Alma decidiu usar para aquela ocasião
um vestido vermelho com flores amarelas, presente do seu irmão Damião que o
trouxe de Recife. Ela adorava o vestido porque era leve e chamava a atenção. Já
desde muito cedo, Alma aprendera a chamar a atenção de todas as pessoas do
vilarejo, por tanto, decidiu que esse seria o vestido que usaria para se
encontrar com a mãe e a Irmã do doutor Tristão.
A moça chegou as quatro e vinte da
tarde no Hotel Espírito Santo. O gerente e proprietário era o Seu Galvão, muito
amigo do pai dela. Ao ver Alma entrando pela porta central do estabelecimento,
deixou a pequena mesa que servia de escrivaninha e foi cumprimenta-la.
- Alma, minha menina...tudo bem?
- Tudo bem Seu Galvão..
- O seu pai esta bem? Esta precisando
falar comigo?
- Ele esta bem, sim senhor. Não, eu
vim ver a mãe e a irmã do doutor Augusto. Elas estão me esperando.
- Ah, sim, a família do doutorzinho.
Claro, por favor, sente-se ai – disse apontando um pequeno sofá um pouco puído
pelo tempo – Vou avisa-las.
- Obrigada.
Alma não precisou esperar muito.
Quase imediatamente, Dona Mercedes e Clemência apareceram diante dela. A
elegância de mãe e filha quase fizeram Alma perder o fôlego. Apesar do calor
reinante e do vilarejo quase perdido neste mundo de Deus, as duas mulheres
estavam vestidas como para ir a uma festa. Alma sentiu-se uma pobrezinha
mendiga diante delas, e começou a ficar acanhada, mas a gentileza das duas
mulheres fez com que ela se sentisse muito a vontade.
Passaram para o pequeno restaurante
do hotel, e lá mandaram servir o café com bolo de aipim e mandioquinha, bolo de
fubá e pão com manteiga. O café não tinha bom gosto, parecia muito fraco,
pensou Alma, mas suas anfitriãs pareceram não notar nada e beberam como se
estivesse delicioso.
A conversa foi muito gentil e Dona Mercedes
queria saber tudo sobre a vida da moça que convidara para o café.
- Bem, Alma, então como vai a escola?
- Eu gosto muito da escola. Minha
professora é muito boa. Ela estudou em Recife.
- Imagino. E alem da escola, você faz
trabalhos manuais?
- Não senhora, devo ajudar a minha
mãe em casa e fazer os deveres.
- Isso é muito bom – disse Clemência
sorrindo – significa que é uma menina prendada. Você sabe cozinhar, Alma?
- Um pouco. Minha mãe me ensina tudo.
Mas o que mais gosto mesmo é nada no rio.
Dona Mercedes Tristão levantou a
sobrancelha surpresa.
- Nadar no rio? Mas, isso não é perigoso?
- Não, senhora – disse Alma sorrindo
– adoro nadar no rio, é o meu esporte favorito. O rio fica perto da minha casa
e não é perigoso, quase ninguém vai lá.
- Entendi. E a sua mãe deixa você
sozinha no rio?
- Mamãe, por favor. Ela já disse que
não é perigoso.
- Eu sei minha filha, mas imagino que
a mãe dela deve estar de plantão, ela é bonita, afinal.
Alma ficara calada observando a Dona
Mercedes que pareceu não entender o porquê ela gostava de nadar sozinha no rio.
Mas Clemência desviou a conversa para outros assuntos e Alma sentiu-se a
vontade.
Depois de mais de uma hora de café e
conversa, Alma despediu-se das mulheres Tristão com a sensação de ter sido
aprovada. No fundo do coração, ela sabia que tinha estado ai para ser testada e
aprovada. E, aparentemente conseguira. Sentiu-se levemente feliz.
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