sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAPITULO II PARTE V)


Alma decidiu usar para aquela ocasião um vestido vermelho com flores amarelas, presente do seu irmão Damião que o trouxe de Recife. Ela adorava o vestido porque era leve e chamava a atenção. Já desde muito cedo, Alma aprendera a chamar a atenção de todas as pessoas do vilarejo, por tanto, decidiu que esse seria o vestido que usaria para se encontrar com a mãe e a Irmã do doutor Tristão.

A moça chegou as quatro e vinte da tarde no Hotel Espírito Santo. O gerente e proprietário era o Seu Galvão, muito amigo do pai dela. Ao ver Alma entrando pela porta central do estabelecimento, deixou a pequena mesa que servia de escrivaninha e foi cumprimenta-la.

- Alma, minha menina...tudo bem?

- Tudo bem Seu Galvão..

- O seu pai esta bem? Esta precisando falar comigo?

- Ele esta bem, sim senhor. Não, eu vim ver a mãe e a irmã do doutor Augusto. Elas estão me esperando.

- Ah, sim, a família do doutorzinho. Claro, por favor, sente-se ai – disse apontando um pequeno sofá um pouco puído pelo tempo – Vou avisa-las.

- Obrigada.

Alma não precisou esperar muito. Quase imediatamente, Dona Mercedes e Clemência apareceram diante dela. A elegância de mãe e filha quase fizeram Alma perder o fôlego. Apesar do calor reinante e do vilarejo quase perdido neste mundo de Deus, as duas mulheres estavam vestidas como para ir a uma festa. Alma sentiu-se uma pobrezinha mendiga diante delas, e começou a ficar acanhada, mas a gentileza das duas mulheres fez com que ela se sentisse muito a vontade.

Passaram para o pequeno restaurante do hotel, e lá mandaram servir o café com bolo de aipim e mandioquinha, bolo de fubá e pão com manteiga. O café não tinha bom gosto, parecia muito fraco, pensou Alma, mas suas anfitriãs pareceram não notar nada e beberam como se estivesse delicioso.

 A conversa foi muito gentil e Dona Mercedes queria saber tudo sobre a vida da moça que convidara para o café.

- Bem, Alma, então como vai a escola?

- Eu gosto muito da escola. Minha professora é muito boa. Ela estudou em Recife.

- Imagino. E alem da escola, você faz trabalhos manuais?

- Não senhora, devo ajudar a minha mãe em casa e fazer os deveres.

- Isso é muito bom – disse Clemência sorrindo – significa que é uma menina prendada. Você sabe cozinhar, Alma?

- Um pouco. Minha mãe me ensina tudo. Mas o que mais gosto mesmo é nada no rio.

Dona Mercedes Tristão levantou a sobrancelha surpresa.

- Nadar no rio? Mas, isso não é perigoso?

- Não, senhora – disse Alma sorrindo – adoro nadar no rio, é o meu esporte favorito. O rio fica perto da minha casa e não é perigoso, quase ninguém vai lá.

- Entendi. E a sua mãe deixa você sozinha no rio?

- Mamãe, por favor. Ela já disse que não é perigoso.

- Eu sei minha filha, mas imagino que a mãe dela deve estar de plantão, ela é bonita, afinal.

Alma ficara calada observando a Dona Mercedes que pareceu não entender o porquê ela gostava de nadar sozinha no rio. Mas Clemência desviou a conversa para outros assuntos e Alma sentiu-se a vontade.

Depois de mais de uma hora de café e conversa, Alma despediu-se das mulheres Tristão com a sensação de ter sido aprovada. No fundo do coração, ela sabia que tinha estado ai para ser testada e aprovada. E, aparentemente conseguira. Sentiu-se levemente feliz.

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