Aconteceu simplesmente numa tarde de
primavera e, aconteceu numa sala de cinema, numa sessão da tarde e com pouco
público. Lá estavam elas: as palavras.
Era uma estória de um escritor que não
conseguia expressar tudo aquilo que sentia em palavras. O seu estilo era muito
bom, escrevia bem, notavelmente bem, mas não conseguia transmitir o que sentia
de forma completa; expressar sentimentos que poderiam tocar o coração ( e a
vida) dos seus futuros leitores. E um dia, quando visitava Paris, entrou numa
loja de antiguidades e comprou uma velha pasta de couro. Achou que seria
interessante usa-la para levar os manuscritos - a via sacra dos manuscritos!-
às editoras.
Um belo dia, ao abrir a pasta num
compartimento quase escondido, encontrou um manuscrito antigo, escrito à
máquina de escrever, e começou a ler. Ali estavam às palavras que tanto queria
ter escrito e não conseguira. Resolveu copia-lo e o entregou a um editor. Foi
um sucesso. Tornara-se um grande e famoso escritor, premiado e badalado por um
livro de palavras emprestadas.
No meio do sucesso, aparece o
verdadeiro autor do livro; um homem velho que tinha perdido tudo o que
escrevera nessa pasta, num trem de Paris. É o nosso jovem escritor deparou-se
com a verdade, melhor dizer, com a mentira. Mas aquelas palavras roubadas o tinham
levado a uma encruzilhada: o erro que cometera.
Agora ele tinha que lidar com a
culpa, com a dor da estória do verdadeiro autor do romance, com as palavras que
não lhe pertenciam.
A nossa vida é feita de escolhas e,
as escolhas não são fáceis. Muitas vezes são doloridas, sangram e são pesadas
demais como as palavras que as definem. Mas temos a chance de conviver com elas
e tirar o melhor proveito delas, mesmo que isso nos custe lágrimas e noites de insônia.
Muitas vezes a criação é um doloroso
ato de coragem.
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