terça-feira, 10 de agosto de 2010
MARIA CANELA
Desde criança Maria gostou de cozinhar. Observava a mãe, uma doceira de mão cheia, cozinhando, e assim aprendera a fazer todo tipo de doces. Doce de abóbora, doce de leito, arroz doce, queijadas, canjica, pé de moleque e tantos outros. Maria nasceu no interior de Minas Gerais, por tanto sabia muito de doces e quitutes.
Quando ficou moça, Maria mudou-se para Belo Horizonte para continuar os seus estudos e trabalhar como babá na casa de uma prima bem casada e com um padrão de vida alto. O único filho do casal chamava Lucas e tinha sete anos. Ela começou a cuidar do menino e nas horas vagas gostava de cozinhar.
Uma vez encontrou um velho livro de receitas e acostumava experimentar todo tipo de comida. Mas o que ela realmente gostava era de cozinhar doces. Maria tinha um paladar muito apurado e adorava todos os doces que levavam canela. Logo percebeu que o pequeno Lucas também tinha um paladar apurado, então ela cozinhava e dava pro menino saborear a comida. O pequeno falava que estava gostoso ou não.
Maria tinha obsessão por canela. O cheiro da canela a fazia transportar e lhe proporcionava um certo conforto. A canela a fazia sentir bem. O gosto da especiaria que ela apreciava nos doces lhe dava a sensação de flutuar. Nada poderia lhe fazer sentir melhor do que a canela.
Mas, a canela, ao mesmo tempo que lhe dava sensações confortantes, também lhe provocava decepção e impotência. Maria desejava que a canela fosse mais sólida, a sensação de ter esse cheiro e esse gosto não era suficiente. Ela queria ter a sensação de solidez e substancia na canela e por isso cozinhava e experimentava todos os doces com canela para alcançar esse gosto.
Fazia todo tipo de bolos com canela. Dava para o pequeno Lucas experimentar e o menino dizia : Maria a canela ainda é muito leve...o bolo só tem o cheiro da canela mais nada.
E Maria continuava a experimentar.
Cozinhava Pudim com canela, com o mesmo efeito; arroz doce com canela...Canela de pau, canela em pó, mas nada..
Maria, cuja obsessão era conhecida por toda a família, ganhou o apelido de Maria Canela.
Foi o Lucas que dera a ela esse apelido. Lucas era o seu critico de comida. O menino também era o seu melhor aliado.
Certa vez, Maria Canela passou por uma livraria próxima a sua casa, num famoso Shopping Center e encontrou um livro chamado: “CANELA Receitas deliciosas”, e comprou o livro.
Nele tinha receitas de muitos bolos e outros doces indianos com canela. Os indianos gostavam muito de por canela em tudo.
Ao abrir o livro de receitas, ela leu com surpresa:
“O gosto supremo da canela é como néctar dos deuses. A canela cheira a natureza, a prazer e ao amor. Ela é sutil como o ar da primavera, como o frescor do mar, como a solidez das montanhas. Para que esta especiaria alcance o seu verdadeiro sentido em qualquer comida, deve ser usada com muito amor e carinho. Antes de fazer a comida, cheire-a de forma profunda e deliciosa. Imagine-a como um cheiro sublime que lhe faça estremecer de contentamento e de felicidade”.
A partir desse momento, Maria compreendeu que a canela não precisava ser solida ou substanciosa, ela devia ser colocada na comida com muito amor e carinho e ser apreciada como se fosse a única especiaria deste mundo.
Maria continuou fazendo os bolos, tortas, arroz doces, pudim, pão doces, etc. e colocava a canela com muito carinho.
Lucas, desta vez, apreciava cada bocado e dizia satisfeito: Maria, isto é delicioso. Parece que a canela penetrou dentro do pão doce de vez....Adorei!!!...
Maria Canela encontrou ainda mais estímulos para cozinhar cada vez melhor.
Com o tempo, abriu uma pequena loja especializada em doces com canela, e colocou o nome de DOCERIA MARIA CANELA.
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