O AMIGO DE TERMÓPILAS
(CONTO)
Um homem calvo de cinquenta e poucos anos, caminhava
cabisbaixo pela longa rua que seguia até o Colégio onde era professor de
História. Sua vida estava tecido de experiências tristes, de perdas
irreparáveis e de uma sensação de vazio. A solidão pode ser um bálsamo e uma
gota amarga de decepção na vida, de acorde com sua origem, sua causa e seu
desenvolvimento. Ela é fruto de experiências e de genética. Pela experiência de
vida, a solidão se cristaliza em atitudes tristes; pelas regras da genética,
ela está dentro do sangue da pessoa solitária e aumenta com a passagem dos
anos.
O Professor Homero de Farias, tinha nome do grande
historiador grego, chamado o Pai da História Ocidental, e fazendo “jus” ao nome
do famoso autor de “A Ilíada e da Odisseia”, o professor Homero era um
silencioso apreciador de História antiga e de História brasileira. Dava aulas
num famoso Colégio religioso da cidade de Vassouras, no interior Fluminense e
morava na mesma rua do colégio, a Rua dos Inconfidentes, nro.16.
Sua vida particular era um mistério para todos, mas para ele
próprio, sua vida estava entrelaçada por uma tragédia familiar que viveu no Rio
de Janeiro, cidade onde nasceu há mais de meio século. Solteiro por dolorosa
experiência, sozinho por dolorosa convicção, nosso amigo professor era um
solitário por natureza. Duas vezes por semana, dona Elvira, uma senhora de meia
idade, ia até sua casa ajuda-lo nos afazeres domésticos como limpeza, lavagem
de roupa, de louça e regava as plantas do pequeno jardim.
O Professor Homero mudou-se para Vassouras logo após a morte
da mãe, de uma dolorosa batalha contra o câncer, há cinco anos atrás. Ele
cuidava da mãe viúva há mais de trinta anos. Seu pai era um funcionário dos
Correios do Estado do Rio de Janeiro e fora atropelado por um ônibus ao sair do
trabalho numa terrível tarde chuvosa de verão. Seu único irmão mais novo, fora
morto num assalto estúpido na orla de Copacabana enquanto trabalhava como
motorista de taxi nos anos noventa. Em fim, uma vida tecida de tragédia e
tristeza. Para coroar a cruz de Homero, sua noiva, Amelinha Fortes, bela e
escultural professora de Artes do Colégio Pedro II, sucumbiu em menos de um ano
a uma leucemia galopante que deixou o nosso personagem a beira da loucura. A
doença da mãe lhe deu motivos para viver após a perda do irmão e da noiva, mas
depois que dona Genoveva de Farias faleceu, ele não quis ficar um minuto a mais
no Rio. Então, lhe ofereceram um cargo de professor em Vassouras e para lá
mudou-se com uma pequena mala após vender tudo o que lhe recordasse o passado.
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