Quando Mariana chegou a Recife só falava de Gerônimo. Ela
estava feliz e radiante com o rapaz que tinha conhecido no Rio de Janeiro e com
quem tinha saído várias vezes, sempre com a discreta presença de dona
Gertrudes.
Gerônimo também tinha causado boa impressão no seu José. Os
dois conversavam muito sobre medicina, sobre os novos avanços da ciência (Seu
José sempre foi interessado nesse assunto) e sobre a possibilidade de Gerônimo
voltar ao Recife e abrir um consultório popular, uma espécie de Fundação para
atender pessoas carentes. Seu José ficou muito bem impressionado sobre as
atitudes “altruístas” do jovem médico.
Gerônimo não só ficou impressionado com a beleza da jovem,
mas também com inteligência, sua vivacidade e sua alegria de viver. Sentiu, em
poucos dias, que nunca tinha conhecido alguém assim. O seu pai iria adorar que
ele se apaixonasse por uma moça de família, e além do mais de Pernambuco.
Com promessas de cartas, telefonemas e uma visita breve, os
dois jovens despediram-se e Mariana com a família voltou para casa. Suas férias
tinham sido aquilo que ela sempre esperou. Estava feliz por tudo.
- Tita, você precisa conhecer Gerônimo. Ele é tão meigo e
agradável, tão cavalheiro – repetia Mariana pela milésima vez – eu espero me
encontrar com ele em breve.
- Nossa prima, você realmente está empolgada com esse rapaz –
disse a noiva experimentando o vestido – o que acha?
- Lindo, é o vestido mais lindo que vi. Espero que possa usar
um parecido em breve.
E assim, a moça só falava no médico que conheceu no Rio de
Janeiro, nos seus desejos de namorar, de casar, de fazer planos pro futuro.
- Mas ele é de Recife.
- Não, ele falou que é do Sertão, de Arcoverde.
- Ah – disse Clemencia olhando-se para o espelho. Arcoverde
ficava perto de Inajá. Lembrou de Guto e Alma com um suspiro. A vida as vezes
nos remetia ao passado sem querer.
- Por que esse suspiro?
- Não, é que lembrei de Guto. Arcoverde fica perto de Inajá.
Aquele horrível lugar.
- Sim, mas acho que ele só nasceu lá, porque morou no Recife
até viajar para o Rio. Acho que os pais ainda moram lá, mas ele me disse que
nunca vai visita-los. São os pais que vão frequentemente ao Rio ver o filho.
- Entendi – disse Clemencia tirando o vestido para mais
alguns ajustes.
- Meu Deus prima- disse Mariana sorrindo – Não posso
acreditar que só falta uma semana para o seu casamento. Vejo você muito feliz.
- Sim Marianinha, estou feliz. Isso é o mais importante.
- E a lua de mel? Está tudo pronto?
- Sim, claro. Iremos a Buenos Aires, depois para Paris para a
minha exposição.
- Tita, é maravilhoso que te convidaram para expor em Paris.
Meu Deus, você será famosa no exterior antes de que em todo o país. Isso é
simplesmente incrível.
- Sim, estou com um pouco de medo e apreensão. Paris! Meu
Deus, acho que é um passo muito grande para minha carreira.
- Aqui você já é um sucesso. Mas lá, eles vão amar a sua
obra, você verá. E além do mais, após a exposição na França, o tio disse que
você irá expor no Rio de Janeiro?
- Sim, tudo está indo depressa demais, mas apesar da
apreensão e do medo, estou feliz, além do mais tenho o apoio de Dudu, e isso é
muito importante.
Clemencia Tristão estava exultante. Recebera um convite
inédito para participar de uma exposição de jovens talentos latino-americanos no
Palácio das Artes da França. O convite tinha vindo diretamente do Ministério da
Cultura do Rio de Janeiro quando um dos jurados escolheu dois pintores
brasileiros para representar o Brasil no evento. Um de Porto Alegre e outro de
Recife. Clemencia Tristão foi uma das escolhidas. Com os preparativos do
casamento e da exposição, a pintora não tinha muito tempo livre e contava com a
ajuda de Mariana e do noivo Luiz Eduardo para continuar com todos os detalhes
do casamento.
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