Assim, Homero chegou a Vassouras para começar imediatamente
seu trabalho. O Colégio era bom, a administração excelente e os alunos
obedeciam a mais rígida disciplina. Tudo parecia que mudaria na sua vida, mas a
solidão que sentia dentro da alma ia crescendo e a tristeza também o que fazia
sua cruz muito pesada.
Nas noites de calma e silencio, a leitura dos clássicos era
uma panaceia para sua sensível sensação de perda. Adorava Machado de Assis, Eça
de Queiroz, os poemas de Drummond e de Fernando Pessoa. Clarice Lispector lhe
dava uma explicação ao caos íntimo que vivia. Certa noite sonhou com a
escritora que lhe confiava suas angustias e seus medos. Ele sentiu-se então
mais compreendido. Ele não era amado e precisava amar para sentir-se vivo, mas
por outro lado, não encontrava uma razão na vida para amar. Seu trabalho era
monótono mas lhe dava uma certa satisfação; sua vida era vazia e silenciosa
como a escuridão de uma noite sem estrelas. Suas ilusões e anseios mais íntimos
eram como névoas que impediam-no a ver o futuro. Não conseguia enxergar nada
além mais da rotina. Eis o quadro trágico do nosso personagem.
Os horários de trabalho eram religiosamente cumpridos.
Entrada as 8 da manhã. Um descanso para o café, das 10 ás 10.30. Mais uma aula
até o meio dia. Almoço até as 14hs e depois voltava a dar aulas até ás 17hs.
Após o almoço, costumava ler um livro de poemas no jardim do colégio ou alguma
leitura interessante na ampla biblioteca do colégio.
Certa vez, ao sair do trabalho, decidiu passar pela farmácia
próxima a praça principal para comprar uns analgésicos devido a fortes dores de
cabeça. A farmácia Nova Vassouras ficava frente à praça. Ao sair do local,
decidiu cruzar o parque e sentou-se num banco solitário perto da estátua de Dom
Pedro II. Gostava dessa hora do dia, quando a luz do sol do dia, perdia-se no
meio das colinas que circundavam à pequena cidade. Ouviu então um latido
esganiçado de um cachorro no meio das plantas do jardim, ao lado do banco em
que estava sentado.
Levantou-se e foi ver um pequeno cachorro vira-lata que gemia
no meio das plantas. Era pequeno, e tinha uma das pernas sangrando. O cãozinho
chorava de dor. Movido por um sentimento de profunda compaixão, ele
aproximou-se do cachorrinho, e o levantou no colo. Levou o pequeno cão até a
Veterinária ao lado da Farmácia e disse:
- Por favor, acabei de encontrar este cachorro ferido, quero
que cuidem suas feridas. A perna está sangrando.
- Tudo bem. Vou chamar o veterinário.
Homero ficou esperando por meia hora. Já anoitecia e
perguntou-se o que dona Elvira preparou para o jantar já que estava morrendo de
fome. O veterinário apareceu logo depois.
- O cachorro está bem, mas deverá ser cuidado. O senhor é o
dono dele?
- Não, eu só o encontrei na praça, no meio das plantas.
- Então vou ter que ligar para a prefeitura para que venham
busca-lo. Vão leva-lo para o canil público.
- Canil público? – disse Homero assustado – de jeito nenhum.
Eu vou cuidar dele. Vou pagar o tratamento. Não posso deixa-lo num canil.
- Tudo bem.
Pouco depois, o professor saia da Veterinária com o pequeno
cachorro marrom de fusinho torto nos braços.
- Fique tranquilo meu amigo, vou cuidar de você.
Lá no céu, as estrelas começavam a brilhar. Assim começou a
mudar a vida do solitário professor de história.
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