Claire disse a Joan que Henri iria acompanha-las até
o rio após o almoço.
As meninas encontraram a Margarete no jardim sentada no meio
de plantas e conversando com Gerard Dupont.
- Meninas, por favor, tomem uma limonada, está fazendo calor
aqui
- Mas não é tanto quanto na cidade, aqui está agradável.
Aproveitaram para explorar os arredores da casa. O jardim era
convidativo e prazeroso. Havia uma brisa suave de verão que soprava os cabelos
de Claire. Henri explicava todo o lugar. Gerard aproveitava para checar todo
tipo de plantas.
Margarete serviu o almoço no jardim. Comeram CASSOULET e Gerard bebeu um vinho de
Borgonha.
- Soberbo! – disse com prazer.
Após o almoço, Margarete levou Gerard até o pequeno
orquidário uns metros da casa e Henri levou as meninas até o rio.
A trilha serpenteava no meio de arvores altas e tupidas.
Caminharam uns quinze minutos e chegaram até uma pequena enseada onde o rio
Sena fazia uma curva perfeita. Ao ver o rio, Claire ficou extasiada.
- Meu Deus, que beleza!
- Aqui o Sena é muito grande! – disse Joan impressionada.
- Sim, é grande, mas esta praia é bem rasa, podemos tomar
banho sem perigo, a correnteza não é muito forte devido a curva.
- Eu nunca teria medo do rio, disse Claire aproximando-se da
praia.
0 lugar era fantástico. Às aguas do rio deslizavam-se serenas
e tranquilas, um vento fresquinho soprava e os três jovens sentaram na areia
olhando para o rio.
- Não sei se entraria no rio – disse Joan – tenho um pouco de
medo.
- Eu não, adoro rios. Quando menina costumava nadar em um
perto da minha casa. O Brasil tem muitos rios enormes como este.
- E você nadava sozinha? - perguntou Joan
- Claro, ficava pertinho de casa. - ficou em silencio e
depois disse com um suspiro – Moxotó, esse era o nome do meu rio, e era só meu.
Todos ficaram em silencio. Claire olhava para o rio e lembrou
de que ela era Alma Rocha, a menina do rio.
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