terça-feira, 19 de abril de 2016

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.IX PARTE IV)



Era uma dessas grandes tempestades de verão, que se formavam sem prévio aviso e caiam vertiginosamente sobre a terra. Era noite. Todos foram para cama após um jantar delicioso e após um dia corrido. Claire estava cansada e Joan também. Após o jantar, Paul estava ensinando as duas garotas a jogar cartas, o famoso Brigde inglês. Claire tinha se concentrado e curiosamente aprendeu depressa e conseguiu até apreciar o jogo. Joan teve mais dificuldades e foi ajudada por Margarete que jogava muito bem.
Gerard tocou os Três Gymnopedies de Eric Satie ao piano e só foi interrompido quando os primeiros trovões foram escutados por todos na sala.
- típico de verão – disse Jean tomando um cognac ao seu lado e folhando um jornal velho.
- Melhor vou fechar as janelas – disse Margarete.
Após uns instantes, todos já estavam descansando. Antes de ir para o seu quarto, Joan foi até o quarte de Claire.
- Bem, dia corrido não é?
- Sim, estou exausta! Amanhã temos picnic na colina. Nada de praia, senão vamos ficar enjoadas.
- Ahh, Claire – Joan se jogou na cama- estou tão feliz com Bertrand. Pena que ele não pode vir hoje para o jantar.
- É ainda bem, porque com este tempo pavoroso o coitado ia ter problemas.
- Você não acha ele lindo?
- É interessante
- É claro que seu Paul é muito mais, você sabe disso
- Meu Paul? Para de falar assim, sua boba, não é meu Paul.
- Sim, mas em breve será- disse Joan correndo para a porta- melhor vou dormir. Até amanhã querida.
- Até amanhã.
Os trovões aumentavam e logo veio a chuva, abundante e prolifica. Claire, deitada na cama, via os relâmpagos através das janelas. Os trovões eram muito fortes.
Seus pensamentos o levaram para longe. Sem querer pensou em Pernambuco, pensou no Pajé Jabu, e decidiu que tinha que escrever para ele contando sobre as férias de verão que estava disfrutando.
Cansada, adormeceu.
A chuva continuava forte e ameaçadora. De repente ela estava quase nua correndo pelo bosque, queria ver a praia mas não sabia o caminho. No meio de um mato estranho e desconhecido, ela ouviu vozes masculinas.
- Vamos pega-la, vamos pega-la, não deve estar longe.
Então ela viu uma caverna tampada pelas folhas e sentiu que uma mão branca a pegava do braço e a trouxe para dentro.
Estava muito escuro, ela não sabia quem era, mas sentia-se protegida. Uma voz serena e conhecida lhe disse para ficar em silencio e ter calma. Ela reconheceu Paul, ainda na escuridão. Por entre as folhas, viu um grupo de homens perigosos, aramados até os dentes com fuzis e facas, correndo pela trilha. O grupo passou e pouco depois, ela viu outro homem alto e moreno que parecia dar ordens. Ela o reconheceu imediatamente pelo clarão de um raio. Era Gerônimo Bezerra.
Acordou toda suada, assustada e ofegante. Estava tremendo de medo. A chuva era muito forte. Ela tinha tido um pesadelo.
- Meu Deus, até quando vai durar este pesadelo? – perguntou-se em silencio.
Levantou da cama e desceu até a cozinha para buscar agua. Precisava se refrescar. Assustada, viu que a luz da cozinha estava acessa. Ficou em silencio e aproximou-se devagar, bem devagar até a cozinha. Alguém teve a mesma ideia que ela. Paul também estava bebendo água e não conseguia dormir.
- Paul.
- Claire – disse ele rindo – estava com sede. Não consegue dormir?
- Não, tive um pesadelo e a chuva e os trovões me deixam nervosa.
- Bebe um pouco de agua e vamos até a sala, lá ficaremos mais a vontade e conversamos um pouco.
- Tudo bem.
- Então teve um pesadelo. Isso é frequente?
- Ás vezes, não tão frequente. E você estava nele.
- Meu Deus, fui seu pesadelo?- disse ele rindo.
- Não- Claire também sorriu – não, você me salvou do perigo. É isso.
- Ah. Que bom. Sempre vou te salvar do perigo Claire. Você sabe disso.
Claire olhou para Paul e pela primeira vez sentiu a necessidade de falar, de contar tudo o que estava preso dentro dela.
- Acho que você precisa saber de minha história, ela é muito longa. Tem tempo?
- Todo o tempo do mundo.
Claire aproximou-se de Paul, e sentou-se diante dele numa pequena poltrona florida. Ali, a moça começou a falar, desde o começo com muita calma.
- Nós morávamos numa pequena cidade de Pernambuco.........
Paul escutava atento, sem dizer nada, só escutava. A chuva diminuía de intensidade e pouco depois só a voz suave de Claire se escutava na sala. Claire conversou e conversou, em alguns momentos desabafou em lágrimas e foi consolado por Paul que a abraçou com carinho. Com esse abraço, ele sabia que ela era a mulher da vida dele, a mulher que ele amaria para sempre.

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