domingo, 22 de janeiro de 2012
DIARIO DE UM CORREDOR
RECONHECENDO A CIDADE: CORRIDA ATÉ O CENTRO DE SAMPA
Nunca imaginei que seria tão bom conhecer os cantos mil desta cidade tão especial como São Paulo, correndo através dela, pelas suas ruas, suas praças, seus jardins, seus monumentos, em fim, sua própria vida.
Como tinha um longo treino a fazer, acordei muito cedo neste sábado de janeiro, vésperas do aniversário da cidade. Em poucos dias mais, a minha querida São Paulo completará 458 anos de existência.
Saí do meu prédio no bairro de Campo Belo, aproximadamente as seis da manha. Ainda estava escuro, parecia que seria um dia nublado e o silencio das ruas convidava à meditação enquanto começava a correr.
Primeiro quilômetro: interseção da Avenida Vereador Jose Diniz com à Demóstenes, bem perto da ponte da Avenida dos Bandeirantes. Passei frente ao Shopping Ibirapuera na avenida do mesmo nome. O transito estava tranquilo, a cidade parecia adormecer no meio de um mar de calmaria e sonhos.
Cheguei até a Avenida Republica do Líbano e fui até o parque do Ibirapuera. Ali deram os três primeiros quilômetros. Passei pela beirada do parque e entrei na Avenida Brasil, no elegante bairro de Jardins.
Os casarões charmosos do bairro pareciam não querer acordar. O céu já estava claro. Quilômetro sete.
Atravessei a Nove de Julho, à Rebouças, e entrei na Avenida Sumaré. Quilômetro dez.
Subi até a Avenida Doutor Arnaldo e passei frente ao Hospital de Clinicas. Aqui comecei a notar um transito mais carregado.
Entrei no começo da paulista. Quilometro onze. E decidi descer até o centro pela rua da Consolação. Chego até a Igreja do mesmo nome e atravesso a São Luiz. Quilometro doze.
Sem perceber, já estava frente ao centenário e, recém reformado Teatro Municipal e contemplei o Vale do Anhangabaú desde o Viaduto do Chá. Entrei na Libero Badaró e cheguei no Mosteiro de São Bento. Quilômetro quinze. Este lugar é sagrado, e nesta manhã de Sábado, parecia adquirir uma aura especial de espiritualidade. O meu café favorito, o “Girondino`s” estava prestes a abrir.
No meio dos prédios antigos e históricos, cheguei ao Pátio do Colégio, o lugar da fundação da cidade onde se encontra o Museu Anchieta. Ao lado, o Palácio de Justiça, de cor rosa com colunas centenárias, tinha uma imponência que me impressionou. Umas pombas voavam frente à coluna da praça. Poucas pessoas ao redor. O dia já estava começando. Eram às sete e meia da manha e completava o quilômetro dezesseis.
Dali à Praça da Sé foi um pulo. O marco zero da cidade estava cheio de gente, entrando e saindo do metrô, tomando café nos bares ao redor, e os vendedores ambulantes já estavam oferecendo suas mercadorias. A cidade, certamente, já tinha acordado.
Peguei a Avenida Liberdade e atravessei o bairro mais oriental de São Paulo. Aqui o ambiente era de trabalho e euforia. Muitas tendas já estavam sendo montadas para a grande festa do ano novo chinês, o ano do dragão, que começaria neste final de semana.
Passei pelas estações São Joaquim e Vergueiro, o Centro Cultural São Paulo, com a sua construção moderna e contraditória, e cheguei à estação Paraíso do metrô. Quilômetro dezenove.
Cruzei a avenida e entrei na Rua Abílio Soares. Dali até o parque do Ibirapuera era uma descida só. Cheguei ao parque quando percebi que já estava no quilometro vinte e um e meio. Já tinha corrido uma meia maratona.
Entrei no parque que, como sempre, estava cheio de corredores, caminhantes e ciclistas. Já deram às oito da manhã. O Sol não aparecia ainda. Tudo estava nublado, mas também tudo estava cheio de vida e esperança.
No parque encontrei alguns colegas de corrida. Era a primeira vez que os encontrava neste ano. Foi um encontro maravilhoso: abraços, sorrisos e beijos. A vida é muito boa.
Atravessei o parque e a Avenida República do Líbano, corri por meio das ruas de Moema e terminei o quilometro 25 na Avenida Ibirapuera, quase enfrente a Igreja Nossa Senhora Aparecida de Moema.
Assim, através da corrida, dei um passeio pela cidade. Passei por tantos lugares, tão diferentes uns dos outros e, tudo isso é a cidade. A minha cidade, aquela que aprendi a amar e respeitar, aquela que me acolhe dia a dia e que me surpreende com seus mistérios e segredos, com sua dureza e sensibilidade, com sua delicada arte, com seus habitantes heterogêneos e tão singulares. Essa mistura da alma paulistana é o que mais me atrai na cidade. Tão nova e tão velha, mas sempre eterna: São Paulo.
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