24 de abril. Essa era a data do casamento e, na última semana
de março Marcelo levou a noiva para mostrar a casa que tinha comprado para
eles.
A casa era de cor clara, uma pequena varanda na entrada e um
pequeno jardim. Ela formava parte de uma vila no mesmo bairro da Mooca, perto
da casa dos pais dela. Era grande. Tinha uma sala ampla, dois dormitórios, uma
cozinha não muito grande, mas também nada pequena e uma área de serviços de
tamanho considerável. No fundo, ao lado da garagem, um pequeno pátio, ideal
para ter um cachorro.
Juliana adorou tudo, ela só pensava na imensa felicidade que
sentia e que sentiria ao morar na casa.
Mas, dizem que a vida pode ser um rio tranquilo que, ao mudar
de curso transforma-se numa corrente perigosa. Sim, a vida, às vezes, nos
reserva surpresas desagradáveis e incomodas.
Essa noite de abril caia uma tênue garoa sobre “a cidade da
garoa”. Marcelo dirigia a caminhonete do pai para levar alguns moveis à sua
nova casa e, com ajuda de dois amigos de infância, terminou o trabalho em tempo
recorde. Depois foram beber cerveja no Bar do seu Manoel, na rua da Mooca.
A alegria reinava no ar.
- Só faltam duas semanas Marcelo! – gritou seu Manoel do
outro lado do balcão. – é melhor se preparar para mudar de vida.
- Pois é, seu Manoel, estou ansioso e não vejo a hora!
Depois de mais uma rodada, os amigos foram embora e Marcelo
entrou na caminhonete um tanto bêbado.
Juliana observou o vestido de noiva que estava pendurado no
cabide ao lado do armário. Era lindo, pensou e sentiu vontade de vesti-lo mais uma
vez.
Sua mãe, dona Mariana, lhe ajudou. Colocou o vestido, o véu e
a grinalda. Olhou-se no espelho. Estava
muito bonita. Sorriu para a mãe.
De repente, sentiu um estremecimento que vinha do fundo da
alma. Uma sensação de medo, agonia, desespero. Nunca tinha sentido algo assim
antes.
Tirou o vestido muito rápido e foi correndo para o banheiro a
lavar o rosto. Olhou-se no espelho mais uma vez. A sensação não passava. Era
como se, no fundo do coração soubesse que poderia acontecer algo grave.
Marcelo dirigia a caminhonete a alta velocidade. Faltava só
cinco quarteirões para chegar na sua casa e dormir. Sentia-se muito cansado. O
dia fora longo.
Quando virou na esquina de sua rua, não viu uma placa de
interdição. Foi só um segundo quando percebeu que a rua estava em obras de
canalização de esgoto. Arremeteu o veiculo sobre o cavalete de cor laranja e
tentou frear, mas já era muito tarde. A caminhonete bateu nos tubos de cimento
empilhados, com uma violência que o estrondo ouviu-se por toda a vizinhança.
Nesse momento parou de garoar.
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