sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A CAIXA VAZIA

Alzira era uma mulher de coragem. Morena e de baixa estatura, olhos pretos que pareciam duas jabuticabas e dos quais emanavam brilho quando estava emocionada.
Alzira trabalhava como doméstica na casa de Pedro Nogueira. Ele trabalhava como engenheiro numa grande empresa petroquímica e Alzira fora desde sempre o seu braço direito na casa.
Pedro era um homem generoso e prestativo. Sempre ajudava os outros e sempre recebia em dobro tudo aquilo que dava. Certa vez ele leu uma frase “Tudo aquilo que não se da, se perde” e parecia levar a serio essa sentença. A sua generosidade era original. Ele podia ajudar qualquer pessoa necessitada, mas ás que conhecia eram sempre muito mais ajudadas por ele, em todo momento.
Alzira era uma delas. Quando a empregada estava construindo uma pequena casa no morro, Pedro a ajudou comprando materiais de construção. Sempre estava dando presentinhos para os muitos filhos dela e sempre pagava um pouco mais pelos serviços dela do que a maioria das pessoas. Em síntese, era um homem bom.
Certa vez Pedro teve uma idéia. Pegou uma caixa de vime e levou para um canto da casa. Chamou a Alzira e lhe disse :

- Todas as coisas que você achar nesta caixa serão suas. Sempre que quiser te dar algo, colocarei aqui e você poderá pega-lo.

O tempo foi passando. Alzira abria a caixa de vime e encontrava um presente; um ferro de passar, algumas roupas para os filhos, brinquedos, coisas da casa, etc.
Um dia Pedro deixou na caixa um vale supermercado para fazer compras no dia do seu aniversario. O Seu Pedro sempre foi generoso.
Mas uma certa vez, Alzira abriu a caixa de vime e não encontrou nada. Passaram-se os dias, e semanas...A caixa permanecia vazia. O que aconteceu? Perguntou-se Alzira.
Quando se completaram as duas semanas, ela resolveu inquirir ao seu patrão. A final de contas, a caixa sempre estivera ocupada e ultimamente, vazia.
Pedro estava lendo tranquilamente na biblioteca quando Alzira entrou.

- Seu Pedro, desculpe importuná-lo, mas, queria lhe fazer uma pergunta.
-Claro, Alzira, fique a vontade. – disse Pedro deixando de lado o livro que estava lendo. - O que foi?
- Sobre a caixa de vime. Faz duas semanas que não tem nada lá dentro. Queria saber quando vai ter alguma coisa novamente.

Pedro a olhou sob os óculos de leitura, algo surpreso.

- Por que? Você está precisando de alguma coisa?
- Não Seu Pedro, é que faz tempo que não tem nada...É só isso..
- Só isso? – disse Pedro quase rindo – Alzira, deixa eu te explicar uma coisa. A caixa está vazia por ora, porque não tenho nada para por lá dentro. Mas isso não quer dizer que, quando o tenha, o colocarei lá para você. Eu nunca disse que todas as semanas haveria alguma coisa lá, disse que, vai ter sempre alguma coisa para você. Você tem que aprender duas coisas: Agradecimento e paciência. Agradecer pelo aquilo que alguém lhe da sem você pedir e paciência para esperar receber aquilo que, nem sempre, você merece....Entendeu?
Alzira ficara muda. O seu Pedro lhe dera uma lição. Em poucas palavras ela percebeu que foi longe demais.

- Desculpe, desculpe seu Pedro, o senhor tem toda a razão....Me desculpe.
- Não se desculpe Alzira. Só quero que pense nessas duas palavras: Agradecimento e paciência.

Alzira nunca esqueceu essas duas palavras.
Temos que agradecer por tudo que recebemos, inclusive pelo que não recebemos sempre, e por aquilo que recebemos e que não o merecemos. Quanto mais agradecemos, mais recebemos. A paciência deve ir de mãos dadas porque ela faz que a nossa espera, muitas vezes, seja mais suave a leve.
Sempre aprendemos algo com as pessoas com quem convivemos.

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