domingo, 21 de julho de 2013

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP.I PARTE VII)


Então chegou o inverno. Inverno quente no sertão do Moxotó. No final de junho, após a festa de São Pedro e São Paulo, dona Rosa Guimarães Malta, a avó materna de Alma, tinha sucumbido a uma forte pneumonia. Durante muitos anos, dona Rosa tinha sido uma conselheira e uma fonte de sabedoria para sua filha Dadá e também para os seus outros filhos, Genésio e Teodoro Malta, já casados e moravam em Recife. Maria das Dores ficou abalada com a perda da mãe. Desde que adoecera, cuidara da mãe com muito carinho e afinco e, quando ela entrou em coma, foi a Dadá que segurou a sua mão com ternura. O evento chocou toda a família. Para Alma, que não tinha muito contato intimo com a avó, não tinha sido uma perda terrível, mas o impacto da morte, pela primeira vez entrara na sua vida.Por exemplo, ela viu como essa perda tinha movido toda fortaleza de sua mãe, e como Dadá perdera um pouco de sua segurança. Rubião Rocha tinha feito o possível para consolá-la, assim como seus irmãos ( vindos de Recife para o enterro) e os filhos. Mas nada consolava Dadá. Isso preocupou Alma, que pela primeira vez viu a sua mãe, sempre segura de si mesma, cair numa profunda tristeza.

A presença dos irmãos de Dadá, não colaborou em nada. Havia muitos anos que os dois jovens Malta mudaram-se  para Recife e lá fizeram a vida. Genésio, o mais velho casara e tinha só um filho adolescente; já o outro irmão, Teodoro trabalhava numa fazenda no Ceará e muito pouco vinha visitar os pais. No seu Damião Malta, orgulhoso comerciante de Inajá, a morte da mulher provocou-lhe  desespero e revolta. O seu Malta, como era conhecido na região, ficou mais mal humorado e impaciente com tudo e com todos. Todos notavam nele sinais de velhice prematura ( ainda não completara os setenta e cinco anos).

Cada vez mais, Malta deixava a administração do seu comércio ao seu neto, Damião, que passou a ser a sua mão direita nos negócios e ao qual confiava cada vez mais toda a sua vida. O avô e o neto começaram a se entender muito bem após a morte da dona Rosa, em parte porque o velho Malta já estava adoecendo e cansado de problemas cotidianos que lhe proporcionava a venda, e por outro lado, ele percebeu que os dois filhos não queriam saber nada de comercio, tinham as suas próprias vidas na capital. O jovem Damião, no entanto, ajudava o avô dia e noite e transformara-se em seu herdeiro natural para grande satisfação de Rubião e de Dadá. Mas, chegara o dia em que Damião tinha que prestar o serviço militar e ele escolheu fazê-lo em Recife. Então, o outro filho, Zé Rubião foi ajudar o avô Malta durante um ano. Obviamente a relação entre os dois não era das melhores. O velho tinha se afeiçoado ao neto mais velho. Segundo Malta, o adolescente era preguiçoso e não confiável. Tinha que redobrar os seus cuidados. Alias, era o que ele sempre fazia.

Para a única filha da Dadá, a vida parecia não correr. Alma continuava os estudos, imersa na rotina costumeira. Fazia tempo que não ia tomar banho no rio devido a enchente de junho, mas, decidiu certa tarde quente de agosto, Alma decidiu voltar a tomar banho no rio e se lambuzar com a lama. A menina desceu pela trilha, colheu algumas flores que encontrara no caminho e chegou até a beira do rio.

Enquanto se banhava nas águas cálidas e prazerosas, percebeu que alguém a observava. Sentiu um estremecimento e, pela primeira vez, sentiu medo de estar sozinha. Virou o rosto e viu um rapaz jovem, moreno, parecia muito alto, que a olhava curioso e um tanto atrevidamente. O rapaz esboçou um sorriso quase imperceptível. Alma saiu da água e pegou a toalha para se secar. O rapaz permaneceu em silencio. Por um instante, Alma não sabia se estava em segurança, ou em perigo, por um segundo ela parecia tomar conta da situação, mas novamente sentiu medo. Então o rapaz de olhar profundo, de sobrancelhas grossas falou com uma voz forte:

- Olá, não queria te assustar....

- Olá – respondeu Alma um tanto acanhada – quem é você  e de onde apareceu?

- Meu nome é Gerônimo, meu pai mora aqui perto..

- Vizinho? Eu nunca tinha te visto antes

- Sou o filho do Coronel Bezerra, prazer – disse sorrindo.

- Ah, prazer, sou Alma Rocha.

- A filha do seu Rubião, já me falaram de você...mas não me disseram que era muito bonita.

Ele se aproximou e Alma recuou um pouco. Sentiu-se ameaçada. Havia algo nos olhos escuros do rapaz que a deixava em prontidão, como se ela esperasse alguma atitude fora do comum.

- Eu, eu tenho que ir... – disse a menina e começou a andar depressa. O rapaz a seguiu  e caminhou do seu lado..

- Posso te acompanhar até sua casa? É que eu não conheço ninguém por aqui. Moro no Recife e estou de férias.

- Desculpe, mas....prefiro ir sozinha, já estou atrasada.

E a menina desapareceu na trilha que levava ate sua casa. Assim fora o primeiro encontro com Gerônimo Bezerra.

Ao chegar à casa, a menina não contou nada para a mãe, mas toda vez que pensava no encontro, sentia um estremecimento.

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