Claire adorou a primavera em Paris. A cidade estava vestida
de flores e multicores como um caleidoscópio fascinante de alegria e de charme.
Nunca tinha visto flores mais belas, jardins excêntricos e elegantes, o verde
da grama, as arvores cheias de folhas verdes e de flores que davam à cidade a
impressão de estar num enorme jardim. Ela e Joan passeavam pela cidade,
conhecendo os recantos mais lindos, as ruas, os cafés, as praças e as pontes do
rio tinham um charme sem igual.
Quando as aulas terminavam mais cedo, as meninas iam até a Fonte
de Medici tomar sorvete. Depois, Claire acompanhava a amiga até o ponto do
bonde que a levaria para casa. Ficavam conversando na esquina do Boulevard
Saint Michel com a Rue Racine onde Joan pegava o bonde que a levava à
Montmartre. Joan observava tudo ao redor com olhos curiosos e todos os dias
tinha algo novo que a cidade lhe oferecia. O bonde atravessava toda a Cidade
Universitária, depois o rio Sena para entrar na Île de la Cité onde Joan via as
torres de Notre Dame. Após cruzar novamente o rio, saia da ilha para entrar na
Rue Rivoli e passar frente ao Museu do Louvre, a praça do Carrossel, Le Palais
Royal, a avenida da Operá, a Praça Vendôme, a Rue de la Paix até o Palais
Garnier, a Rue la Fayette, atravessar o Boulevard de la Chapelle , para descer
frente ao Teatro de l’Atelier na esquina da Rue D’Orsel com a Rue des 3 Frère,
que era a rua de sua casa.
Montmartre era o bairro que a Joan gostava de viver e que a
Claire adorava. Muitos finais de semana, as duas amigas percorriam as suas ruas
charmosas, subiam as escadarias do Sacrae Couer e contemplavam Paris do alto da
colina. O bairro tinha um charme único, não só pelos cafés, chocolaterias ou
suas lojas, mas também pela amabilidade de seus moradores. O pai de Joan,
Monsieur Louis Mantriex, as esperava no seu café, chamado SAINT PIERRE,
exatamente na esquina da Rue 3 Frères com a Tardieu com um saboroso “eclaire du
chocolate” e um café único que Claire não deixava de apreciar. O café era
encantador. Na frente tinha um pequeno espaço ao ar livre com seis mesinhas e
cadeiras para que os clientes pudessem apreciar a esquina movimentada. Era
pintado de verde, e cheio de plantas ornamentais. Por dentro era maior. No
centro tinha uma escultura de Diana, a caçadora, que o proprietário tinha ganhado
de um amigo escultor. O ambiente era agradável e aconchegante e sempre estava
lotado.
Com o passar do tempo, o pequeno confeiteiro de Antony, onde
tinha nascido, abrira o café após a morte da mulher, quando a pequena Joan só
tinha dez anos. E decidira abrir o seu próprio negócio em Montmartre. O café
fora um sucesso e em pouco tempo, Louis Mantriex consolidou-se como um micro
empresário.
E foi numa dessas incursões que as meninas faziam pelas ruas
do bairro que, uma tarde de domingo, elas desceram do funicular na Gare Basse e
ao entrar na Rue André Barsacq, a duas quadras da casa de Joan, viram uma
pequena casa branca de dois andares com uma pequena sacada cheia de plantas. Ao
lado da porta principal tinha um cartaz que dizia “Loja de Perfumes e essências Madame Brigny”. Claire parou frente a
porta de vidro toda pintada de branca. As meninas olharam pela janela e viram
uma pequena loja cheia de perfumes e plantas. Claire, sem dizer uma só palavra,
abriu a porta e adentrou no local que exalava perfume de flores. Joan a
acompanhou surpresa pelo interesse da amiga.
No meio de pequenas garrafas perfumadas e exóticas, o olhar
de Claire Dupont se impressionava com o local, como se ela estivesse entrando
num santuário sagrado e almejado por muito tempo. Todo o passado veio à tona.
Lembrou-se das ervas do Pajé, da lama do rio Moxotó, lembrou-se de sua família,
lembrou-se de Guto, o seu amor perdido. Mas as lembranças não eram tristes,
eram consoladoras. De repente, Claire virou Alma Rocha, aquela menina inocente
de Inajá, que vira o seu destino mudado e que agora parecia ser outra pessoa.
De uma porta lateral, ela virou para encontrar uma mulher
roliça de meia idade, de cabelos prateados e de um olhar desconfiado.
- Pois não? – disse com voz autoritária.
Claire e Joan ficaram surpresas com o que parecia uma
intromissão aos seus pensamentos.
- Só estávamos olhando, desculpe – disse Joan meio
encabulada.
- Fiquem a vontade. Temos todo tipo de perfumes e essências
para meninas como vocês.
O olhar de Claire continuava por toda a loja. Depois de um
profundo silencio, disse:
- Usam essências aromáticas florais e exóticas nos perfumes?
Me refiro às flores tropicais, da América ou da África.
Joan Mantriex olhou surpresa para a amiga. Madame Brigny
também.
- Sim, efetivamente, usamos flores e aromas tropicais. Venham
comigo, lhe mostrarei todas as essências que usamos.
Elas acompanharam a dona da loja por um pequeno corredor
lateral que levava até outra sala, bem maior e mais iluminada. Claire ficou
surpresa com tantas garrafinhas de essências. Numa parte, perto da janela, só
tinha essência de flores tropicais. Ela correu até o estante e começou a
cheirar as garrafas com um interesse incrível.
- Jazmin, Azaleia, Verde Tropical....Interessante!
- Vejo que a Mademoiselle conhece muito de essências
tropicais.
- Sim, do lugar de onde vim, temos muitas dessas flores e
cheiros.
- Pardon, mas de onde é a Mademoiselle?
- Do Brasil.
- Du Brésil, muito interessante.
- Aqui a senhora tem uma essência que desconheço, como chama
isto?
- Isso é Coty, uma essência de flores francesas da Provence
misturadas com calêndula africana. É um primor, não acha?
- Sim, adorei. Vou levar.
Esse dia foi o mais especial para Claire Dupont. A partir
desse momento, sabia que tinha que voltar à loja de Madame Brigny.
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