sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

ALMA, A FILHA DO DESTINO (CAP. VII PARTE II)



Para surpresa de todos os que a conheciam, Margarete Brigny voltou ao trabalho dois dias depois do funeral do seu único filho. O trabalho era o seu antidoto contra a tristeza. Ela se recusava a chorar, se recusava a se lamentar. Tinha uma vida, agora sozinha e nela estava o único caminho que tinha para trilhar por um futuro, bem, incerto talvez, mas isso não importava. Agora tinha que tocar o negócio, tinha que continuar viajando a Saint Assise, tinha que cumprir com os pedidos da loja, tinha que continuar vivendo.
Nessa manhã chuvosa, ela atendeu alguns clientes e enviou muitos pedidos. Contratou um rapaz cheguem chegado de Nantes, chamado Luc Garry e mais uma moça do mesmo bairro, Montmartre: Isabelle.
- Isabelle, por favor, entrega isso a Madame...- Ela viu Gerard na porta de entrada tentando deixar o guarda-chuva em algum lugar.
- Bom jour, Madame Brigny.
- Bom jour Monsieur Dupont, pode deixar o guarda-chuva ai, ao lado.
- Obrigado.
- Quer tomar um café, vamos na sala do lado, conversaremos mais tranquilos.
- Tudo bem. Obrigado.
Entraram numa pequena sala minúscula, cheia de livros, anotações. Margarete serviu o café ao Gerard e sentou-se diante dele.
- Como vai Margarete?
- Dentro de tudo, bem. Voltei com tudo ao trabalho. É o que me resta, não é?
- Sim, é o que resta – disse algo pensativo - , a senhora é muito forte, percebe-se. Eu sempre admirei pessoas fortes, pessoas que enfrentam tudo o que a vida lhes oferece, tanto de bom como de ruim, e conseguem viver com a mesma sabedoria, com mais cansaço, talvez, mas com muito garbo.
Margarete tomou seu café e olhou para o pai de Claire.
- Obrigada. Como está a nossa menina? Com toda esta confusão, esqueci-me dela e nem tive tempo de visita-la.
- Madame, é ela quem deve vir visita-la, mas estou preocupado com ela.
- Por que?
- Ela não sai do quarto há mais de duas semanas, desde que voltou de Saint Assise, e está imersa, temo, num quadro de depressão agudo.
- Pobre menina. Temos que tirá-la desse ambiente.
- Sim, por isso vim. Me perdoe, eu sei que a senhora está passando por um momento muito forte e tem que lidar com sua perda que é inimaginável, mas, Margarete, eu não sei mais a quem pedir ajuda.
- Não se preocupe – disse Margarete quase sorrindo – eu irei vê-la amanhã e tentarei falar com ela.
- Obrigado, Margarete, obrigado. Eu, eu nem sei como lhe agradecer. Somos nós que devemos lhe dar toda a ajuda possível.
- Mas nós somos fortes, Gerard. Ela não. Ela já passou por muita coisa e só tem dezoito anos.
- Estamos mais calejados com a dor, não é Margarete?
- Sim, monsieur Dupont. Devemos ajudar Claire. Ela precisa de nós. Fez bem em vir me ver. Minha dor e minha perda serão de alguma utilidade para a pequena Claire.

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