quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.V PARTE V)


Claire adorou a primavera em Paris. A cidade estava vestida de flores e multicores como um caleidoscópio fascinante de alegria e de charme. Nunca tinha visto flores mais belas, jardins excêntricos e elegantes, o verde da grama, as arvores cheias de folhas verdes e de flores que davam à cidade a impressão de estar num enorme jardim. Ela e Joan passeavam pela cidade, conhecendo os recantos mais lindos, as ruas, os cafés, as praças e as pontes do rio tinham um charme sem igual.

Quando as aulas terminavam mais cedo, as meninas iam até a Fonte de Medici tomar sorvete. Depois, Claire acompanhava a amiga até o ponto do bonde que a levaria para casa. Ficavam conversando na esquina do Boulevard Saint Michel com a Rue Racine onde Joan pegava o bonde que a levava à Montmartre. Joan observava tudo ao redor com olhos curiosos e todos os dias tinha algo novo que a cidade lhe oferecia. O bonde atravessava toda a Cidade Universitária, depois o rio Sena para entrar na Île de la Cité onde Joan via as torres de Notre Dame. Após cruzar novamente o rio, saia da ilha para entrar na Rue Rivoli e passar frente ao Museu do Louvre, a praça do Carrossel, Le Palais Royal, a avenida da Operá, a Praça Vendôme, a Rue de la Paix até o Palais Garnier, a Rue la Fayette, atravessar o Boulevard de la Chapelle , para descer frente ao Teatro de l’Atelier na esquina da Rue D’Orsel com a Rue des 3 Frère, que era a rua de sua casa.

Montmartre era o bairro que a Joan gostava de viver e que a Claire adorava. Muitos finais de semana, as duas amigas percorriam as suas ruas charmosas, subiam as escadarias do Sacrae Couer e contemplavam Paris do alto da colina. O bairro tinha um charme único, não só pelos cafés, chocolaterias ou suas lojas, mas também pela amabilidade de seus moradores. O pai de Joan, Monsieur Louis Mantriex, as esperava no seu café, chamado SAINT PIERRE, exatamente na esquina da Rue 3 Frères com a Tardieu com um saboroso “eclaire du chocolate” e um café único que Claire não deixava de apreciar. O café era encantador. Na frente tinha um pequeno espaço ao ar livre com seis mesinhas e cadeiras para que os clientes pudessem apreciar a esquina movimentada. Era pintado de verde, e cheio de plantas ornamentais. Por dentro era maior. No centro tinha uma escultura de Diana, a caçadora, que o proprietário tinha ganhado de um amigo escultor. O ambiente era agradável e aconchegante e sempre estava lotado.

Com o passar do tempo, o pequeno confeiteiro de Antony, onde tinha nascido, abrira o café após a morte da mulher, quando a pequena Joan só tinha dez anos. E decidira abrir o seu próprio negócio em Montmartre. O café fora um sucesso e em pouco tempo, Louis Mantriex consolidou-se como um micro empresário.

E foi numa dessas incursões que as meninas faziam pelas ruas do bairro que, uma tarde de domingo, elas desceram do funicular na Gare Basse e ao entrar na Rue André Barsacq, a duas quadras da casa de Joan, viram uma pequena casa branca de dois andares com uma pequena sacada cheia de plantas. Ao lado da porta principal tinha um cartaz que dizia “Loja de Perfumes e essências Madame Brigny”. Claire parou frente a porta de vidro toda pintada de branca. As meninas olharam pela janela e viram uma pequena loja cheia de perfumes e plantas. Claire, sem dizer uma só palavra, abriu a porta e adentrou no local que exalava perfume de flores. Joan a acompanhou surpresa pelo interesse da amiga.

No meio de pequenas garrafas perfumadas e exóticas, o olhar de Claire Dupont se impressionava com o local, como se ela estivesse entrando num santuário sagrado e almejado por muito tempo. Todo o passado veio à tona. Lembrou-se das ervas do Pajé, da lama do rio Moxotó, lembrou-se de sua família, lembrou-se de Guto, o seu amor perdido. Mas as lembranças não eram tristes, eram consoladoras. De repente, Claire virou Alma Rocha, aquela menina inocente de Inajá, que vira o seu destino mudado e que agora parecia ser outra pessoa.

De uma porta lateral, ela virou para encontrar uma mulher roliça de meia idade, de cabelos prateados e de um olhar desconfiado.

- Pois não? – disse com voz autoritária.

Claire e Joan ficaram surpresas com o que parecia uma intromissão aos seus pensamentos.

- Só estávamos olhando, desculpe – disse Joan meio encabulada.

- Fiquem a vontade. Temos todo tipo de perfumes e essências para meninas como vocês.

O olhar de Claire continuava por toda a loja. Depois de um profundo silencio, disse:

- Usam essências aromáticas florais e exóticas nos perfumes? Me refiro às flores tropicais, da América ou da África.

Joan Mantriex olhou surpresa para a amiga. Madame Brigny também.

- Sim, efetivamente, usamos flores e aromas tropicais. Venham comigo, lhe mostrarei todas as essências que usamos.

Elas acompanharam a dona da loja por um pequeno corredor lateral que levava até outra sala, bem maior e mais iluminada. Claire ficou surpresa com tantas garrafinhas de essências. Numa parte, perto da janela, só tinha essência de flores tropicais. Ela correu até o estante e começou a cheirar as garrafas com um interesse incrível.

- Jazmin, Azaleia, Verde Tropical....Interessante!

- Vejo que a Mademoiselle conhece muito de essências tropicais.

- Sim, do lugar de onde vim, temos muitas dessas flores e cheiros.

- Pardon, mas de onde é a Mademoiselle?

- Do Brasil.

- Du Brésil, muito interessante.

- Aqui a senhora tem uma essência que desconheço, como chama isto?

- Isso é Coty, uma essência de flores francesas da Provence misturadas com calêndula africana. É um primor, não acha?

- Sim, adorei. Vou levar.

Esse dia foi o mais especial para Claire Dupont. A partir desse momento, sabia que tinha que voltar à loja de Madame Brigny.

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