“MADAME DU CLERMONT”
O verão de 1951 fora um dos mais quentes que os habitantes da
Europa enfrentaram. Em Paris as altas temperaturas obrigavam, aos que podia,
fugir da cidade e ir até as praias da Normandia ou da Costa Azul francesa.
Gerard Dupont tinha um colega da Sorbonne, um tal Louis Gayet
que era proprietário de uma casa em Nice e esse ano ele e sua esposa passariam o
verão na Áustria, por tanto oferecia sua casa para a família Dupont e qualquer
convidado que escolhessem.
Gerard pensou nos Clermont e Claire convidou Margarete e Joan
para passar umas três semanas a beira mar e apreciar a brisa marinha do sul.
Assim, no final de julho, todos embarcaram em trem. Paul e
seu pai iriam de carro até Nice e chegariam dias depois.
A cada dos Bertrand ficava numa colina a discreta distância
do centro da cidade. Era branca com grandes corredores, uma piscina de pedras.
O jardim era muito bonito e bem cuidado, uma trilha que serpenteava entre
pedras levava até uma praia afastada da cidade e sem muitos banhistas, quase
uma praia deserta. A casa tinha dois andares e oito quartos, por tanto,
suficiente para todos eles.
Claire e Joan foram descobrir todos os cantos e encontraram
um porão cheio de livros antigos, baús de madeira preta e alguns quadros
acumulados junto com a poeira.
Margarete se aventurou na cozinha e rapidamente percebeu que
a despensa estava bem provida de enlatados, assim como bebidas e doces.
Gerard preparou um whisky, e sentou na varanda. Margarete
apareceu depois para fazer companhia.
- Na despensa tem tudo o que precisamos para hoje a noite.
Tem carne, ovos e pão fresco. Fiquei admirada
- É que meu amigo me avisou que teremos uma cozinheira, uma
tal Madame Renit que virá todos os dias. Ela deve ter feito as compras. Por
hoje a note, nos viramos, amanhã ela vai preparar o café, o almoço e o jantar.
Não se preocupe. Quer beber alguma algo?
- Só uma soda, por favor
Gerard trouxe o copo de soda e eles sentaram observando o
jardim.
- É uma casa muito bonita. De certa forma me lembra Saint
Asisse.
- Pensei o mesmo. As meninas devem estar bisbilhotando toda a
casa.
- Sim, notei que Claire veio muito diferente após passar a primavera
em Clermont. Isso me deixa feliz.
- Sim. Parece que ela e o jovem Paul estão se dando muito
bem. Nunca falamos sobre isso Margarete, mas o que você acha que está
acontecendo entre eles?
- Bem, acho que a amizade entre eles é muito forte, o jovem é
persistente. Sabemos que gosta muito dela, talvez mais ele do que ela dele, mas
a amizade está fazendo bem a Claire. As vezes a surpreendo rindo com Joan,
parece que recuperou a alegria.
- Percebi também. Mas, você acha que essa amizade pode
transformar-se em algo diferente? Digo, em amor, por exemplo?
- Bem, só o tempo dirá, mas se depender do jovem Clermont,
acho que vai.
- E como você se sente sobre isso?
- Gerard, minha maior preocupação é com Claire, com sua
felicidade, e acho que Paul du Clermont é uma influência positiva para ela. Eu
acho que ele pode faze-la feliz, porem.....
- Porém?
- Ás vezes, dá a impressão que ela esconde um sentimento
muito forte. Ela não deixa escapar o que sente. Há algo grande escondido no seu
coração, uma espécie de ressentimento, talvez de mágoa, ou de vingança...Ás
vezes seus olhos ficam mais escuros e ela se encontra perdida nos pensamentos.
Talvez seja impressão minha, mas por trás desse olhar sério e distante, as
vezes se esconde um temperamento muito forte. Espero que o jovem Paul possa
maneja-lo.
Gerard pensou no passado de Claire. A pequena menina que ele
encontrou na Aldeia havia três anos e era ainda muito pouco tempo para ela
digerir toda a triste e trágica história de sua vida. Margarete tinha razão, as
vezes era no olhar de Claire que havia uma ameaça, um perigo.
- Bem, talvez seja só impressão, Margarete. Ela é uma moça
reservada.
- Gerard, você nunca me contou a verdadeira história dela,
sua família no Brasil, sua infância. Eu só sei que ela foi adotada por você.
- Sim, é uma longa história. Um dia te conto.
As duas moças apareceram sorrindo e sentaram do lado dos
dois, o entardecer sobre Nice e o mar azul era simplesmente maravilhoso.
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