Aqueles que acreditam, dizem que o ato gratuito é um ato de
fé. A manifestação da vontade divina na alma humana. Assim pensaram os santos,
os místicos, as luzes da inteligência católica, e também teólogos famosos. O
ato gratuito ou ato de fé é também produzido quando a alma humana está em
estado de graça. Ou seja, aqueles leves e efêmeros momentos em que a divindade
visita a mente e o espirito do homem.
Para outros, é um mistério que é gerado, talvez na mente
humana, que é por certo um cofre misterioso de milagres e de invenções. A
inteligência do homem é um dos mais grandes mistérios filosóficos e científicos
até hoje.
Seja qual for a causa – que é melhor que seja desconhecida –
o certo é que o ato gratuito nos faz humildes. É com humildade e simplicidade
que o homem percebe quando recebe este dom. Só na humildade é possível exercer
esse ato sem medos.
A luta pela vida, ou seja, aquela que o mundo nos obriga a
confrontar: fome, medo, preocupações, doenças, egoísmos, ódios, guerras,
angustias do dia a dia, desaparecem como névoa diante da luz do sol que é o ato
gratuito. Não estou dizendo que a pessoa que realiza este ato não veja todos
esses conflitos na sua vida, estou dizendo que o ato gratuito é tão forte que
esses conflitos do mundo parecem insignificantes, e nada abala o caminho
traçado pela alma humana ao ter este dom.
O ato gratuito é também, em parte sinônimo de felicidade. Ou
seja esses lampejos circunstanciais de paz e bem estar na vida, essa alegria
que vem do íntimo da própria alma do homem gerando amor e coração puro.
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Certa vez uma mulher jovem e empreendedora, abastada e cheia
de privilégios, não se sentia completa. Tinha um excelente marido, bons filhos
educados e uma família bem constituída. Mas ela não era feliz. Sentia que
faltava algo na sua vida. Isso, as vezes provocava nela angustia que nem a
terapia, que ela começara a fazer conseguia diluir ou explicar.
Até que um dia, a família foi passar férias no nordeste.
Alugaram um carro e começaram a explorar todo o litoral de Alagoas e Sergipe.
Quando entraram numa trilha de dunas, o carro quebrou. Fazia um calor
insuportável e eles tiveram que caminhar até uma vila que ficava a 3 km dali.
Enquanto caminhavam uma das filhas passou mal, estava tendo uma insolação bem
forte e desmaiou. Eles ficaram desesperados até que o marido avistou uma
pequena casa de barro perto da estrada por onde caminhavam. Foram até lá e
levaram a filha desmaiada. Na casa morava uma família pobre, paupérrima, de
cinco filhos pequenos. A mulher cuidou da menina fazendo um chá de ervas e
colocando na frente do rosto adormecido da pequena que começou a melhorar.
Então a mãe da menina olhou em volta e viu o verdadeiro rosto
da pobreza. A família não tinha o que comer todos os dias, o pai era pescador
mas nem todos os dias trazia peixe. Os filhos mais velhos tinham que caminhar,
descalços, por quase 10km para a escola mais próxima. Tudo era surreal.
E nesse momento, como por um mistério inesgotável do coração
humano, a mulher teve o pensamento, o ato gratuito de ajudar essa e muitas
outras famílias.
Não descansou até concretizar um projeto que tinha de ajuda e
assistência social para as famílias carentes do nordeste. Abriu uma ONG e
começou a procurar sócios e patrocinadores. Em menos de um ano, sua instituição
começou a construir casas para essas famílias, escolas, creches e o mais
importante, criar fontes de trabalho através de pequenas empresas que ela
ajudou a se estabelecer na região. Com um choque de realidade, lhe veio um
pensamento, um ato gratuito para poder, com humildade e sem medos, ajudar a
milhares de pessoas. Isso é um exemplo de ato gratuito.
A mulher que sempre achou que faltava algo na vida dela,
nunca mais teve essa angustia. Com seu ato gratuito, sua vida ganhou em
humanidade e solidariedade.