segunda-feira, 13 de abril de 2015

O AMIGO DE TERMÓPILAS (CONTO)

O AMIGO DE TERMÓPILAS

(CONTO)

Um homem calvo de cinquenta e poucos anos, caminhava cabisbaixo pela longa rua que seguia até o Colégio onde era professor de História. Sua vida estava tecido de experiências tristes, de perdas irreparáveis e de uma sensação de vazio. A solidão pode ser um bálsamo e uma gota amarga de decepção na vida, de acorde com sua origem, sua causa e seu desenvolvimento. Ela é fruto de experiências e de genética. Pela experiência de vida, a solidão se cristaliza em atitudes tristes; pelas regras da genética, ela está dentro do sangue da pessoa solitária e aumenta com a passagem dos anos.
O Professor Homero de Farias, tinha nome do grande historiador grego, chamado o Pai da História Ocidental, e fazendo “jus” ao nome do famoso autor de “A Ilíada e da Odisseia”, o professor Homero era um silencioso apreciador de História antiga e de História brasileira. Dava aulas num famoso Colégio religioso da cidade de Vassouras, no interior Fluminense e morava na mesma rua do colégio, a Rua dos Inconfidentes, nro.16.
Sua vida particular era um mistério para todos, mas para ele próprio, sua vida estava entrelaçada por uma tragédia familiar que viveu no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu há mais de meio século. Solteiro por dolorosa experiência, sozinho por dolorosa convicção, nosso amigo professor era um solitário por natureza. Duas vezes por semana, dona Elvira, uma senhora de meia idade, ia até sua casa ajuda-lo nos afazeres domésticos como limpeza, lavagem de roupa, de louça e regava as plantas do pequeno jardim.

O Professor Homero mudou-se para Vassouras logo após a morte da mãe, de uma dolorosa batalha contra o câncer, há cinco anos atrás. Ele cuidava da mãe viúva há mais de trinta anos. Seu pai era um funcionário dos Correios do Estado do Rio de Janeiro e fora atropelado por um ônibus ao sair do trabalho numa terrível tarde chuvosa de verão. Seu único irmão mais novo, fora morto num assalto estúpido na orla de Copacabana enquanto trabalhava como motorista de taxi nos anos noventa. Em fim, uma vida tecida de tragédia e tristeza. Para coroar a cruz de Homero, sua noiva, Amelinha Fortes, bela e escultural professora de Artes do Colégio Pedro II, sucumbiu em menos de um ano a uma leucemia galopante que deixou o nosso personagem a beira da loucura. A doença da mãe lhe deu motivos para viver após a perda do irmão e da noiva, mas depois que dona Genoveva de Farias faleceu, ele não quis ficar um minuto a mais no Rio. Então, lhe ofereceram um cargo de professor em Vassouras e para lá mudou-se com uma pequena mala após vender tudo o que lhe recordasse o passado.

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