Paris. Outubro de 1951.
O outono chegou com toda a intensidade. A nevoa sempre
presente durante vários dias cobria a cidade luz dando ao ambiente um tom de
melancolia. Mas era só a cidade, pois no Salão Principal do Hotel de Ville, na
Rue de Rivoli, o bulício era incrível.
No recinto iluminado por enorme lustres, muitos jornalistas, homens de negócio,
elegantes mulheres com casacos luxuosos, esperavam o momento certo para o
grande acontecimento. Representantes da casa DIOR estavam sentados na primeira
fila, junto com Margarete Brigny, Gerard Dupont, Monsieur and Mademoiselle
Maintreaux, Jean e Paul Du Clermont. Um pequeno palco a frente era o lugar onde
um senhor de meia idade, representante da Dior, ao lado de uma jovem morena de
sorriso tímido, estava prestes a falar.
- Senhoras e Senhores- disse o homem solene – lhes apresento
o novo perfume Dior “BELLE MER” produzido pela Brigny&Dupont perfumaria, de
Paris.
Os aplausos eram ensurdecedores. Todos de pé, aplaudiam sem
parar, especialmente à Claire, que era a protagonista.
- Senhores, com vocês, a criadora da fragrância mais famosa
da Dior, Mademoiselle Dupont.
No meio dos aplausos, Claire com o perfume nas mãos, mostrou
o produto para todos, depois aproximou-se do microfone e disse com um francês
adocicado por um sotaque brasileiro.
- A todos que vieram nos prestigiar, e prestigiar nossa
criação, muito obrigado. Usem o perfume, ele é como uma brisa de verão numa
praia deserta, ouvindo o barulho do mar!
Entre gritos e aplausos, Claire deixou o palco e se reuniu
com sua família e seus amigos. Os jornalistas e convidados que já admiravam sua
beleza dos trópicos, agora estavam fascinados com sua capacidade e inteligência
em produzir perfumes delicados e únicos.
Paul, aproximou-se dela. Ela viu que o anel de noivado que
ele lhe dera brilhava com as luzes do salão.
- Posso cumprimentar minha noiva?
- Oh, Paul, claro....gostou?
- Está tudo parfait,
moun amour.
- Sim, querido. Estou feliz.
Estavam noivos há apenas dois meses depois daquela noite tão
especial em Nice em que ela abrira para ele o seu coração. Paul não só a tinha
compreendido e dado mostras de uma profunda compaixão e carinho, mas ele
prometera que sempre a protegeria de qualquer perigo e que estimularia sua
carreira na área de perfumes. Ele era praticamente um homem de negócios e com
ele, Claire poderia deslanchar no mundo corporativo.
Dois dias depois da tempestade, Paul tinha passado algumas
horas no centro da cidade. Ninguém soube dele por horas. Naquela noite
estrelada, após o jantar, Paul levou Claire para o jardim. A brisa de verão que
vinha do mar soprou seu rosto. Claire estava emocionada quando Paul, sem prévio
aviso, a beijou apaixonadamente. Claire retribuiu e percebeu que Paul era o
homem ideal para ela.
- Claire, quer se casar comigo?
O pedido de casamento não poderia vir em hora melhor. Claire,
sob a magia da noite estrelada, abriu os olhos e sorriu.
- Sim, sim Paul, sim. Eu quero!
Paul a beijou novamente.
- Vamos contar para todo mundo agora.
Entraram no salão onde estavam todos jogando cartas e
conversando alegremente. Claire nunca esqueceria o rosto iluminado de
contentamento de seu pai, a irreverente alegria de Joan, o sorriso de
satisfação de Jean e as lágrimas de felicidade de Margarete. Tudo estava como
tinha que estar, pensou Claire. Agora ela se preocuparia em ser feliz. Já era
hora.
Agora o trabalho também dava-lhe prazer, um prazer incrível.
Após o verão, trabalhou incansavelmente na produção da nova fragrância, e foi
um sucesso. Mas a alegria do pai ao saber que ela continuaria seus estudos, era
contagiante.
Nesse Outono, ela se desdobrava em dois frontes. O trabalho e
o estudo. Gerard contratou os melhores professores para que ela se preparasse
para as provas de admissão da Universidade. E, não foi surpresa para ninguém,
quando ela escolher estudar Botânica na Sourbonne. Gerard logo percebeu que ela
tinha muita facilidade em aprender as espécies de plantas. Todas as noites, ele
aproveitava para lhe explicar tudo o que sabia. Ela também estava interessada
nas pesquisas do pai sobre as plantas tropicais. Às vezes, Claire ia até a
faculdade vasculhar os livros do departamento de Botânica e logo ficou
conhecida pelos funcionários como a “fille
de l’professeur”.
Agora estava ali, ao lado do seu noivo e futuro marido, Paul
du Clermont, recebendo os cumprimentos e todas as atenções. No dia seguinte,
apareceu em todos os jornais, a notícia do lançamento. Na página social, uma
foto de exuberante moça brasileira-francesa ao lado do elegante Paul du
Clermont, seu noivo, era a novidade desse outono parisiense.
Quando Paul deu para ela um bouquet de Muguet, cultivado
especialmente no orquidário do Château Royat, assim que voltaram de férias,
Claire decidiu que iria se casar em maio. Como ela adorava a flor e sabia que
ela brotava na primavera e especificamente no mês de maio, ela pediu ao Paul
que se casassem em Clermont-Ferrand, na primavera.
Paul aceitou feliz.
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