quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.VII PARTE V)

Paul tinha ido jantar com os Dupont e tinha passado muito bem. Fora um jantar, para ele, maravilhoso. A pequena Claire estava simplesmente vestida, mas simplesmente deslumbrante. Havia um certo ar de tristeza no olhar da garota, mas quando sorria, e era muito raro acontecer, parecia que todo o lugar se iluminava.
Foi um jantar entre amigos. Paul sempre fora muito bem recebido por Gerard e por Claire e sempre gostou muito de alternar com eles. Após o jantar, e depois de tomar um delicioso café, ele despediu-se com polidez.
Dias depois, já sentado no seu escritório em Royat e observando a mudança lenta da estação, percebeu que não podia esquecer Claire. Tinha que voltar a vê-la, então, decidiu escrever uma carta à moça dizendo que estaria na cidade novamente e que gostaria de revê-la.

“Eu estarei na cidade por uns dois ou três dias, dentro de uma semana, e gostaria muito de rever você e seu pai. Poderia ser? Antes de ir à Paris, te enviarei um telegrama avisando a data exata. Estou tentando encontrar uma forma de agradecer o maravilhoso jantar da semana passada. Você, além de cozinheira exemplar, é uma eximia anfitriã”.
Despachou a carta e começou a planejar a viagem. Paul du Clermont era um rapaz agradável e brilhante. Tinha uma conversa prazerosa com os que era apresentado e sempre deixava uma boa impressão por onde passava. Alto e elegante, de olhos azuis intensos e um bonito sorriso, o porte aristocrático do rapaz era notável e atraia olhares femininos por onde andava. Já tinha tido algumas namoradas durante o período universitário, mas nunca tinha encontrado alguém especial com quem desejasse ficar estabelecido.
A aparição na sua vida de Claire Dupont o deixara nervoso e ansioso ao mesmo tempo. Mas ele era o suficientemente controlado para deixar transparecer os seus sentimentos e emoções. Na sua classe, a demonstração de sentimentos não era bem visto. Porém, parecia que a filha do melhor amigo do seu pai, o fazia sentir muito apreensivo. Quando ele soube que ela era apaixonada por Henri Brigny, optou por um discreto isolamento. Mas agora, o destino dava uma reviravolta. Henri estava morto, um lamentável acidente, e Paul sentia que tinha mais esperanças em conquistar o coração de Claire.
Apesar de voltar lentamente à vida normal, Claire nunca recuperou a alegria. Durante dias, durante semanas, ela voltara a estudar com afinco, dedicava-se ao trabalho na loja de Madame Brigny e não voltara mais a falar sobre Henri. Aliás o nome do amado ficou no coração e na mente, nunca era pronunciado. Margarete e Joan não tocavam no assunto porque perceberam que ela ainda não estava pronta. De qualquer forma, Gerard respirou aliviado ao ver sua filha estudando todos os dias e trabalhando. Pelo menos, pensou ele, ela está se distraindo e isso vai ajudá-la a sair da depressão. Mas, talvez a pessoa que mais a observada era Margarete, que desde que prometeu ao Gerard que estaria ao lado da filha, nunca mais a abandonou. Estava sempre com ela, comiam juntas, trabalhavam juntas e parecia que Margarete, apesar da perda irreparável que sofreu, era muito mais forte que todos. Claire percebeu muito depressa que, sem a ajuda de Madame Brigny, sua vida seria um inferno. Ela não só agradeceu mas também fez de tudo para ficar ao lado da mãe de Henri. As duas pareciam depender uma da outra.
Com o passar do tempo, Margarete percebeu que uma dura capa parecia cobrir a alma de Claire. A menina não sorria, e tinha um olhar duro, uma vontade impenetrável, um desejo oculto, um mistério indecifrável.
- Claire, não teve mais notícias do seu amigo Paul? – perguntou Joan à amiga na loja.
- Bem, desde a última vez que ele foi almoçar em casa, já fazem duas semanas, recebi uma carta dele dizendo que estaria na cidade por estes dias e que queria me visitar.
- Hum.... ele é tão bonito – disse Joan com um suspiro.
- Ele é um bom amigo. Me convidou para passar uns dias em Clermont- Ferrand, mas eu não aceitei.
- E, por que não? – perguntou Madame Brigny. – Que eu saiba quando você foi me disse que o lugar era muito bonito.
- Sim, foi no verão, antes de tudo acontecer – depois ficou em silencio -, mas agora não tem mais graça.
- Ah, boba, se eu fosse você aceitaria sim, uns dias te faria sentir muito melhor.
- É bom mudar de ares, de vez em quando. Eu preciso ir a Saint Assise resolver alguns problemas com os caseiros, e quero ir antes de que as primeiras nevascas cheguem.
Ao ouvir a palavra Saint Assise, Claire sentiu que o seu sangue gelava. Não disse uma só palavra, continuou trabalhando nas misturas das ervas aromáticas como se nada tivesse acontecido.
- Claire, na próxima semana vou ter que ir para o campo por uns dias. Você ficaria na loja pra mim?
- Claro, sem problemas. Joan e eu vamos ficar bem.
- Ótimo – disse com um sorriso.
O silencio permaneceu por uns minutos. Só foi quebrado quando um cliente entrou na loja.

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