domingo, 8 de fevereiro de 2015

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP. VII PARTE IV)

Paul du Clermont saiu até o terraço de sua casa e contemplou o horizonte nesse entardecer de outono. A paisagem amarela e feérica trouxe à sua mente a pequena Claire Dupont. Durante todo o dia, não deixou de pensar nela. Claire era uma moça encantadora. Quando no café da manhã seu pai lhe contou tudo o que acontecera com a filha de Gerard Dupont, Paul escutou com atenção, depois sentiu uma profunda compaixão. A partir dali, pensou em como ajudá-la a se recuperar e sair desse momento tão duro e difícil.
Antes do jantar, enquanto esperava o pai, ele via como a paisagem do outono em Clermont-Ferrand proporcionava um ambiente bucólico e melancólico. As folhas amarelas cobriam as arvores perto das montanhas, na cidade, as luzes iluminavam a tarde, quase noite. Enquanto meditava sobre o assunto, chegou a conclusão de que iria a Paris falar com a Claire. Era hora de prestar o seu apoio, seu ombro amigo. A final de contas, o que ele significava para ela senão um bom amigo. Um bom amigo. As palavras brotavam na sua mente mas com um gosto meio amargo. Ele desejava ser mais do que um amigo para ela. Ele percebeu que a pequena Claire era objeto do seu desejo mais puro, do seu amor.
Mas, por enquanto – pensou enquanto via o pai chegar – vou ser o amigo que ela precisa. Quem sabe um dia.
Durante o jantar, falou dos seus planos para o pai.
- Amanhã vou para Paris. Vou visitar Claire Dupont.
- Ah e? Isso é muito bom – disse Jean bebendo uma taça de vinho – pelo que soube dela, está num estado de tristeza lamentável. Não é para menos. Pobre garota.
- Eu não sabia que ela estava namorando aquele rapaz
- O relacionamento começou no verão, um amor de verão. Bem, pelo menos, não durou. O único que lamentamos é que tenha acabado desse jeito. Gerard me escreveu dizendo que estava muito preocupado pela filha.
- Sim, por isso queria visita-la e ver em que poderia ser útil.
- Faz bem, meu filho, é o correto. Vá ver o que pode fazer por ela.

*******

Nos dias seguintes, a chuva parou de cair sobre a cidade, mas as baixas temperaturas continuaram nesse outono estranho e melancólico, assim como os dias cinzentos e nublados. No apartamento dos Dupont, Claire decidiu voltar as aulas na próxima semana. Durante alguns dias, Joan a ajudava com as lições. Na sala, Madame Brigny trabalhava nos aromas e Claire a ajudava. A moça decidiu também ir até a loja e continuar o trabalho. Isso foi um milagre, especialmente com a ajuda de Margarete que, como prometera, não deixou de apoiar à moça.
Quando as duas caminharam pela Boulevard St Michel, em direção à escola, Claire olhou para o rio Sena e a ponte. De longe, podia ver-se as torres de Notre Dame. De repente, Claire pediu a Joan que a acompanhasse até a ponte. Queria ver o rio. Desde a morte de Henri era a primeira vez que Claire, emergindo do seu sofrimento, confrontava-se com as memorias tristes.
Caminharam uns metros e ali estava o rio Sena. Silencioso e com correnteza suave que, em nada lembrava um rio perigoso. Mas para Claire, o rio representava tudo aquilo de mal tinha acontecido na sua vida.
Olhou seriamente do alto da ponte. Duas lágrimas brotaram dos seus olhos negros. Suspirou profundo e disse com voz aterradora, quase afogada:
- O que é que você esconde, maldito rio?
Deram meia volta em direção a escola. Joan ficou calada.
Claire ajudava Margarete escrevendo informações sobre perfumes quando ouviu a campainha da porta principal. Foi atender. Era a primeira vez em duas semanas que tendia à porta.
Paul du Clermont estava diante dela. Com um sobretudo azul e chapéu elegante. Os olhos brilhantes de alegria a deixaram um pouco perturbada.
- Olá Claire, vim te visitar. Posso entrar?
- Paul!..claro, entra – disse meio encabulada.
O rapaz entrou e percebeu que Claire estava com alguém. Uma senhora de meia idade, de óculos, levantou o olhar e sorriu.
- Bom dia..
- Bom dia Madame.
- Ela, ela é Madame Margarete Brigny. Estamos trabalhando com algumas informações sobre ervas aromáticas.
- Prazer, Madame – disse Paul cumprimentando Margarete com um aceno.
- O prazer é meu. Aceita um café?
- Obrigado.
- Vou preparar na cozinha. Já volto Claire.
- Obrigado, Madame Brigny – disse Claire convidando Paul a se sentar.
- Então, como você está Claire? Eu soube pelo meu pai tudo o que aconteceu e vim saber se você precisa de alguma coisa, qualquer coisa.
- Estou melhor. Obrigada. Obrigada por se preocupar. Obrigado pela visita.
- Não precisa agradecer Claire, eu só vim ver você e saber se precisa de algo. Somos amigos, e neste momento, os amigos são de grande utilidade.
- Sim, é verdade. Como vai o seu pai?
- Está bem.
- Você vai ficar muito tempo na cidade?
- Sim, dois dias. Preciso resolver algumas questões de negócios, como sempre. Mas também vim para te oferecer minha casa, caso você queira sair da cidade. Você pode ficar lá o tempo que quiser.
- Obrigado Paul – nesse momento entrou Madame Brigny com uma bandeja de café e biscoitos.
- Café para os dois.
- Obrigado Madame. – disse Paul. – muito gentil.
- Não agradeça, não é nada. Claire, vou verificar o que temos para o almoço. Estarei na cozinha.
- Obrigada. Na verdade, agradeço o seu convite Paul, porém agora será um pouco difícil. Na segunda feira recomeço minhas aulas na escola. Perdi quase três semanas e senão fosse a minha amiga Joan Montreaux, estaria perdida. Devo recuperar o tempo perdido. Mas agradeço, de verdade, o seu convite, é uma oferta tentadora. Guardo lembranças lindas de Royat.
- Bem – disse terminando o café – minha oferta estará sempre de pé e o meu pai também envia o convite e lembranças.
- Obrigada mais uma vez Paul. Diga a Monsieur Clermont que agradeço muito e que pensarei com carinho sobre isso.
- Posso te ver amanhã, antes de partir?
- Claro, a que horas sai o seu trem?
- As quatro da tarde.
- Então venha almoçar com a gente. Papai estará aqui e ele vai ficar feliz em te ver,
- Combinado.
- Estarei te esperando. Obrigada.
Paul ficou se levantou e deu-lhe um beijo no rosto e, acenando para Madame Brigny que apareceu na porta da cozinha, saiu pela porta da sala.


*******

Nenhum comentário:

Postar um comentário